O capítulo do senhor e da senhora San Martín

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Lilian batia as unhas pintadas de uma cor nude na mesa marrom escura que a separava do senhor Giorgine, ela o encarava com as pernas cruzadas enquanto ele a encarava com as sobrancelhas, já grisalhas, franzidas.

— Eu não sabia que advogados poderiam visitar a esse horário — espreguiçou-se ele voltando os olhos para o relógio de parede do cubículo que estavam, marcava onze da noite.

— Não podem, essa é uma das vantagens de ser Lilian Koch. Vim porque queria conversar com você.

Senhor Giorgine se ajeitou mais uma vez na cadeira, não tinha sequer como agradecer por tudo que Lilian fez por seus filhos — por ele mesmo não interessava.

— Mateo, diga-me algo, fora dinheiro, que você ame muito — ela disse parando o barulho irritante das unhas na mesa.

— Minhas crianças — disse ele, mas semicerrou os olhos, pensativo.

— O que mais amo é meu filho. Esse amor nos faz fazer coisas estúpidas, não? No teu caso, roubar indiretamente um banco e ser preso por corrupção — senhor Giorgine engoliu a seco as acusações de Lilian, se não fora por amor a família que ele estava ali, pelo que mais seria? — No meu caso o amor que sinto por meu filho me fez ser uma advogada odiada por todos.

— Lilian, onde pretende chegar?

Ela colocou as madeixas douradas atrás da orelha e deu um sorriso de lado.

— Eu poderia ser uma advogada que ganha muito dinheiro para trabalhar por homens como você, mas isso nos faria estar na mesma posição. Seria rica, poderosa, mas quando descobri estar grávida, mudei todo meu modo de pensar. Então eu escolhi ser uma advogada que odeiam, esse seria a única forma de demonstrar meu amor ao meu filho.

— Ser odiada não teria o efeito contrário?

Ela negou com a cabeça e também assentiu, era controverso.

— Quando escolhi ser quem sou, escolhi porque fiquei com medo do que fariam com meu filho se eu fosse envolvida com políticos, homens ricos e poderosos. Posso ser odiada, mas também sou temida, ninguém mexeria com o filho da "advogada que acaba com a carreira de homens como você".

Mateo havia de concordar, devia ter ouvido aquilo antes de tudo. Antes de decepcionar toda sua família.



Ao fim da apresentação de balé todos foram para o apartamento vinte e um, apesar de que o AP3 (nome dado por Abraham designando seu próprio apartamento) era o maior. Ao chegarem sugeriram que pedissem uma pizza ou comida chinesa, mas Mia logo se despediu dizendo estar cansada.

— Mia, são oito da noite — respondeu Ethan se levantando da poltrona.

— Estou cansada — ela murmurou ano notar todos os olhos sobre ela.

Mesmo com muita insistência Mia não ficou, não queria ficar, queria ficar sozinha, pediu a Angel e Lucas que naquela noite dormissem no mesmo quarto pois não estava se sentindo bem para ouvir conversas durante a madrugada, disse tchau, fora embora e se trancou no quarto. Laura não demorou a aparecer para entender o que estava acontecendo.

Como poderia explicar algo que nem ela sabia direito?

— Lau, eu a vi — Mia começou andando de um lado para o outro do quarto, tentava controlar o cabelo que voava por conta do vento do aquecedor.

— Pião, isso é impossível, eu a sigo no instagram, ela não está nem perto daqui — Laura disse tentando consolar a amiga.

Mia mordeu o lábio inferior, ela ficaria louca? Não sabia mais distinguir o que era real ou não?

Entre nós e laçosOnde histórias criam vida. Descubra agora