Entre nós e laços

O capítulo do irmão da Julieta

O escritório do senhor San Martín era moderno e bastante confortável em todos os sentidos, cadeiras acolchoadas, janelas com grandes cortinas que ora ou outra eram abertas e deixavam a luz natural da grande cidade entrar. As cores eram fracas, cores nudes e sem muito brilho, seu gosto parecia bastante com o de Mia, fora o que Ethan pensou.

Don estava sentado na cadeira do outro lado da grande mesa de madeira cheia de papéis em pastas com a logomarca do grupo Gabus, não era difícil reconhecê-la, ele mexia-se de um lado para o outro na cadeira giratória enquanto buscava algo nas gavetas. Ethan sentia os pés e mãos formigarem de nervosismo, a garganta estava seca e parecia arranhar toda vida que ele engolia saliva.

Estava inquieto, de fato era isso. Olhava as paredes cor de gelo acinzentado com alguns poucos quadros que, não precisava saber quem eram os artistas, deveriam valer um bocado. O único barulho era do tique-taque do relógio e bem do aquecedor.

Senhor San Martín finalmente pareceu encontrar o que buscava, deu um suspiro e colocou um charuto na frente de Ethan como quem o convidasse a acompanhá-lo, já que ele também segurava um, mas Ethan educadamente o negou, sequer sabia como fumar isso. O senhor usou o cortador e acendeu o charuto, soltava fumaça vez ou outra, observar aquela cena fez Ethan dar um sorriso de lado e franzir a testa; não entendia muito de doenças, mas não parecia nada certo ou saudável uma pessoa que acabara de sair do hospital fumar tabaco.

— Então — começou Don finalmente virando para os olhos azuis-escuros de Ethan —, há alguns anos quando você foi embora muitas coisas aconteceram com minha filha.

Ethan mordeu o lábio escutando atenciosamente, estava com medo mas também tinha interesse.

— Como por exemplo eu mandá-la a um internato — Don continuou —. Claro que em meus planos usuais jamais faria isso, acho patético como alguns pais tentam se livrar dos filhos a todo custo para poder viverem uma vida que não os pertence mais. Se eu não quisesse minha filha não teria a tido, certo, Ethan?

O garoto de cabelo espetado apenas assentiu com a cabeça. Senhor San Martín parecia um clichê de filme americano fumando um charuto e usando sua camisa de lã.

— Especialmente porque sou rico, e ricos fazem qualquer coisa. A verdade é que Mia se sentiu muito sozinha... Sem você, sem mim... Quais opções eu tinha se não mandá-la para uma escola que eu sabia que a criaria como eu gostaria? Você a deixou e pouco tempo depois ela precisou de você desesperadamente, mas você foi tão egoísta que não deixou um sinal para ser encontrado, não é?

A verdade é que Ethan não sabia muitas coisas sobre a relação de Mia e Scar, mesmo tendo muito interesse nisso poucas coisas sabia, especialmente por Scar não gostar de falar disso.

Mas ele não era egoísta, Scar também não, isso ele sabia perfeitamente, mas não poderia discutir com o senhor San Martín por questão de não ter conhecimento.

— E então você começou uma repetição de erros tão ridícula que mal pude acreditar — Don levou os dedos finos a testa, parecia se certificar de falar exatamente o que pensava —, eu deveria ressaltar quão impudente você foi com uma garota como minha filha, e fiz questão de saber que não encontraria outra como ela.

A última frase do senhor San Martín fez Ethan cerrar o punho. Pouco importava o que Scar tinha feito — mesmo Ethan sendo apaixonado por Mia —, dizer palavras tão grosseiras era realmente importante? A primeira vez que se "viam" em dez anos e as primeiras palavras que queria dizer era protestar uma atitude de um garoto de dez anos?

— Senhor... — dissera Ethan mas fora interrompido pelo longo dedo branco de Don entre eles dois, então ele se calou e cruzou os braços.

— Claro que eu não deveria dizer isso para você, um garoto qualquer de um interior que não importa, filho de um militar que, de acordo com o que sei, não está mais entre nós. Não me entenda mal, essas palavras não foram para você, foram para Scar.