"Eu poderia acordar sem teu olhar de sono
Sem teu lábio que é dono
Mas eu não quero
Eu não quero."
As mão de Giovanna envolvia a minha enquanto íamos pro meu apartamento. Não disse nenhuma palavra e ela entendeu o meu silêncio. Melhor que isso, ela o respeitou, de um jeito que ninguém nunca tinha feito. Virei meu rosto pra olhar a menina que estava focada no trânsito do Rio. Sorri e me permiti ficar olhando pra ela. Eu estava em paz.
Não demorou muito pra chegarmos, paguei e subimos, ainda em silêncio. Em alguns momentos a peguei querendo falar alguma coisa, mas nada veio. Abri a porta e deixei ela entrar primeiro, entrei logo atrás e fechei a porta. Giovanna já tinha ido pro quarto, me sentei no sofá e fechei os olhos. As palavras ditas ecoavam pela minha cabeça, mas ainda sim eu estava em paz.
Ainda de olhos fechados eu senti quando ela chegou perto, seu perfume entrou em minhas narinas e logo senti seu corpo sobre o meu. Ela tinha sentado em meu colo, de frente pra mim. Abri os olhos e encontrei os castanhos do dela. Eu precisava agradecer, qualquer outra pessoa que estivesse no lugar dela hoje já teria ido embora. Ela não.
– Obrigado.
– Pelo o que?
– Por estar lá comigo, e por querer estar comigo.
– Não me agradeça por isso. – Sorriu.
– Eu preciso, Grigio. – Falei – Eu sou toda essa bagunça e ainda sim você quer ficar. Eu tenho todas as questões com o meu corpo, todos os meus problemas e ainda sim você quer ficar. Eu tenho todo um passado errado, tentativas de suicídio, mas ainda sim você quer ficar. Eu não te dei abertura por quase um ano e ainda sim você não desistiu. – Passei uma mexa do cabelo dela por de trás da orelha – Onde foi que eu acertei pra merecer você na minha vida?
– Você acertou em me deixar entrar.
Ela sorriu e segurou meu rosto com as duas mãos, em seguida me beijou. Lento e calmo, sem nenhum teor sexual.
– Eu adoro estar assim com você, mas eu preciso perguntar. – Falou e eu a encarei, já sabendo do que se tratava – Você tá bem?
– Por incrível que pareça, sim. – Respondi, sincero – Eu sempre imaginei encontrar ele, só não esperava que fosse acontecer assim, daquele jeito, e principalmente, lá. Eu falei tudo que estava entalado na minha garganta e tudo que eu carreguei nas minhas costas esse tempo todo. Ele é meu progenitor mas nunca foi meu pai, foi bom colocar um ponto final nessa história.
– Não tem perigo dele voltar a te procurar?
– Ele é muito orgulhoso, então acho que não. – Ri – Eu só puxei dele o orgulho, mas ainda sim não machuco as pessoas com ele.
– Você foi forte, Manoel, eu fiquei orgulhosa de você.
– Sinceramente? Eu só tive coragem de falar tudo o que eu precisava porque você estava do meu lado, segurando a minha mão. – Brinquei com a barra da sua blusa – Ter você do lado mudou o rumo das coisas, me fez forte. Sério, Giovanna, obrigado por não ter desistido de mim.
– Nem se eu quisesse eu ia conseguir desistir de você, menino. – Abraçou o meu pescoço com os braços – Como diria aquele duo: Porque eu te amo e não consigo me ver sem ser o teu amor por anos, não é acaso, é só amor, não existe engano que me carregue pra longe, que te faça outros planos, meu bem, teu cheiro só tu tem, tua boca só tu tem, me tem.
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Stranger.
Fanfiction"Para Manoel, um garoto transexual de 24 anos, o amor não era algo que existiria em sua vida. Após se assumir para os pais como o homem que é e sempre foi, foi expulso. Deixou seu novo e machucado coração criar uma barreira gigante, não queria e nem...