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– Amor? – Manoel me chamou, virei meu rosto pra encara-lo – Tá com fome?

Já era quase uma da tarde e ainda estávamos na cama, aproveitamos a manhã pra ficarmos agarradinhos e também pra conversar sobre vários assuntos aleatórios, e também sobre coisas que eu só converso com ele.

– Até que sim e você?

– Um pouco. – Sorriu – Vamos na lanchonete aqui na rua do lado?

– Essa aqui em frente é melhor, amor.

Manoel me olhou um pouco confuso, já que toda as vezes eu sempre escolhia lanchonete na rua do lado.

– Mas você prefere a comida dessa aqui da frente... – Ele falou.

– Eu gosto das duas, amor.

– Certeza? – Ainda confuso.

– Sim.

–Então tá bom.

Ele ainda não estava 100% convencido mas acabou cedendo, foi pro banheiro pra tomar um banho e eu fui pra sala. Me sentei no sofá e peguei meu celular pra dar uma olhada nas redes sociais, meu ótimo stories tinha sido a quase 24 horas atrás e eu precisava pelo menos dar um “olá, estou viva” pra todas as pessoas que me seguiam.

Em menos de 20 minutos Manoel já estava pronto, pegou sua carteira e eu peguei minha bolsa. Saímos do apartamento e fomos para o elevador, ficamos de mãos dadas aproveitando a descida e a companhia um do outro. Assim que a porta abriu meu corpo simplesmente não respondeu mais, a mesma sensação inundou meu corpo e eu não fui capaz de fazer mais nada, Manoel tinha começado a andar mas parou quando percebeu.

– Gi? – Me chamou – Você tá bem?

Me lembrei imediatamente que tinha visto o pai dele parado na esquina, eu deveria contar pra ele é claro, mas eu não faria isso na porta de um elevador.

– Eu mudei de ideia, não quero mais sair, podemos comer alguma coisa no seu apartamento mesmo? – Perguntei olhando pra ele.

– Claro que sim.

Ele entrou de novo no elevador e apertou o botão para o seu andar. Ele ainda segurava minha mão e eu já sentia ela suar. Não sei qual seria a sua reação e principalmente, não queria que ele ficasse mal por causa disso. Nossa tarde de ontem tinha sido tranquila e gostosa, queria que continuasse assim.

No exato segundo em que entramos no apartamento eu comecei a me preparar pra falar com ele. Me sentei no sofá e ele veio atrás, se sentou ao meu lado e ficou me olhando.

– Você sabe que eu não crio rodeios pra falar contigo, então eu vou ser bem direta. – Comecei e ele ficou me observando – Eu vi seu pai hoje na hora que cheguei aqui no seu prédio.

Manoel abriu a boca pra falar alguma mas desistiu, continuou me olhando com um semblante que eu não sei decifrar qual. Ele respirou fundo e começou a falar.

– Onde você viu ele?

– Aqui na esquina.

– O que ele estava fazendo? – Perguntou.

– Ele estava parado na esquina só observando seu prédio.

– Ele te viu?

– Não... – Falei – Ele estava mais preocupado em olhar fixamente pro seu prédio.

– Meu Deus, Gi... – Respirou fundo – Você tem certeza que é ele?

– Eu tenho.

Respondi e ele ficou em silêncio, não fazia ideia do que estava se passando dentro de sua cabeça, mas boa coisa não era.

– Não tem como eu estar enganada, amor. – Falei tomando a atenção dele pra mim – Posso ter visto ele apenas uma vez por alguns minutos, mas pode ter certeza que não é alguém fácil de se esquecer, digo dá pior forma possível.

– É, eu te entendo perfeitamente.

– Lembra da última vez que eu te disse que estava com uma sensação estranha? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça – Eu estou sentindo a mesma coisa desde cedo, então por favor, se você for sair pra comprar comida ou passear pelo seu bairro, toma cuidado.

Praticamente implorei ao meu namorado que deu um sorriso doce e pegou minhas mãos.

– Gi... – Apertou-as – Não vai me acontecer nada, fica tranquila.

– Eu tô rezando por isso, amor, mas faz o que eu te pedi.

– Eu vou tomar cuidado, pode deixar. – Deu mais um sorriso – Agora vamos esquecer essa história e aproveitar nosso tempo junto.

– Vamos.

Eu queria tanto acreditar no Manoel quando ele disse que não aconteceria nada, eu queria esquecer que ele estava aqui na rua apenas observando seu prédio. Todo o meu corpo me implorava pra ficar atenta porque essa volta repentina do pai dele não traria coisas boas e é nítido o que aconteceria algo ruim. Eu me considero uma pessoa confiante e otimista, mas nesse caso não consigo ser esse poço de confiança e otimismo.

20:48.

Manoel estava deitado no meu colo enquanto eu mexia em minhas redes sociais, ele estava terminando um dos seus livros. Eu estava concentrada até que ouvi meu namorado falar comigo.

– Você acha que a minha mãe ou até o mesmo o Henrique deu meu endereço pra ele? – Perguntou - Porque pensa comigo, amor, não teria como ele conseguir se não fosse desse jeito.

– Se formos olhar por esse lado, é mais provável sua mãe ter dado seu endereço. – Fui sincera – Ele sabe como seu pai é um assunto doloroso pra você, então eu acredito que ele não tenha feito isso.

– Eu aprendi a não colocar a mão no fogo por ninguém, amor.

Assenti com a cabeça e fiz um carinho com meu dedão em sua mão.

– Porque você não liga pro Henrique e pergunta? – Dei a opção.

– É, pode ser.

Ele soltou minha mão e se levantou pra ir pegar o seu celular no quarto. Alguns segundos depois voltou e se sentou de novo ao meu lado.

– Põe no viva voz, por favor. – Pedi.

Ele sorriu e ligou pra ele, chamou algumas vezes até ele atender.

– E aí, Manoel. – Falou.

– Oi, Henrique.

– O que devo a honra? – Perguntou.

– Então, eu só quero te fazer uma pergunta e preciso que seja sincero comigo... – Meu namorado falou e logo ouvimos um “tudo bem” – Você por acaso deu o meu endereço pro nosso pai?

– Não, irmão. – Disse e Manoel me olhou – Eu nem tenho mais contato com ele.

Manoel ficou em silêncio, provavelmente não acreditando e ficou pensando por alguns segundos que falar e se valia a pena insistir pela a verdade.

– Porque? – Henrique.

– Giovanna viu ele parado na esquina do meu prédio.

– Da nossa família só eu e a minha mãe que sabemos onde você mora?

– Exato.

– Então você já tem a sua resposta, irmão.

– Puta que pariu.
Manoel se despediu de Henrique e desligou o telefone, me olhou e voltou a falar.

– Quando eu penso que vou ter uma semana de descanso, sem precisar pensar em problemas e em pessoas que não fazem mais parte da minha vida, isso acontece. – Falou.

Eu não soube o que falar, apenas puxei meu namorado pro meu colo. Eu não conseguia imaginar o quão doloroso era isso, e eu faria o possível pra distraí-lo da possibilidade de encontrar com o maior causador de sua infelicidade.


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E aí, caralhaaaa

5/7...

Eu não vou dizer nada sobre esse capítulo e nem sobre os dois últimos.

Até amanhã, meus amores.

Eric.

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