40.

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Um silêncio ficou pairando no ar e eu estava extremamente chateada comigo mesma, embora eu tenha concordado sem pensar, eu sei o quanto isso afeta o Manoel. Eu estava curtindo umas publicações no Instagram e acabei falando a primeira coisa que veio a minha cabeça, sem pensar no que isso significaria pra ele.

Ele passou por mim e foi para o quarto, visivelmente chateado comigo, não disse uma palavra sequer mas deixou a porta aberta, talvez seja um bom sinal ou apenas esquecimento. Eu preciso me redimir e falar o que sinto, não posso apenas deixar isso pra lá e esperar.

Levanto-me e vou até a porta, o encontro parado em frente à janela com a garrafa de água na mão. Ele estava de costas pra mim, observando concentrado o emaranhado de prédios que tem ali. Permaneço parada no mesmo lugar, com duvida se me aproximo ou não. Sentia o medo da rejeição correndo em minhas veias e se isso acontecesse, eu não poderia julga-lo.

Respiro fundo e dou duas batidinhas na porta. Eu respeitaria seu espaço, mas ainda sim tentaria uma conversa.

– Podemos conversar? – Perguntei tendo medo da resposta.

Manoel vira um pouco o rosto, o suficiente pra me olhar por cima dos ombros, mas não diz nada, respiro fundo novamente.

– Por favor, Manoel... – Implorei.

Ele deu de ombros e eu entrei no quarto.  Me sento na beirada da cama e ele permanece imóvel de costas pra mim.

– Eu só quero te pedir desculpas e dizer que estou tão chateada quanto você... – Digo esperando ele dizer alguma coisa, mas ele fica calado ainda de costas pra mim – Nós vamos ter mesmo essa conversa com você de costas pra mim?

Pergunto já pensando em desistir e ele se vira lentamente, se apoiando em seguida na janela. Ele me olha como se tivesse cansado de ter esse tipo de conversa com quem quer que seja.

– Pronto, estou te olhando. – Ele diz – E agora eu quero que você me explique, como que você pode estar tão chateada quanto eu?

– Eu estou chateada porque sei o quanto isso te destrói... – Falei calmamente.

– E como você tem tanta certeza disso?

– Porque eu vejo todos os dias. – Ele me olhava desconfortavelmente – Você passa o dia e noite usando os seus binders, eu vejo você lidando com a falta de ar repentina e as dores nas costas. Você não consegue ficar 5 minutos que seja sem isso colado em seu corpo, e quando acontece de você ficar, é como se você não existisse. Você tem dificuldades de ficar sem ele até mesmo aqui no seu apartamento ou perto de mim.

– E mesmo assim você não sabe tudo o que eu sinto.

– Você se lembra daquele dia, semana passada, que você acordou com seu binder solto? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça – Então, fui eu quem abri, eu acordei de madrugada e vi que você estava com a respiração muito ofegante e fiquei com medo de você ter uma falta de ar e parar de respirar uma hora ou outra. Sem contar que quando abri, eu vi as marcas nas suas costas e costelas. Apesar de tudo que disse, você tá certo, eu realmente nunca vou saber tudo o que você sente.

Digo isso olhando fixamente pra ele e sinto que isso o deixou perplexo.

– Mas, você chegou a ver...?

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