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Um ano depois.

Desliguei o telefone e respirei fundo, olhei para as minhas mãos e elas estavam tremendo levemente. Me levantei da cama e caminhei até a porta do quarto, me escorei nela e vi minha namorada entretida no celular, dei um sorriso sentindo meu coração se encher de felicidade. Eu estava conquistando meus sonhos, um por um, e com Giovanna ao meu lado. Desbloqueei meu celular e abri a câmera, tirei algumas fotos da minha namorada distraída, provavelmente estava no twitter ou conversando com alguma das amigas, porque ela estava com um sorriso gostoso nos lábios.

Alguns segundos depois ela levantou a cabeça e nossos olhares se cruzaram, ela tirou o fone de ouvido ainda sorrindo e eu continuei tirando fotos. Ela fez algumas poses me fazendo rir, bloqueei o celular e coloquei no bolso do short.

– Você está aí tem muito tempo? – Perguntou, curiosa.

– Não, tem menos que cinco muitos.

– Porque não me chamou? Eu estava tão distraída que nem te vi parado aí, amor.

– Eu percebi isso mesmo... – Ri – Estava tão bom te olhar sorrindo que eu decidi tirar algumas fotos.

– Me mostra?

Me desencostei da porta e fui até ela, me sentei ao seu lado e entreguei meu celular. Ela começou a olhar as fotos e eu me perdi olhando para ela, eu não me cansava.

– Eu vou mandar pra mim... – Comentou e continuou olhando as fotos – Você só tem foto minha nesse celular, Manoel?

– Um pouco, porque? – Dei de ombros, era obvio que eu tinha muito mais fotos dela do que minhas.

– Um pouco? Meu amor, dá para contar nos dedos das mãos as suas e olha que você tem quase quinhentas fotos.

– Você é a minha musa, amor... – Falei – E eu não me canso de enaltecer você e a sua beleza estonteante, eu realmente tenho muita sorte.

Giovanna abriu um sorriso e colou nossos lábios em um selinho.

– Eu te amo tanto, Manoel. – Ela falou baixinho, como se me contasse um segredo e eu viveria para ouvir isso outras vezes.

– Eu amo você, meu amor. – Colei nossos lábios em mais um selinho – Eu quero te contar uma coisa.

– O que?

– Um rapaz me ligou há alguns minutos atrás pra falar que a minha certidão está pronta... – Falei e sorri, Giovanna abriu a boca chocada, mas não demorou muito para sorrir grande.

– Meu deus, amor, eu estou tão feliz por você. – Me abraçou forte – Você merece tanto.

A abracei de volta e me deixei ficar emocionado, a nossa felicidade era palpável.

– Eu sei e obrigado por tudo e por tanto, amor.

Ela me soltou e olhou no meu rosto, eu conseguia ver o quão emocionada ela também estava.

– O rapaz me ligou para avisar e perguntar se eu queria ir busca-la ou se eu preferia receber aqui em casa... – Giovanna me olhava atenta – Acredito eu que daqui uns minutos ela chega.

– Meu Deus, Manoel, a gente precisa comemorar, não podemos deixar passar em branco.

– Sim, amor. – Sorri vendo sua animação – Vamos chamar o Henrique e a sua mãe.

– A gente sai para algum restaurante ou você prefere barzinho? – Questionou.

– Eu prefiro que você escolha, amor, eu sou um desastre nisso.
– Barzinho, petiscos e cerveja! – Giovanna gritou rindo.

– Barzinho, petiscos e cerveja! – A acompanhei.

Ficamos rindo por alguns segundos e Giovanna foi ligar para minha sogra e eu para o meu irmão. Ambos ficamos conversando ao celular por alguns segundos combinando tudo direitinho até o interfone tocar. Ela me olhou e deu um grito mudo. Me despedi de Henrique, me levantei e caminhei até o interfone sentindo minhas pernas bambas. Atendi e era o Sr. Miguel, ele me disse que tinha um rapaz com uma encomenda e perguntou se poderia deixar subir, dei a permissão e agradeci. Coloquei o telefone no lugar e me virei para olhar minha namorada.

– Chegou... – Falei e me escorei na parede.

– Calma, amor... – Ela se levantou e veio até mim, me abraçando pela a cintura.

Ficamos alguns segundos abraçados até baterem na porta, ela me soltou e sorriu. Retribuí o sorriso e fui atender a porta. Peguei o envelope a agradeci o rapaz que estava entregando, fechei a porta e fui para o quarto acompanhado de Giovanna.

– Pronto?

Ela perguntou baixinho me fazendo olha-la, fiz que sim com a cabeça e abri o envelope, tirando de dentro minha certidão nova. Passei meus olhos por ela toda, ainda tentando acreditar que ela estava em minhas mãos. Foquei no meu nome, que agora estava Manoel Aliperti França Domingues, abaixei um pouco mais meus olhos e vi masculino no gênero.

A sensação de liberdade que ouvi de outros meninos tomou conta do meu corpo e eu me permiti desabar no colo da minha namorada, era um choro de libertação. Giovanna passava a mão no meu cabelo e falava que eu merecia isso e muito mais, me fazia acreditar e chorar ainda mais.

“Enfim a liberdade me ouviu
E abriu aquela caixa onde eu estava
Tentei voar, mas minhas asas não funcionavam mais
Eu passei tanto tempo ali
Tanto tempo que desaprendi
A liberdade me chamou de canto e disse assim
Não deixe nada te dizer quem você é
Você é o que vê em mim...”

Atualmente.

Eu tinha acabado de chegar em frente à minha casa depois de uma gravação noturna, estava me sentindo um pouco cansado, mas estava realizado por estar fazendo o que tanto amo, que é atuar. Eu tinha conseguido um papel em uma série da Globo que passava duas vezes por semana após as onze horas da noite. Abri a porta de casa e entrei, era uma das coisas que eu mais amava fazer: chegar do meu trabalho e saber que Giovanna estaria em casa.

– Amor? – A chamei, mas não obtive resposta.

Coloquei minha mochila no sofá e fui até minha namorada, ela estava trabalhando no escritório, focada em terminar de escrever seu primeiro livro. Abri a porta e a vi, com fone de ouvido e distraída digitando, observei que ela tinha comprado alguns doces, então ela provavelmente estava a bastante tempo lá. Sorri e fechei a porta de novo, desbloqueei meu celular e mandei uma mensagem para ela, avisando que já tinha chegado em casa e que iria tomar um banho. Coloquei na minha playlist do spotify e abri o guarda-roupa pra pegar um short de dormir, uma camiseta larga que tinha o cheiro de Giovanna, ela usava minhas roupas pra dormir também, esquecendo que a mesma tem vários pijamas, mas eu que não reclamo.

Fui para o banheiro e me permiti relaxar por alguns longos minutos, lavei o cabelo, fiz toda a minha higiene, vesti minha roupa e fui para a cozinha procurar alguma coisa. Abri a geladeira e me distraí com as coisas que tinha para comer.

– Será que eu faço um omelete? – Falei comigo mesmo – Não, já passou de uma da manhã, é muito pesado.

– Toma um iogurte. – Giovanna falou – Ou come aquelas torradinhas com patê de azeitona que você gosta.

Dei um sorriso e me virei pra vê-la.

– Eu realmente não sou nada sem você, Giovanna.

Peguei o patê de azeitona e o suco de manga, fechei a geladeira e caminhei até a bancada. Giovanna pegou dois copos, pratos, colheres e as torradinhas, colocou as coisas na bancada e veio até a mim.

– Como foi as gravações, amor? – Perguntou enquanto me abraçava.

– Mais tranquilas do que eu esperava, amor. – Respondi e comecei a servir o suco – E as que você tinha?

– Eu gravei duas cenas, uma foi tranquila e rápida e a outra foi complicada, tivemos que refazer várias vezes. – Me contou.

– Amanhã você tem gravação?

– Não, amor e você?

– Deixa eu conferir, mas eu acredito que não.

Peguei meu celular e abri o calendário, sorri comigo mesmo vendo que hoje faz um ano que retifiquei minha certidão.

– Hoje faz um ano, Gi.

– Do que? – Ela me olhou enquanto comia torrada.

– Um ano que eu peguei minha certidão nova.

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