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Manoel Aliperti.

A primeira coisa que vi ao abrir meus olhos foi o teto branco do lugar que eu estava. Minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento, fechei meus olhos e tentei me mover, mas parei assim que comecei sentir as dores em meu corpo. Elas me faziam lembrar do acontecido de algumas horas atrás, dos socos, chutes e das risadas que eles deram quando caí ao chão.

Abri meus olhos e foquei no branco do teto, deveria ter alguma paz escondida dentro de mim, ou em qualquer outro lugar pra evitar que eu desmorone em algum momento.

– Manoel?

Ouvi a voz de minha namorada e eu não sabia dizer se era minha imaginação pregando alguma peça estúpida ou só a minha vontade de tê-la por perto.

– Meu Deus, Manoel... – Ela parou do meu lado e tocou levemente meu ombro, sua mão trêmula e levemente molhada trouxe a paz que eu estava falando – Mãe, chama a enfermeira, o médico, a porra toda.

Foi inevitável não dar uma risada diante ao que ela disse. Ela me olhou com ternura e sorriu, a mão que estava em meu ombro permaneceu lá e outra veio para meu rosto, iniciando um carinho calmo.

Seus olhos estavam brilhando e já podia ver algumas lágrimas se formando, mas ela ainda sorria e eu me deixei admirar a obra de arte que é Giovanna. Eu sou tão apaixonado e sei que meu sentimento é correspondido da forma mais linda que poderia ser.

– Eu te amo. – Falei e Giovanna abriu um sorriso largo – Obrigado por ficar comigo e desculpa, eu não deveria ter saído... – Assumi – Se eu não tivesse saído não teria acontecido isso e eu meio que acho que a culpa foi minha, eu deveria ter te escutado.

Ela quebrou o sorriso e assumiu uma postura séria, mas os carinhos continuavam.

– Você nunca mais diz isso... – Falou – O que aconteceu contigo foi uma covardia sem tamanho e não é culpa sua, de forma alguma, entendeu?

– Foi o meu pai, Gi.

Ela fez uma carinha confusa por um breve segundo até abrir a boca em choque. Ela ia dizer alguma coisa, mas foi impedida por um barulho de porta abrindo e pela enfermeira, minha sogra, Henrique e Helena.

Ela disse os meus resultados e eu estava aliviado por não ter sido pior que isso, eu pensava que não sobreviveria, na verdade. Quando você está no chão e tem alguém chutando sua cabeça com ódio, não tem outra palavra, você não consegue enxergar uma luz no fim do túnel.

– E como você está se sentindo? – A enfermeira perguntou.

– Minha cabeça parece que vai explodir em qualquer instante e meu corpo não tem uma parte que não esteja doendo. – Falei – Tirando isso, eu estou bem, porque tô vivo.

– Isso é o mais importante, Manoel, e estamos aqui pra auxiliar na sua recuperação.

– Eu agradeço.
– Você ficará em observação por 72 horas, pra termos certeza de que você não ficará com nenhuma sequela. – Ela disse – Irritabilidade, lentidão, memória prejudicada e também a atenção.

– E se eu não tiver nenhuma dessas sequelas?

– Será liberado após as 72 horas.

Ela desejou uma boa noite e saiu, me deixando sozinho com minha namorada, minha sogra, meu irmão e... Helena.

– Helena?

Chamei seu nome, eu estava começando a sentir a raiva tomando conta do meu corpo e eu precisava ficar calmo, porque mesmo tendo passado meu endereço pro Jair, a culpa do que aconteceu não era dela. Ela me olhou e veio até perto de mim.

– Graças a Deus você está bem. – Falou.

– Eu tenho duas perguntas pra te fazer. – Fui direto, ela apenas assentiu com a cabeça – Você deu o endereço de onde eu moro pro seu ex marido? – Perguntei.

– Sim... – Fechei os olhos, sentindo um misto de sentimentos: decepção, chateação e raiva – Ele me ligou já tem algum dias, me disse que queria conversar com você.

Respirei fundo, Giovanna segurou minha mão já sabendo que foi ele quem tinha feito tudo isso.

– Porque diabos você fez isso? – Falei, aumentando o tom de voz no final.

– Ele me disse que queria dar um jeito na relação de vocês, que estava arrependido da forma que sempre te tratou... – Ela disse na defensiva, já sabia que não tinha feito uma coisa boa – Eu acreditei nele e passei, porque as pessoas têm direito a uma chance de mudança.

– Não ele, Helena... – Falei, tentando me manter calmo – E quem decide quem merece uma chance na minha vida, sou eu.

– Calma, irmão... – Henrique tentou – Ela não fez com maldade.

– Não, mas ele sim... – Falei – Foi ele quem me agrediu, com a ajuda de algum amigo.

– O nosso pai? – Henrique perguntou, era visível o espanto em seu rosto – Meu Deus do céu...

– Não, o seu pai.

Helena não esboçou nenhuma reação, e Jane me abraçou de qualquer jeito, porque as dores em meu corpo eram fortes e qualquer coisa as deixavam pior.

– Eu não acredito que ele tenha feito isso, Manoel. – Helena disse e não foi nenhuma surpresa pra mim – Os chute na sua cabeça te deixou confuso e você está arrumando história onde não tem.

– Mãe... – Henrique ia falar alguma coisa, mas eu o interrompi.

– O que você está fazendo aqui, Helena? – Perguntei – Não venha me dizer que é preocupação, porque eu sei que não é.

– Mas é isso. – Ela rebateu – Ou você acha que não tenho sentimentos por você?

– Acho, porque você não tem nenhum resquício de sentimento por mim e nem por ninguém. – Falei – Talvez você sinta algum pouco de amor pelo o Henrique, porque ele é o que você sempre quis e o que você sempre o educou pra ser.

– Você está sendo muito cruel comigo, Manoel. – Se defendeu – Isso tudo é só porque eu não consegui te entender e apoiar desde o começo?

– Isso tudo é porque no fundo você não se esforça nenhum pouco pra me entender e muito menos me apoiar. – Giovanna ainda segurava minha mão – É muito fácil você ir no meu apartamento e dizer que quer uma outra chance, que sente muito e o caralho a quatro, Helena. E é mais fácil ainda você vir aqui no hospital, me esperar acordar pra eu dizer o que aconteceu comigo, quem fez isso comigo e você colocar a culpa em mim, dizer que estou confuso com os chutes que levei.

Senti Giovanna apertar minha mão e vi que Helena ia dizer alguma coisa, continuei antes que ela dissesse.

– Eu me lembro muito bem de tudo o que aconteceu, de cada frase que trocamos e as ofensas também. – Ela cruzou os braços – Lembro da Giovanna me pedindo pra não sair e eu dizendo que iria sim, porque na minha cabeça nada aconteceria e quem me dera que não tivesse acontecido, agora eu estaria tomando a minha cerveja e curtindo a minha namorada como queria, não estaria nessa porra de cama, com dores, hematomas, costela quebrada e todo o resto que você já sabe. – Respirei fundo – Eu não preciso de você me dizendo o que acha que aconteceu, não preciso da sua preocupação falsa de mãe, Helena, portanto, dá o fora daqui.

Ela abriu a boca pra dizer alguma coisa, mas desistiu no mesmo segundo. Giovanna me olhava com o mesmo olhar de ternura e podia jurar que tinha um resquício de orgulho no fundo deles.

– Vamos, Henrique... – Helena disse e foi em direção a porta, meu irmão não deu um passo – Tá surdo?

– Eu não vou com você... – Falou, me fazendo ficar levemente espantado – Você consegue pegar um uber, porque eu vou ficar aqui com o meu irmão.

Ela me lançou um olhar com puro ódio, abriu a porta e saiu, a batendo depois. Ele me olhou me pedindo desculpas com o olhar, eu sabia que ele estava entendendo que não tinha salvação, nem ela e muito menos seu pai.

– Você não pisou com nenhuma bondade, amor. – Giovanna disse rindo e eu me deixei rir também – Desculpa, Henrique, mas...

– Tudo bem, Giovanna. – Ele deu de ombros – Eu acho que me cansei de tentar fazê-la ser mais amável e ter um pouco de empatia, mas não tem como, acho que caí na real.


Eu entendia bem o que ele estava sentindo e sabia também que o quanto antes aceitasse isso, mais rápido você se acostumaria. Certas pessoas, por mais que você queira e que seja doloroso aceitar, não são dignas da gente e nem de nosso afeto. Helena era uma delas e quando eu finalmente entendi isso, foi como se eu me libertasse de algumas amarras.

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E aí, meu amoreeeees.
Como que vocês estão? Eu espero que bem.

O que estão achando da fic até agora?

Respondam o tio aqui.

Até semana que vem.

Eric 🥰

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