Capítulo 3 - Fuga

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No dia seguinte, eu estava trancada em meu quarto. E fiquei lá até o fim da tarde, até a porta ser aberta. Meu pai entrou, e estava bravo. Não tanto quanto ontem, então o negócio dele deu certo.

- É o seguinte — disse Sean, apontando o dedo. Eu abaixei a cabeça, sem coragem para olhá-lo nos olhos — Dessa vez, eu vou deixar passar. Mas se repetir o que fez ontem, saiba que vou fazer algo muito pior do que fiz ontem. Entendeu?

- Sim, senhor... — respondi.

- Você não vai por os pés para fora dessa casa. Até suas aulas começarem — ele continuou — Não vai nem mesmo falar com aquele bando de incompetentes de novo. Você entendeu?

- Sim, senhor... — eu disse.

- Ótimo — ele disse, abaixando o dedo — Viu como é mais fácil. O que aconteceu ontem, foi por sua culpa. E o que aconteceu com sua mãe também. Espero que saiba o que você fez, e que nunca vai sair daqui até eu deixar.

E então, ele saiu. Eu fiquei parada por um momento, com raiva e ódio.

Não foi minha culpa, não foi minha culpa...

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Nos próximos dois dias, eu fiquei quieta. Sem falar uma única palavra a menos que eu fosse perguntada. E realmente não podia sair, ou meu pai me matava. Ele tirou meu computador, e até me proibiu de ver televisão. Eu estava realmente trancada naquela casa.

Mas eu estava com um plano em mente. Deitada na minha cama, única coisa que não me fazia surtar era no que eu toda hora pensava.

Em fugir. Mas não para um lugar perto, mas bem longe. Fugir de casa, do mundo, ser outra pessoa. Sair daquela sociedade violenta, e ir para algum lugar que pudesse viver em paz.

No Canadá. Mas ficava a não sei quanto quilômetros, mas eu tentaria. Minha avó disse que estava me esperando. Esperando pelo dia em que eu voltasse...

Aquilo poderia ser uma mensagem? Eu não sabia, mas sei que teria que sair dali de qualquer jeito. Primeiro, precisava de uma ideia de como ir para lá.

A Harley-Davidson do meu irmão! Aquela moto era perigosa, mas também era o único jeito de sair dali.

Segundo, as coisas da moto. Capacete, chave, bolsa e jaqueta, só para combinar. Aquelas coisas deviam estar no quarto do meu irmão. Mas para eu chegar até lá seria difícil, principalmente com meu pai fazendo vigia por 24 horas.

Eu o ouvi sair. Deve estar saindo para algum lugar ou para comprar algo. Aquele seria o momento perfeito.

Saí do meu quarto, e fui direto ao quarto do meu irmão. Eu não poderia perder tempo, cada segundo era precioso.

Entrei, e o quarto era como exatamente estava quando ele saiu. Sua cama de solteiro no canto, as paredes pintadas de branco, tapete no chão ao lado da cama, skates e o guarda roupa de madeira. Eu o abri, e vi que as roupas estavam totalmente organizadas. É bem no meio, no cabide, havia a jaqueta de couro preta, um capacete, as chaves e... uma bolsa?

Ele nunca andava de bolsa quando saía de moto. Era uma bolsa de uma alça, preta também. Por curiosidade, a peguei e a abri.

A primeira coisa que eu vi foi um bilhete, junto com uma arma, pente e dinheiro. Peguei o bilhete, e era diretamente para mim.

Querida irmãzinha,
Se está vendo essa bolsa, quer dizer que finalmente vai sair por aí e viver sua vida. Vai ser duro, mas acredito que você vá conseguir. Quando eu voltar da guerra, quero vê-la de novo, só que independente.
Seu irmão,
Louis.

Quase chorei. Meu irmão já esperava por isso, que eu fugiria cedo ou tarde. Só queria que ele tivesse vivo para ver. Ele não sabia totalmente do futuro.

- Por você — eu disse. Vasculhei o resto, e tinha uma glock 17 e com um cartucho extra. Era a arma favorita dele, e eu pensei muito sobre o assunto. Pegar ou não pegar? Quase fui morta por uma esses dias...

Sem ter tempo, deixei ela ali. Também havia US$ 1000 em dinheiro. Como ele guardou tanto dinheiro, eu não sabia. Peguei tudo, e saí dali. Coloquei minhas roupas ali mesmo, e dei uma organizado rápida. Me troquei, e saí antes que meu pai voltasse, para a garagem.

Mas quando eu desci, me deparei direto com minha mãe. Ela pareceu surpresa, e nos encaramos por um momento.

- Então vai fugir? — perguntou. Eu nunca consegui entender minha mãe, e nem sabia o que ela estava realmente estava pensando.

- Vou — respondi — Aquele homem está ficando cada vez mais violento. Não consigo mais ficar. Preciso viver de verdade.

Foi quando ela finalmente se soltou, e me abraçou. Eu não entendi o que aquilo significava.

- Finalmente — ela disse. Ela sabia? — Sua avó sempre ligou, perguntando se você já tinha saído daqui. Vá, antes que ele... — ele chegou. Merda, demorei demais — Vá. Eu cuido dele.

Corri para a garagem, tranquei a porta que levava até la e tirei o pano sobre a moto. A Harley-Davidson estava exatamente como a vi pela última vez. A coloquei para frente, em direção ao portão, que eu abri. Montei na moto, coloquei o capacete e a liguei enquanto o portão abria. Portão demorado...

- Sophie! — meu pai ouviu, e estava indo diretamente para lá — Desligue essa merda!

Vamos, vamos... Vamos! O portão abriu pela metade, e já me preparei. Meu pai estava batendo na portão, querendo arrombar aquilo. Não iria durar por muito tempo, e preparei o motor. O barulho era realmente alto, e dava para sentir a potência daquela moto.

O portão abriu, e acelerei bem a tempo que meu pai arrombou a porta. Acelerei o máximo que pude, e virei para alguma saída da cidade. Liberdade, finalmente.

Quando saí, sentia o vento balançar meu cabelo que estava fora do capacete. Enquanto eu corria em alta velocidade, me sentia totalmente liberta.

Quando me afastei o suficiente da cidade, parei na estrada para respirar um pouco. Admito que o medo foi insano, e agora não havia volta. Eu deveria me apressar.

Peguei meu celular, a única coisa que consegui levar comigo, e abri o Google Maps. Pelo caminho mais curto, devo atravessar o país inteiro até Vancouver, bem no meio, e eram mais de 3000 km. Deveria arriscar, e era 1 dia e 18 horas até lá. Não seria tão longe assim. Abri o compartimento do banco, e tirei a bolsa para pegar a arma; nunca poderia saber quando eu precisaria.

Subi na moto, e segui caminho. Seria bem longo, e realmente seria uma aventura.

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