Capítulo 7 - Como Uma Familía Deve Ser

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Dez dias. Já estava ali há exatamente dez dias, e a polícia não dava indícios de querer sair da cidade. Mas nesse meio tempo, fui me adaptando a uma nova rotina.

Aquele prédio abandonado até que não era tão ruim. Fui ajudando as pessoas daquele lugar, trazendo baldes de água pelos apartamentos, aprender a cozinhar, limpar o banheiro de banho (que era um quadrado enorme cheio de chuveiros na parede, e só tinha água fria), e até participar de negociações dos roubos.

Mas o que me incomodava de verdade era Mia. Eu sempre sentia que ela me observava no banho coletivo, algo que eu não pude escapar. A água fria chegava a ser até confortável em comparação às olhadas de Mia sobre meu corpo. As outras meninas pareciam mais incentivar aquilo do que me ajudarem, e isso complicava. Na hora de dormir, tinha que dormir junto com ela, e também sentia ela me olhar. Aquela garota era insistentemente chata.

A única coisa que eu não podia fazer naquele prédio era sair dali. DJ e Mia ficavam sempre na frente quando eu estava preste a sair do prédio, e isso me irritava. Eu estava praticamente presa no prédio. E eles ainda estavam com minha moto, então eu não podia fugir.

Enquanto isso, eu tentava ajudar na instalação elétrica ali no prédio, por um gatô elétrico (usado para roubar energia pública). Claro, deveriam ser discretos no uso, mas facilitaria muito as coisas.

- Você vai levar um choque — eu disse. Havia duas equipes trabalhando naquilo, uma mexendo no poste da rua e outra estava mexendo na construção de uma caixa elétrica, que era onde eu estava.

- Fica tranquila, gata. É fácil — disse Noah, um garoto que eu conheci ali. Era alto, bem forte, e mulato, mas os cabelos bem lisos e curto — É só os moleques mexerem direito naquele poste, e aí eu consigo — ele pegou o comunicador dele — Ô seus jumentos, vai demorar muito aí? Se fosse eu, já teria acabado faz tempo.

- Vem aqui fazer então — disse a voz do rádio — Estamos mais preocupados com a polícia que de qualquer outra coisa aqui.

- Larga de ser medroso. Se perguntarem, fala que é da companhia elétrica — disse Noah — Acha que compramos roupas de construção por que? Pra vocês desfilarem no Halloween? Anda logo.

- Tamos indo. Mas tá difícil...

- Usa algumas luvas pelo menos. Não queremos chamar a atenção para te levar no hospital depois — eu disse. Noah realmente vai levar um choque cedo ou tarde, disso eu tinha certeza.

- Já disse que sei o que eu to fazendo — disse Noah. Ele mexeu nos fios, que logo iriam receber energia. Pegou o comunicador de novo — Já estão trazendo o fio?

- Chegando aí... — um fio foi puxado até ali, pronto para ser conectado.

- No três... — disse Noah — Um, dois... — ele pegou no fio, mas quando iria conectar na caixa de força, uma luz surgiu e ele largou o fio, gritando. Os fios queimaram por conta disso — Mas que porra..!

- O que aconteceu aí? — perguntaram do rádio.

- Você tá bem? — perguntei. Eles realmente não aprendem.

- Tô. Não foi nada — disse Noah. Ele olhou para caixa de força — Vamos ter que fazer essa merda de novo.

- Eu avisei — eu disse. Noah mostrou o dedo do meio — De nada.

- Sophie — Mia chegou ali — DJ está te chamando.

- Lá vem... — eu disse. Não gostava muito do DJ, e sempre que me chamava era para reclamar de algo — Tenho que ir, Noah. E use as luvas, antes que leve uma pior.

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