Life In Pieces/ WayHaught

Double Dynamic

Já tinham passado horas desde que eu levei Valdez até a delegacia, e o dia estava apenas começando. Era um trabalho árduo e eu tenho que confessar que Jeremy estava se dedicando muito à causa. Pude finalmente me sentir útil quando ajudei Wynonna a procurar nos livros coisas que talvez pudessem colaborar com o caso. Era por volta das duas da tarde quando Jeremy se aproximou de mim e da Wynonna e disse:

- Preciso de uma flor.

- Jeremy, sei que é um homem sensível, mas não é o momento para flores.

Wynonna dizia com sua típica cara de deboche. Acho que trazer Waverly e Doc traria também ela de volta. Me traria de volta...

- Wynonna, isso é muito sério, preciso de uma ciclame, agora mesmo!

- Espera, espera, eu vi essa em algum livro, é uma vermelha, usada em feitiços, certo?

- Exatamente, Nicole. Essa flor, se misturada com os componentes certos, pode julgar se a pessoa é uma imortal apta, ou seja, através de uma gota de sangue ela diz se alguém pode, ou não, entrar no Éden.

- Então o que os babacas estão esperando? Vamos logo buscar essa ciseilá o que...

Wynonna disse já se levantando impacientemente, me levantei em seguida e Jeremy nos deu a passagem do livro que dizia onde comumente a flor era encontrada. Robin saiu para comprar lanches para todos nós, eu e Wynonna fomos atrás da flor e Jeremy e Valdez permaneceram no laboratório, ela continuava me surpreendendo. Val parecia entender bastante de tudo aquilo e estava realmente trabalhando junto com Jeremy em todo o processo, quem diria que a guerreira durona era uma apaixonada por ciência...

- Wynonna, você está indo rápido demais! Não devia ter te deixado dirigir.

- Não sei você, Haught, mas eu quero resolver essa situação ainda hoje! Sem falar que quem tem saco pra ficar vendo esses mapas é você, sabemos disso.

- Se estivermos mortas, não terá adiantado de nada tudo isso...

Wynonna corria em direção a montanha onde as flores estavam, no fundo eu não a condenava, queria tanto quanto ela resolver tudo isso logo. No geral, sempre que eu tinha que fazer algo com ela era bastante estressante, em parte por sermos bem parecidas e em parte por sermos bem diferentes. Mas no fundo era bom, era engraçado e sempre terminava com bebida... senti falta disso, e só agora percebo o quanto.

- Juro que eu queria uma bebida agora.

- A senhora Sheriff certinha querendo beber no meio da tarde? Hmmm, algo de errado não está certo.

- Temos que manter as tradições, Earp!

Rimos enquanto tínhamos essa discussão e foi bom para esquecer por um minuto tudo que estava ocorrendo naquele dia. Chegamos até o limite de onde podíamos de carro e, então, adentramos a floresta a pé. Mais à frente havia um penhasco e eu me preparei colocando minha roupa de escalada.

- Eu tenho que descer, o vale lá embaixo é onde ficam as flores.

- O vale? Ao menos você estará em casa, Haught.

A Wynonna das piadinhas havia voltado, eu senti falta disso, dei uma risada de toda aquela situação e dei a corda para ela segurar. Não era aqui que Dolls tinha morrido, mas isso não impedia toda a situação de ser desconfortavelmente familiar. Decidi parar de pensar nisso e só fazer o que era preciso o mais rápido possível, consegui achar a flor e voltei, eu e Wynonna entramos no carro e seguimos rumo à delegacia. Durante o trajeto o clima estava levemente pesado, então decidi tocar no assunto, ou ao menos tentar.

- Esse dia está cheio de memórias.

Wynonna demorou uns segundos e então, como num surto de coragem, soltou o que estava pensando:

- Eu já perdi um, e não posso fazer nada sobre isso, não posso perder mais dois, entende?

Havia tristeza e medo em sua voz, era realmente linda a forma como ela se preocupava com aqueles que amava. Tentei parecer confiante e disfarçar meu próprio medo quando disse:

- Nós não vamos, não vamos perder mais nenhum, nós vamos trazê-los de volta, juntos!

Wynonna tirou os olhos do volante por um segundo e me deu um sorriso leve, sem mostrar os dentes, retribui o gesto e seguimos até a delegacia. Chegamos e entregamos a flor para Jeremy, nos sentamos para comer os lanches que Robin havia trazido, por mais que fosse difícil ter fome com toda aquela expectativa, precisávamos nos alimentar. Pegamos cervejas, como mandava a tradição... A noite já começava a aparecer e o dia havia sido longo, mas estávamos perto, muito perto, e isso era tudo que importava.