Waverly

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Nicole estava ali, dormindo do meu lado na cama, com a cabeça encostada em meu peito. Ela continuava a mesma pessoa linda, carinhosa e gentil, mas nem tudo parecia igual. Havia uma escuridão em seu olhar, algo como uma tristeza, um pesar, como se seu coração estivesse cheio de uma coisa ruim. Ela sorria ao estar comigo, ela sempre sorria para mim, mesmo quando ela estava à beira da morte com veneno de bruxa circulando em suas veias, morrendo de dor em uma cama de hospital, ela ainda assim, sorria. E isso continuava a ser desse jeito, porém não era exatamente a mesma coisa. Seu sorriso parecia mais oculto agora, eu sempre admirei a forma como o mundo ficava melhor e mais bonito quando ela sorria, mas agora, ela parecia estar carregando o peso do mundo nas costas.

É muito para processar, foi como se eu a tivesse pedido em casamento ontem... mas não, metade de um ano se passou, as coisas mudaram drasticamente, ninguém quis me falar sobre ela ontem. Jer até tentou dizer algo, mas Wynonna disse que eu devia resolver meus assuntos diretamente com a Nicole. E agora eu estou no escuro, tem uma mulher estranha chamada Valdez andando com nosso grupo e até onde entendi ela levou a Nicole para casa. Ela, mas por que ela e não eu? Sei que não tenho o direito de chegar aqui impondo regras, até porque não deve ter sido fácil para ninguém, principalmente para ela... mas também é estranho para mim me acostumar com essa realidade.

E agora eu não consigo parar de pensar em como a Nicole está diferente, talvez seja só uma primeira impressão equivocada, mas já é o bastante para me preocupar. Wynonna parece muito cansada, ela e Doc ainda não conseguiram conversar. As coisas estão estranhas. Quando Nicole chegou aqui eu estava morrendo de saudades dela, é difícil sequer imaginar como ela passou todo esse tempo nessa situação complicada. Eu morreria se a perdesse, e agora eu tenho medo dela ter morrido, de uma das piores formas que se pode morrer: por dentro.

A ruiva deitada em meu peito me tirou de meus devaneios quando começou a se mexer de forma estranha. Ela estava inquieta, sua feição esboçava preocupação e, talvez, medo... de repente, ela levantou sua parte superior da cama bruscamente e começou a respirar de uma maneira muito acelerada. Me levantei também e a envolvi em meus braços, ela demorou alguns segundos para perceber que eu estava realmente ali, até que começou a se acalmar. Perguntei sem conseguir disfarçar minha preocupação:

- Você está bem?

Ela me olhou com uma cara assustada e se enrolou em responder:

- S.. si... sim! Estou bem, não foi nada de mais, não se preocupe, baby.

Ela me deu um sorriso, mas eu pude notar que era um sorriso repleto de sentimentos guardados.

- Sabe que pode me falar o que está sentindo, certo? Esse era o tipo de pesadelo que você tinha após o ocorrido com o Bulshar, na sua infância?

Depois que ela me ouviu falar o nome dele, sua pele se empalideceu e seus olhos perderam o brilho. Algo estava muito errado com ela, traumas de infância podem voltar a assombrar alguém quando a pessoa passa por uma situação presente muito estressante. Mas o lance com Bulshar era algo a mais, só podia ser.

- Não foi um pesadelo, foi apenas uma impressão estranha... está tudo bem, eu juro! Você está bem?

Ela respondeu, tentando parecer mais animada, então resolvi tocar nesse assunto só mais tarde, eu só a queria por perto, a última coisa que eu preciso é que ela se afaste.

- Não tem como eu ficar mal estando ao seu lado, Sheriff Haught!

Ela me deu outro sorriso, dessa vez um sorriso de verdade, o sorriso dela.

- Sabia que seu sorriso é a coisa mais linda que eu já vi na vida?

Ela corou e me lançou um olhar carinhoso antes de responder:

- Nada é mais lindo e gentil que você, Waverly Earp.

Selamos nossa conversa com um beijo, até que ouvimos Wynonna nos chamar, já eram 9 da manhã, o tempo havia passado... eu sequer tinha percebido com ela deitada em meu peito.

- Vamos descer?

- Vamos, Waves, eu tenho umas coisas pra resolver na delegacia hoje.

- Tem que trabalhar hoje?

Forcei uma cara desapontada e ela sorriu me dando um selinho, enquanto respondia:

- Eu realmente tenho, prometo que volto depois, mas desse jeito vou te deixar mimada!

- Desse jeito você vai me deixar é mais apaixonada, se é que é possível...

Paramos por uns segundos e apenas ficamos nos olhando, o mundo sempre estagnava quando eu olhava bem seus olhos, ela tinha um olhar tão gentil, protetor, ela era meu porto seguro, meu céu. Fico me perguntando, às vezes, se é possível existir um amor assim, se eu não estou apenas sonhando ou fantasiando coisas. Mas, ao mesmo tempo, ela é tão real, é tão ela, que faz todo o resto perder a graça. Eu tenho um pouco de dificuldade de verbalizar o "eu te amo", por mais que seja o que eu sinto, ainda é complicado, mas ela fez parecer tão simples com o passar do tempo, com seu jeito doce de pensar e agir. Porém, quando eu finalmente tomei coragem de dizer a ela o que sentia, aconteceu toda aquela confusão, e agora eu não sei bem como prosseguir. É como se estivéssemos vivendo em tempos diferentes, como se a linha da vida tivesse se confundido e nos colocado no momento errado.

- Eu preciso mesmo ir agora...

Ela disse saindo do transe que nossa troca de olhares causava, parecia que ela tinha medo de que eu visse algo além, parecia que ela estava tentando se esconder de mim...

- Então, te vejo depois?

- Com toda certeza.

Com essas palavras ela se despediu, me deu um beijo no rosto e saiu porta afora. Ah Nicole Haught, o que você insiste em manter escondido por trás desse lindo sorriso e dessa pose de "tudo está sob controle"?

Life In Pieces/ WayHaughtOnde histórias criam vida. Descubra agora