Eu estava correndo rápido, rápido até demais, sentia cada parte do meu corpo como se fosse um conjunto de estrelas numa constelação, tudo em mim estava junto e harmônico, porém mais separado que nunca. Estava muito escuro, as sombras se formavam na floresta, mas aquilo não me atrapalhava, muito pelo contrário, minha visão parecia de uma águia, meu olfato era sobre-humano e minha audição captava até os mínimos detalhes.
Avistei uma pessoa nas matas, era apenas uma garotinha, seu cabelo na tonalidade do fogo e sua feição assustada tomaram-me por completo. Aquela era eu, tão doce e ingênua, com medo do mundo. A eu do passado encontrou seus olhos com a eu do futuro, e o pavor se escancarou ainda mais. Não era o mundo que aquela garotinha temia, mas sim eu, eu a dava medo, assustava a mim mesma.
De repente eu não tinha mais controle do meu corpo, a pequena Nicole deu um grito assustado e eu só percebi quando estava com meus dentes fincados nela. A dor agonizante dela não impedia que eu prosseguisse, e por mais que eu lutasse contra, aquele desejo era mais forte que eu.
Eu era um monstro.
Fim Do Sonho.
Acordei molhada de suor, o mundo girava incessantemente e meu coração hora parecia parado, hora batia como se não houvesse amanhã. Olhei para o relógio que marcava 3 da manhã. Pensei comigo mesma:
- Ótimo, a hora dos demônios, perfeita pra que eu acorde, já que agora sou uma também.
Levantei-me e tentei beber água, mas aquela sede insistia em não ir embora. Nos filmes de vampiros nós vemos que eles matam animais para sobreviverem. Então era esse meu fim? Uma chupadura de sangue que mal conseguia controlar a si mesma?
Foi quando uma ideia percorreu minha mente: Jenny não poderia me ajudar, mas Doc ainda estava por perto. Nós não tínhamos uma conversa descente desde o dia em que ele sugou o sangue de Charlie e eu achei que ele havia o matado. Mas agora o que isso importava? Eu o entendia bem, mais até do que gostaria.
Desci as escadas e saí correndo pela rua, só parei para perceber o absurdo que foi eu ter corrido 3 km até a casa do Doc, às 3 da manhã e sem casaco quando estava batendo em sua porta. Ele atendeu com uma feição de surpresa e logo notei as palavras saindo lentamente de sua boca, com seu famoso sotaque:
- Sheriff Haught? O que faz aqui a uma hora dessas?
Nesse momento eu travei, estava suada devido ao calor intenso que sentia e minha respiração era ofegante, Doc me olhou de cima a baixo e segurou em meus ombros me puxando para entrar. Perguntou, preocupado:
- O que houve? Fizeram algo com você?
Foi quando senti meus dentes ficarem a mostra, eu ainda não tinha o mínimo poder sobre quando isso acontecia, era uma situação complicada mas ao menos Doc me entenderia. Ao ver o que tinha acontecido ele abriu a boca, com uma expressão chocada no rosto.
- Parece que fizeram?
Foi a primeira coisa que consegui dizer, meu tom de voz saiu mais debochado que o usual e, novamente, eu não tinha controle sobre isso.
- Nicole... como?
Respirei fundo e tentei explicar da melhor forma que podia:
- Wynonna deve ter te contado sobre Bulshar ser meu pai.
- Sim, ela contou, mas pra se manifestar assim você precisava ser mordida.
Dei de ombros e apenas concluí:
- Aconteceu.
- Quem fez isso com você?
- Doc, sei que fui dura com você da última vez, mas agora eu te entendo mais do que gostaria e realmente preciso da sua ajuda.
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Life In Pieces/ WayHaught
FanficApós o amor de sua vida ser mandado para o jardim do Éden, A Sheriff Nicole Haught precisa encontrar respostas enquanto lida com seus demônios interiores, maiores pesadelos e descobertas assustadoras. Continuação alternativa da S3. Terminada.