- Um, dois, três, vinte e quarenta-dezesseis...
- Ainda está aqui, gatinha?
- Já te disse pra meter o pé, querido.
Era o milésimo fora que eu dava no mesmo cara, as luzes daquela boate começavam a ofuscar minha vista e eu já tinha perdido a noção de quanto tempo fazia que eu estava lá. Quando saí da casa da Waverly eu senti novamente aquela mesma sensação que tive quando larguei minha antiga cidade há quase uma década atrás, toda aquela incompreensão estava de volta, me sentia desolada, sozinha, e Deus me livre ir para casa naquela situação. Pensei em ir até a Valdez, mas não queria ver um rosto conhecido, só queria estar em um lugar onde ninguém me reconhecesse, queria me sentir parte de algo.
Eu tentei contar todos os copos que havia bebido, mas a conta sempre começava em um e terminava em vinte e quarenta-dezesseis, juro que isso é um número inteiro, só não sei onde ele se encaixa no mundo, já que ele não era entendido como um.
- Pobre vinte e quarenta-dezesseis, você se sente sozinho, não é? Você é diferente, e não entendem você... ah, mas eu te entendo... você vai me entender também? Porque eu realmente preciso que alguém entenda...
Olhei em volta e vi todas aquelas pessoas dançando animadas enquanto eu me afundava naquela bebida, que naquele ponto eu já nem sabia mais o que era. Não sei, mas acho que quando estou triste e vejo outras pessoas, elas sempre parecem extremamente felizes e satisfeitas, enquanto eu só consigo pensar o quão merda tudo está.
- Você não concorda, vinte e quarenta-dezesseis? Oh droga! Estou falando com um número...
- Não precisa falar com um número, gata, pode falar comigo.
- Pelo amor de Deus, cara, já não te mandei pastar umas mil vezes?
- Ah, qual é? Só estou tentando ser gentil... do que se trata esse número?
- vinte e quarenta-dezesseis?
- Uhum...
- É o número de bebidas que eu tomei, eu acho...
- É um número grande e confuso.
- Não é confuso, tem um tracinho nele.
- Como assim?
- Olha!
Molhei minhas mãos com a bebida e escrevi "20 e 40-16" no balcão de madeira. Ele olhou bem aquilo, era um homem alto, parecia um pouco mais velho que eu e tinha uma barba ruiva, eu estava bêbada demais para reparar se ele chegava ao menos a ser bonito, não que isso fosse fazer alguma diferença.
- Está vendo? O tracinho junta tudo. É como quando duas pessoas colocam o nome no filho, sabe... tipo quando você coloca "Haught-Earp" pra demonstrar sua união? Eles deixam de ser dois e passam a ser um só...
- Isso é legal, e você já tem alguém pra colocar o tracinho?
- Eu costumava ter, mas ela não quer mais saber de mim.
- Ela?
- Sim cara, sinto lhe informar mas desse mato não vai sair cachorro...
Ele riu daquilo, como se não acreditasse, e apenas disse:
- Você é uma mulher muito bonita, esse ruivo aí é natural?
- Talvez, o seu é?
- Com certeza! Inclusive eu acho que a gente devia ajudar a manter a raça ruiva viva, o que acha?
Ele disse aquilo enquanto piscava, revirei meus olhos e mostrei o dedo do meio, respondendo:
- Some daqui.
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Life In Pieces/ WayHaught
FanfictionApós o amor de sua vida ser mandado para o jardim do Éden, A Sheriff Nicole Haught precisa encontrar respostas enquanto lida com seus demônios interiores, maiores pesadelos e descobertas assustadoras. Continuação alternativa da S3. Terminada.