Capítulo 3

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              RACHEL

   Um barulho me fez acordar. Abri um pouquinho meus olhos e vi Josh pegando um pote de creme para os pés na penteadeira.  Observei quando ele abriu o pote e cheirou.

— O cheiro é divino não é? Uma mistura de sandâlo e frutas silvestres.

   Ele se assusta e se atrapalha quando vai por o pote no lugar onde estava. Me levanto e fico de frente a ele.

— Sabe Josh, eu espero que você arranje um emprego e pare de usar as minhas coisas.

— Eu... Você está certa — diz.

   Abro uma das gavetas do guarda-roupa e pego um tesoura. Seu pomo de Adão sobe e desce rápido.

— O que vai fazer? — ele pergunta.

— Que tal um corte de cabelo novo, Josh? Seu cabelo precisa de um novo visual.

    Ele saí em disparada do meu quarto. Só escuto a porta do quarto dele sendo fechada bruscamente. Guardo a tesoura e tranco a porta do quarto. Tiro minha camisola e visto um short de corrida e uma regata. Escovo os dentes e calço um tênis.

    Pego meu celular e meus fones.

  Vou até a cozinha e pego uma garrafinha de água.

— Já vai correr? — minha mãe pergunta.

— Vou sim. Chego antes que a Anne acorde.

   Dou um beijo em minha mãe e saío para fora de casa.

   Todo dia as seis da manhã eu saio para correr um pouco. Ponho os fones e coloco minha playlist favorita.

    Ao som de Kaleo, Post Malone, Ruelle e Alan Jackson, faço meu percusso de quatro quilômetros. As músicas e minha caminhada são tranquilas.

    No caminho de volta eu sinto que alguém me observa. Acelero meus passos e entro em um beco. Sei que é burrice da minha parte, mas eu estava preparada para o que viesse. Me escondo atrás de uma caçamba de lixo.

  Esperei um pouco e alguém entrou no beco.

— Sei que está aqui Rachel.

Engulo em seco e levanto. Alec está parado perto de onde estou. Veste um calça preta e um camisa azul. Se fosse antes eu estaria sorrindo e me sentindo feliz ao vê-lo. Mas agora eu só sinto nojo e ódio.

— Já disse que não quero saber de você — falo.

— Temos um filha e quero conhecer ela.

— Jamais você vai conhecer minha filha. Quero que fique longe de nós.

— Sei que...

— Você não paga minhas contas, não vive comigo, não sabe da minha vida, então cale a boca! — falo — Fique fora, ou vai se arrepender.

— Vou te ter de volta Rachel, vamos voltar a ser como erámos antes.

— Pense assim, mas saiba que se chegar perto de mim novamente, você vai pagar caro.

   Passo por ele, mas ele segura meu braço.

— Tenho meus direitos! Você não pode me impedir de vê-la.

— Posso sim — sorrio puxando meu braço — Acha que a justiça vai deixar um traficante e ex-presidiário chegar perto dela? Posso muito bem dizer as coisas que você fez no passado. Passar bem.

§

   Chego em casa e tomo um banho tentando parar de pensar no que Alec disse. Ele jamais vai chegar perto de Anne.  Sei que ele é poderoso no mundo do tráfico, isso me deixa temerosa, mas não posso deixar ele saber do meu medo. Então penso em Yuri, já faz uma semana que vi ele pela última vez. Só de pensar nele eu já me sinto melhor.

— Mamãe?

— Já vou Anne — falo e termino de banhar.

   Saío do banheiro e encontro Anne sentada ainda de pijama na minha cama.

— Não deveria estar na escola? — pergunto — Josh não te levou?

— Hoje não tem aula, mamãe.

— Me esqueci, o que quer fazer hoje?

— Assistir filmes e comer pipoca! — diz animada.

— Então vamos comer pipoca e assistir filmes. Me espere na sala e chame a vovó para vir até aqui — digo.

   Anne saí do quarto e visto minhas roupas. Minha mãe chega e se senta na minha cama.

— O que aconteceu?

— Encontrei Alec.

   Dona Justine fica mais branca do que é.

— Ele te fez...

— Só ameaçou, mas não é disso que quero falar agora.

   Pego um pedaço de papel e escrevo o número de Yuri nele. Entrego-o para minha mãe.

— Esse número é de uma pessoa que eu confio, se algo acontecer quero que ligue para esse número.

— Isso é...

— Não sei se estamos seguras mãe. Caso algo chege a acontecer esse número pode nos ajudar.

— Tudo bem — ela diz.

§

    Passo o resto do dia assistindo filmes com Anne, minha mãe e Josh. Josh ficou resmungando o tempo todo sobre os filmes de princesa. Como um gay como ele não gosta das princesas? Cheguei até a pegar a tesoura, caso ele não parasse de ser tão chato.

  No jantar pedimos pizza. Josh saiu para ir em uma festa.

   Depois que Anne e mamãe foram dormir eu fiquei  deitada na cama assistindo The Vampire Diares, amo muito o Stefan.

   As duas da manhã escutei um carro parando. Me levantei e afastei um pouco a cortina. Era uma van. Alguns homens desceram e jogaram um corpo no chão e foram embora.

  Corri para fora de casa e fui até o corpo. Era Josh.

— Ai meu Deus — gritei — Josh? Fala comigo.

   Me agacho ao lado dele e sinto seu pulso. Pulsa forte.

— Josh? Temos que entrar. Me ajude.

  Ele se levanta e grunhe de dor. Passo um braço dele pelo meu ombro e o apoio em mim.

  Caminhamos até dentro de casa e sento-o no sofá. Só então reparo em seu rosto. Os dois olhos estão roxos e o lábio cortado. O nariz parece estar quebrado e sangra.

— Quem fez isso? — pergunto.

— Alec, ele disse que isso foi um recado.

  Vou até o quarto e pego a maleta de primeiro socorros.

Passo na cozinha e pego uma tigela com água.

— Preciso limpar isso — falo.

   Limpo o lábio cortado e  o sangue que saiu do nariz dele. A pele ao redor dos olhos estão roxas e inchadas.

— Preciso voltar o seu nariz ao lugar — digo — Vai doer um pouco.

   Ele assente e ponho o nariz dele no lugar. Escuto o estalo e ele geme de dor.

— Sinto muito Josh.

— Está tudo bem, alguns dos seus cremes devem recompensar a surra que levei — ele diz.

  Sorrio e termino de cuidar dele.

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Revisado*

Marcas do Passado #2 |Série TambovskayaOnde histórias criam vida. Descubra agora