Capítulo 1

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Lizzie acordou naquela manhã completamente disposta, o sono a renovara e ela só queria voltar a trabalhar para poder aumentar o estoque de livros que dispunha no momento. Elizabeth até desejava cursar uma faculdade, mas a condição de sua família não permitiria esse luxo por hora.

Seu pai, Sr. Heitor, era eletricista e estava desempregado, já sua mãe, Sra. Helena, nunca havia trabalhado formalmente. Sua função em si, resumia-se em preparar e vender salgados e doces para a vizinhança, então cada uma contribuía como podia. Desse modo, a renda de Cecília — a única que trabalhava no momento na família — tornara-se extremamente necessária. Inclusive, como recentemente Elizabeth perdera o emprego juntamente com o pai, os ânimos de todos estavam à flor da pele. Principalmente os de dona Helena, que gostava de culpar Lizzie por tudo de ruim que acontecia à família.

Talvez não fosse por mal; mas, ainda assim, Lizzie sentia-se abatida às vezes por ouvir tantas acusações. Ela não tinha culpa de ter perdido o emprego — sem registro por sinal —, muito menos do pai estar na mesma situação. Entrementes, Elizabeth tinha ciência de que sua mãe só estava sendo tão severa, devido a sua recusa anterior ao pedido de namoro de seu vizinho.

Andrew, por sua vez, estava em ascensão profissional e tinha mais ou menos vinte e quatro anos. Ele se formara em engenharia e trabalhava em uma multinacional. Obvio que dona Helena encasquetara que sua filha do meio deveria namorá-lo. Todavia, as coisas boas que o pobre rapaz tinha a oferecer resumia-se a isso. E Lizzie, a maior interessada na história, na verdade não estava tão interessada assim.

Apesar do emprego bem remunerado e da graduação concluída. Elizabeth particularmente o considerava um chato de galocha, fora que o coitado era bem peculiar. Seu jeito afetado incomodava, além de ele ser completamente mal diagramado na aparência. Os olhos afastados demais causava até uma sensação de angústia em Lizzie, já os dentes um tanto encavalados e amarelados lhe embrulhavam o estômago só de imaginar beijá-lo algum dia.

Porém, sua mãe não enxergava nada disso, só queria empurrar a filha "encalhada" para o vizinho, não importava como fosse. Afinal, ela achava Elizabeth tão sem sal que não nutria esperanças de uma outra opção melhor para a filha do meio.

Bom, as Bennets de Orgulho e Preconceito eram constituídas por cinco irmãs; já as Boaventura, no entanto, somente por três. Sendo a mais nova e a favorita de dona Helena, Sophia era também a mais cabeça de vento. De todo modo, sua mãe deixava claro a preferência por ela aos quatro cantos, ignorando a possibilidade de magoar suas outras duas filhas. Portanto, a caçula sempre fora a mais paparicada de todas, em compensação para o seu pai, as preferidas eram Lizzie e Cecília. Pois as personalidades de ambas eram muito parecidas e, por conseguinte, combinavam também com seu temperamento.

— Bom dia, mãe. Bom dia, pai. - Lizzie cumprimentou ambos e foi servir-se de café para iniciar o dia.

— Bom dia, querida. - Ouviu a voz amistosa de seu pai e sorriu.

— Não sei o que tem de bom hoje, visto que quase não dormi ontem pela sua rebeldia. - Dona Helena resmungou em resposta.

Elizabeth revirou os olhos, já sabendo que seria tratada assim por um longo período, até algo mais importante tomar lugar nos pensamentos de sua mãe. Minutos depois, suas duas outras irmãs se juntaram a ela no café da manhã. Cecília iria trabalhar também e Sophia; por sua vez, iria para a escola, já que ainda cursava o ensino médio.

— Bom dia! - A mais nova exclamou animada.

Com certeza deveria estar com algum crush novo no colégio.

— Bom dia a todos. - Cecília cumprimentou de um jeito contido.

Os olhos mal abriam, estava claro como água que a mais velha das Boaventura precisava urgentemente de férias. Já seria o segundo período que Cecília tiraria trabalhando, visto que assim poderia ganhar um pouco mais.

— Bom dia, filhotas. - Sr. Heitor retribuiu o cumprimento.

— Oi, Cecil. - Lizzie respondeu sorridente.

Somente Elizabeth a chamava assim, já que Cecília não gostava muito desse apelido.

Quando o café foi finalizado, Elizabeth levantou-se e, depois de escovar os dentes, rumou para o novo trabalho. Ela seria balconista de uma bomboniere pequena perto de casa, o salário não era ruim e o melhor, Lizzie seria finalmente registrada em carteira. O que lhe garantiria mais sossego ao dormir, porquê, no emprego anterior só recebeu dois salários e uma carta de recomendação, muito mal escrita, por sinal.

Chegando ao local, Lizzie foi devidamente apresentada como nova funcionária e deixada com Charlene, uma jovem muito simpática do qual Elizabeth gostou de imediato. Ela seria a encarregada do treinamento da recém-chegada e Lizzie agradeceu internamente por ser uma garota simpática a desempenhar esse papel. Assim seria bem mais fácil aprender a nova função, já que precisaria ficar no caixa da loja de doces.

— Nem posso acreditar que vou trabalhar com uma Elizabeth! - Charlene exclamou alegremente. - Seu nome foi inspirado em Orgulho e Preconceito? - Questionou entusiasmada à portadora e sorriu, aguardando uma resposta afirmativa.

Entretanto, tal afirmação não chegou.

— Na verdade é coincidência, minha mãe queria esse nome, pois havia perdido uma irmã recém-nascida batizada como Elizabeth. - Relatou para a garota animada à sua frente. - Mas ela nem sabe o que é Orgulho e Preconceito e acredito que minha avó também não era chegada em leitura.

— Poxa, que triste. - Murmurou pesarosa. - Mas, de qualquer forma, só pode ser coisa do destino, não é possível. Imagine que ainda hoje recebemos a notícia, de que um empresário chamado Darcy está vindo aqui para a cidade nos próximos dias. E irá construir um hotel na região. - Despejou, não conseguindo disfarçar tamanha felicidade.

Elizabeth a encarou aturdida, ela ouvira bem? Um empresário chamado Darcy estava chegando à cidade? Era algum tipo de piada de boas-vindas? Caso não fosse, só poderia ser engano! Tudo bem existir várias "Elizabeth's" espalhadas pelo Brasil à fora. Afinal, esse era até que um nome comum, mas Darcy? Quem em sã consciência colocaria esse nome no filho? E, ainda que fosse isso mesmo, por que diabos ele estaria vindo para a cidade de uma hora para outra? Lizzie nunca sequer cogitara a possibilidade de conhecer um homem com esse nome. Na realidade, desejava encontrar o seu próprio Darcy, sem dúvidas. Porém, no sentido conotativo da frase, não literal.

Céus, será que ele me julgara tolerável também?, indagou em pensamento.

Um pedido à estrela cadenteOnde histórias criam vida. Descubra agora