Capítulo 12

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— Lizzie, que pena! - Cecil exclamou pesarosa, após o relato da irmã. - Você aceitará a proposta de Darcy?

— Não sei, estou receosa ainda, de qualquer forma não o vi mais depois daquele dia. Nem sei se ainda tem interesse em me contratar. - Resmungou Elizabeth, cabisbaixa.

— Com certeza Darcy deve estar dando um tempo para você pensar, ele não parece ser do tipo volúvel. Portanto, não declinaria assim do convite. - Tentou animar a irmã.

— Talvez. - Ela retrucou.

— Por que você não vai ao escritório dele? - Cecília questionou procurando encontrar uma solução.

Elizabeth pensou e pensou, achando aquela possibilidade bastante intrépida para ela. Aparecer do nada no escritório de Darcy, sem nem ao menos ter sido chamada. Porém, Lizzie estava realmente angustiada, tinha percebido o quão tristonho o pai estava nos últimos dias, devido ao desemprego. Ela sabia que para ele era muito embaraçoso necessitar da ajuda das filhas para suprir as contas de casa. Como pai de família, entendia que precisava ser o provedor. Portanto, Sr. Heitor ficaria ainda mais angustiado quando soubesse que uma das filhas havia perdido o emprego novamente. Elizabeth, por sinal, estava ensaiando contar aos pais o ocorrido. Como recebera a notícia no dia anterior, quase ao final do expediente, eles ainda não desconfiavam de nada. Portanto, a bomba iria explodir no jantar, muito provavelmente, tendo isso em mente, Lizzie decidiu que reuniria coragem e procuraria por Darcy. O máximo que ele poderia fazer era voltar atrás na sua palavra.

— Vou pensar nisso. - Finalmente Elizabeth respondeu Cecília, que, devido a demora, já estava até realizando outra tarefa no quarto. - Mas, me conta, Cecil. Você tem falado com Gustavo?

A mais velha respirou fundo e aboletou-se na cama por um momento, pensando no que responder, por fim confessou:

— Ah, Lizzie. Ele é muito galante e bonito, sem dúvidas. Nós temos conversado bastante. - Sorriu um tanto quanto envergonhada. - Entretanto, você sabe que eu não posso abrir meu coração assim, logo agora que me recuperei do Mateus. Tenho medo de me magoar novamente.

Elizabeth entendia muito bem o que a irmã estava sentindo; pois, esse mesmo receio permeava todos os seus pensamentos que envolviam Darcy.

— Eu sei, minha irmã. Só que você não pode trancar seu coração a sete chaves para sempre. - Ponderou  e sabia que aquele conselho servia para si também.

— Olha quem fala, Lizzie! - Cecília exclamou rindo. - Nós somos duas tolas, isso sim. Eu por ter medo de me apaixonar pelo Gustavo e você, pelo Darcy. - Afirmou suspirando.

— Sim, Cecil. Porém, é diferente. Gustavo é livre, apesar de tudo, já Darcy não. - Protestou pesarosa. - Além disso, ele já demonstrou ter um certo interesse por você. Já o amigo dele, além de noivo, é completamente indiferente a mim.

— Será mesmo? - Ela retrucou. - Eu vi vocês dançando juntos, fora que Darcy está sempre te rodeando. Veio aqui e pelo o que você me disse, minha irmã, não se incomodou nenhum pouco com os comentários sem noção de nossa mãe. E, para completar, teve a despedida nada ortodoxa de vocês depois. Ou seja, será que Darcy é tão indiferente assim? - Concluiu em tom de indagação.

Elizabeth refletiu por alguns segundos e meneou a cabeça em discordância, ela não via àqueles sinais da mesma forma que a irmã. Só achava que Darcy era muito simpático e educado para demonstrar o desconforto que sentia pelas ações da mãe, ou pelos comentários dos vizinhos fofoqueiros.

— Não penso assim, Cecil. Darcy pareceu muito diplomático ao refutar os comentários de nossa mãe, talvez por não querer magoá-la. Porém, em momento algum a encorajou a prosseguir com aqueles pensamentos. Com relação a despedida, eu que me apavorei e acabei criando àquela situação desconfortável para nós dois. - Murmurou recordando da expressão de Darcy ao afastar-se dela. - Imagine o que ele deve ter pensado de mim! Você viu a noiva dele? Ela é perfeita, Darcy não teria razão alguma para se interessar por mim. Acho que não deveríamos nos iludir com esses dois, ambos são de mundos completamente diferentes do nosso.

Cecília respirou fundo e concordou em pensamento, antes mesmo de o fazer com a boca.

(...)

No outro dia, Elizabeth acordou cedo, colocou a roupa mais social que tinha e decidiu bater no escritório de Darcy. Obvio que ela precisou descobrir onde ficava, mas ali na cidade não era difícil obter aquela informação. Na noite anterior, Lizzie declinou de contar aos pais sobre ter sido dispensada. Sr. Heitor mal havia tocado na comida e até sua mãe estava mais calada durante o jantar. Aquela notícia só os abalaria ainda mais, esse foi o estopim para Lizzie reunir coragem suficiente e fazer o que tinha em mente. Portanto, decidida, porém um pouco nervosa, ela pegou um táxi e desceu no endereço que tinha conseguido. Na verdade o endereço nem foi necessário, o taxista já havia levado outras pessoas para lá. Talvez o amigo de Darcy, ou até mesmo a noiva, o pensamento a fez suspirar, mas não a dissuadiu. O prédio comercial era um dos poucos que tinha na cidade, Elizabeth apresentou-se ao porteiro e aguardou que ele interfonasse para a sala de Darcy. Algum tempo depois o porteiro educadamente lhe deu passagem. Lizzie respirou fundo e entrou no elevador, quando saiu, sentiu as pernas bambearem e seu coração bater acelerado. Mas, já estava ali, não havia como retroceder.

Apertou a companhia um pouco receosa e logo a imagem de Darcy surgiu à sua frente. Elizabeth prendeu o ar por um segundo e se recompôs. Ele estava extremamente lindo, totalmente de social, com os cabelos levemente bagunçados, como se tivesse tido de resolver algum problema muito grande.

— Bom dia, Lizzie. Não esperava te ver. - Ele cumprimentou e seus lábios se curvaram em um sorriso - Entra. - E deu passagem à moça.

— Bom dia, Darcy. Não queria incomodar, mas preciso falar com você. - Anunciou tentando parecer segura de si.

— Claro, vamos conversar na minha sala. - Respondeu indicando uma porta à esquerda.

Elizabeth observou que o local era de muito bom gosto, não era um escritório tão grande. Mas dava para algumas pessoas trabalharem ali tranquilamente.

— Em que posso te ajudar? - Darcy indagou curioso, depois de acomodarem-se um de frente para o outro.

Ainda não acreditava que Elizabeth tinha aparecido do nada, após dias sem se verem. Contudo, achou àquela visita uma grata surpresa, sua manhã não tinha sido das melhores.

— Bom... - Ela começou, enquanto mexia descontroladamente em seus dedos devido ao nervosismo. - Eu gostaria de saber se ainda está de pé sua proposta. - Tentou ir direto ao assunto, porque tinha medo de se enrolar com as palavras e dizer alguma besteira.

Darcy, no entanto, ficou surpreso com a pergunta, mas logo tratou de responder:

— Claro! Eu achei que não iria aceitar, por isso não a procurei mais.

Aquilo era parcialmente verdade, ele tinha realmente achado que ela recusaria. Todavia, não queria encontrá-la novamente para não aumentar o buraco que sentia em seu estômago toda vez que a via.

— Sério? - Lizzie questionou tirando-o de seu devaneio.

— Sim. - Darcy reafirmou. - Hoje mesmo quase enlouqueci pela manhã sozinho aqui. - Brincou e sorriu novamente, o que fez Elizabeth relaxar um pouco mais.

Ela pensava que ficaria um clima estranho entre eles, ou que Darcy a trataria de outra forma depois daquela despedida estranha em sua casa. Mas, ele permanecia brincalhão e tão educado quanto antes.

Enquanto isso, Darcy não acreditava na sorte que tivera por ter seu pedido aceito, apesar de sentir que deveria afastá-la. Darcy ficou foi feliz por saber que Elizabeth estaria por perto. Mesmo tendo ciência do perigo que àquela proximidade representava. Principalmente levando em consideração a crise que seu relacionamento enfrentava naquele momento. Ele tentara dialogar com a noiva sobre tudo o que estava acontecendo. Entretanto, Melania só desconversou alegando que estava tudo bem entre eles e que ela apenas não gostava daquela cidade. Todavia, tal afirmação não foi suficiente para aquietar seu coração aflito. Darcy precisava da certeza de que a noiva ainda o amava, para manter-se apegado a segurança de ter um relacionamento. Visto que a cada dia passava a pensar mais e mais naqueles olhos cor de avelã.

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