Capítulo 1

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Davi Laurent

Escuridão. Apenas a escuridão me cerca, não consigo sentir mais uma alegria como antes, não que eu esteja inconformado, não. Eu já aceitei minha condição desde muito tempo, como poderia não aceitar? Sou eu.

Já chorei, já sorri, já me desmontei em milhares de pedaços para depois me construir novamente e assim seguir. Eu sobrevivi. Sempre sobrevivo.

Estou na minha cama com travesseiros nas costas e o lençol até a cintura, posso sentir o calor do sol em meu rosto e pelo visto Billy deixou a janela aberta. Conheço meu quarto o suficiente para andar sem a ajudar de alguém, odeio isso, procuro me adaptar ao local o mais rápido possível para não precisar de ajuda. Levando da cama. Passo meus dedos gélidos nos móveis de madeira e nas cortinas de tecido fino para ir em direção ao banheiro. Sinto a cerâmica gelada sob os meus pés e arrepio, uma coisa normal. Procuro minha escova. Passo água na boca. Me visto. Abro a porta do quarto e saio. Escuto o barulho de panelas e pratos, ando a passos silenciosos, mas decididos, até a cozinha onde Billy está. Ele insiste em fazer tudo: cozinhar; limpar; organizar; tudo. Não quer que contrate ninguém, chega até mesmo ser solitário, sinta pena dele por ter apenas a mim como companhia. 

ㅡ Bom dia!

Ele exclama contente. Sua alegria pela manhã cedo me deixa nauseado, quase rabugento, eu diria. Respondo em um tom mais ameno e com um sorriso de canto, estou sem muita vontade agora.

ㅡ Sua mãe ligou... de novoㅡ Sinto o leve tom irritado dele, que obviamente foi logo substituído por algo mais felizㅡ Devia visita-la.

ㅡ Fiz isso há alguns dias, não posso viver indo na casa da minha mãe. O que faz?

ㅡ Omelete, sei que gosta. Eu concordo que não deva visita-la tantas vezes, mas ela está preocupada com tudo o que aconteceu.

ㅡ Foi há quatro anos.

ㅡ Davi... ela não vai esquecer isso tão rápido, você foi machucado.

ㅡ Uma pequena cicatriz nas costas. Idai? Billy, por favor. Chega.

Ele ficou calado. Percebi sua respiração forte, ele odeia ser mandando, mas obedece mesmo assim. Sento na mesa e toco a xícara a minha frente, quente, está com café. Beberico um pouco e depois coloco a xícara no lugar, o silêncio já se completou cinco minutos, não aguento mais.

ㅡ Você pode falar, sabe disso.

ㅡ Não tenho o que falar, nada mesmo. Bem, vamos tomar café em um clima melhor.

Escutei o barulho dos pratos, dois foram colocados na mesa, um a minha frente, depois o barulho de talheres e xícara. Ele sentou a minha frente à mesa, respirando calmo enquanto colocava seu café e depois pegou minha mão por cima da mesa, o toque dele, quente e áspero me deixou incomodado, mas não me afastei.

ㅡ Sabe que me preocupou com você.

ㅡ Claro que sei, todos se preocupam comigo.

ㅡ Devia visitar sua mãe. Só hoje.

ㅡ Está bem. Só hoje. Não precisa ir comigo, vai ser coisa rápida e não espere nada demais.

ㅡ Não espero. Vou ficar aqui e limpar essa casa.

ㅡ Você faz isso todos os dias Billy, pode se divertir sem mim, ir a algum lugar ou sei lá. Viva.

Não obtive resposta. Sua não foi retirada da minha, desgrudou mais rápido do que chegou, não me importei e comecei a comer. Claro que o clima pesou, mais pesado que antes. Quando terminei o café esperei que ele fizesse o mesmo, queria poder falar com ele algo que me desculpasse, mas não tive oportunidade, ele se levantou rápido e foi para longe. Escutei apenas seus passos.

Suspirei frustrado e depois peguei meu celular, liguei para minha mãe e disse que estaria indo vê-la. Ela claro, adorou, falou que meu pai também adorou. Sorri. Adoro o jeito que ela conta isso para me deixar feliz.

***

Entrei na casa dos meus pais e de repente parei. Senti um cheiro diferente no ar. Um aroma doce, mas forte, bem mais forte que o perfume dos meus pais.

ㅡ Olá?

ㅡ Hã... Oi. O senhor deve ser o filho da senhorita Laurent.

De quem é essa voz?

ㅡ Desculpa, quem você seria?

ㅡ Não seja grosseiro Davi, onde estão os modos?ㅡ Escuto a voz empreendedora da minha mãe se aproximando. Acho que fiquei um pouco corado.

ㅡ Oi mãe.

ㅡ Oi querido, pelo visto já conheceu nossa visita. Esse é William Stony.

ㅡ Will, por favorㅡ O homem fala, pelo jeito deve estar tímido.

ㅡ Esse é o meu terceiro filho, Davi. Eu falei dele não?

ㅡ Falou sim. É um prazer.

Silêncio.

ㅡ Eu esqueci de contar que...

ㅡ Se está estendendo a mão para mim não espere que eu aperte. Eu não vejo.

Novamente silêncio.

ㅡ Eu sinto muito. Não sabia.

ㅡ Não tem problema. É amigo dos meus pais?

ㅡ Na verdade eu vim aqui com um propósito. A senhorita Laurent poderá contar melhor.

ㅡ Como é?

ㅡ Eu ia contar em um momento mais particular, mas como já estamos aqui. William... O Will será o seu segurança.

ㅡ Como é que é?ㅡ Praticamente elevei minha voz as alturas.

ㅡ Davi...

ㅡ Não! Chega. Eu não concordei com isso! William, me desculpe, mas a minha resposta é não. Por isso você insistiu para que eu vinhesse aqui não é? Meu Deus.

ㅡ Vamos conversar junto ao seu pai. Will, obrigada querido, eu retornarei mais tarde.

ㅡ Certo, obrigado pela chance.

Escuto os passos pesados de Will chegaram perto de mim, por um momento meu coração acelera então lembro que estou perto da porta desde que cheguei, ele está indo embora. Essa ideia também me agradou. A porta bateu. Silêncio.

ㅡ Não pense que vou concordar com isso. Já se passaram 4 anos.

ㅡ Não me importo. Me preocupo com sua segurança, seu pai praticamente não consegue dormir, ele liga para todos os seus irmãos para confirmar que está tudo bem, pergunta sobre a Summer e o Max. Estamos ficando velhos demais para se preocupar assim com vocês, somos uma família diferente e sempre tivemos inimigos!

ㅡ Não somos assim tão diferentes! E você não está velha coisíssima nenhuma. Eu. Estou. Bem. Ponto.

ㅡ Bem, eu discordo.ㅡ Meu pai entra na sala.

ㅡ Pai...

ㅡ Vamos apenas conversar está bem? Conversar.

Assim como minha casa, conheço a casa dos meus pais como minha palma.

Dez passos e meio até o sofá.

Me sentei.

ㅡ Vamos conversar então.

Minha Solução | Série Irmãos Laurent-(Livro 3) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora