Davi Laurent
Billy me ajudou a chegar à seção de poesia. Sinto diversos cheiros me rondando, sendo o perfume de Billy o mais forte, logo em seguida o cheiro de páginas velhas e por último, quase imperceptível, o cheiro de lavanda. Que vem de William.
—Eu vou dar um telefonema, tudo bem? —Billy sussurra. Quando concordo, ele beija minha bochecha. Seus passos se afastam logo depois dele largar meu braço.
O calor humano dele é substituído por nada. Não consigo saber se William está por perto, mas a duvida logo some quando o cheiro do perfume dele invade minhas narinas e sinto aquele misto de coisas. Felicidade, carinho e empatia, talvez.
—Você gosta de ler? —Pergunto.
—Um pouco, não sou muito chegado à leitura.
—Existe um livro em especial que você adore?
—Se eu disser você vai rir.
—Prometo tentar. William?
—Ah, o senhor pode me chamar de Will se quer.
Não nego que queria que ele me pedisse por tal coisa. Bom, o apelido é mais fácil quando o imagino; cabelos pretos curtos, tatuagens aleatórias, olhos azuis cintilantes e um pouco de um sorriso perfeito.
—Certo Will, qual é o livro?
Ele dá uma risada baixinha antes de falar.
—O Pequeno Príncipe.
—Isto é uma surpresa. —Comento. —Bom, e o que lê agora?
—Bem... Nada, eu não tenho muito tempo para leitura.
—Leia Virginia Wolf, você não vai se arrepender.
—Eu... Tentarei sim, obrigado. Davi...
—Sim?
Estico meus dedos para as lombadas das livros empoleirados nas prateleiras, sinto as inscrições de cada um na ponta dos dedos, sinto a textura diferente de cada livro. Pego um aleatoriamente e entrego para Will.
—Qual é? O autor?
—Ah... Bem... Shakespeare.
—Que sorte a minha, vou ficar. Você pode escolher um se quiser.
—Mas eu... Estou em serviço.
—Será melhor se você esquecer essa parte. Seu serviço por ora é pegar um livro e lê-lo comigo depois. Se quiser, claro.
Não ouso uma resposta, mas depois de um "sim" baixinho escuto os passos dele se afastar. Desejei ver seu sorriso silencioso neste hiato que se passou entre minha fala e os passos dele porque tenho certeza de que ele sorriu, eu queria enxergar a junção real do seu sorriso, dos seus olhos, dos seus cabelos, das suas bochechas e das suas tatuagens. Balanço a cabeça por um instante, os pensamentos começaram depois de imaginá-lo, depois de imaginá-lo como ele se diz ser, depois de Summer o ter chamado de meu príncipe, talvez.
Alguns minutos se passam até que ele volta.
—Virginia Wolf, como me foi recomendado.
—Quem o recomendou é muito sábio.
—Concordo. —Ele fala envergonhado.
—Pode me levar até o balcão?
O calor de sua mão envolve meu antebraço devagar, como se ele estivesse querendo fazer um carinho. Andamos devagar até o balcão. Billy apareceu depois que saímos, ele falou algo para Will, que logo depois soltou meu braço.
—A onde ele foi?
—Buscar o carro. —Billy murmura.
—Para quem ligou? Parece irritado.
—Ninguém importante, que tal... Hoje a noite pedirmos algo naquele restaurante que você gosta? Eu me sinto um pouco indisposto.
—Está tudo bem?
—Está não se preocupe. Vamos encontrar seu amigo.
***
Utah preferiu que ficássemos a sós.
—Algum problema na empresa?
—Não, nenhum e, seu pai está...
—Meu pai? —Pergunto confuso. Utah se cala. —Fale Utah.
—Bom ele pede para que eu envie... Alguns dados para ele, só para conferir a estabilidade das coisas.
—Estabilidade? —Pergunto com desdém.
—Davi, você sabe... É o seu pai.
—É a minha empresa. Olhe você... Há quanto tempo tem enviado isso para ele?
—Alguns meses. Só alguns meses. Por favor, não inicie uma discussão com ele por isso.
—Isso está fora de cogitação.
—Eu já lhe disse tudo que tinha para dizer meu amigo, está tudo sobre controle e ainda mais, os lucros estão subindo e subindo. Então agora mudando completamente de assunto, você tem um segurança.
—Minha mãe... É culpa dela.
—Ora mais quanta honra. Ele parece ser um cara e tanto.
—Ele é legal, mas não vai ficar por muito tempo, é um contrato de seis meses.
—Então vai passar o natal e o ano novo com ele?
—Não, eu planejo dispensa-lo.
—Bem, isso vai ser divertido de se ver. —Ele ri.
—Por favor... Não diga isso, vai ser estranho tê-lo por perto a cada minuto.
—Sem ofensa, mas Billy já parece sua sombra o suficiente.
—Agora eu tenho duas. Que coisa. Como vai sua família?
—Ótimos, minha filha acabou de completar três aninhos.
Passamos a próxima meia hora conversando de uma coisa para outra, a cada mês ou dois, Utah me atualiza sobre minha empresa confio muito nele para cuidar de tudo, e agora recebo a noticia de que meu pai está por trás de algumas coisas também, o que além de ser bom, me faz ficar um pouco desconfortável. Quando Utah avisa que precisa ir, Billy vem até mim e fala um pouco com ele, coisa básica então me leva para o carro e para minha surpresa, Will quem está dirigindo e Billy veio ao meu lado. Ele colocou a mão no meu colo, e diferentemente das outras vezes, me senti pouco a vontade com o toque.
Quando chegamos, Billy perguntou se eu queria que ele lesse para mim a noite.
—Não, hoje não.
Fui andando para meu quarto e tomei um banho relaxante, escutei a água e senti o cheiro de tudo e senti falta do cheiro de lavanda por perto. Meu livro ficou no carro, percebo agora. Saio do banho e me visto.
—Will?
Escuto o som de um engasgo e depois ele responde.
—Te assustei?
—Um pouco, eu não ouvi o senhor chegar.
—Senhor?
—Desculpa é que... Em todos os outros empregos que tive usar isso era obrigatório.
—Não vou insistir para que pare você se acostuma. Eu esqueci meu livro no carro, se importa de pegar?
—Não senhor. —Ele acaba rindo.
Espero por alguns segundos até que ele volta e me entrega o livro.
—Billy vai ler para o senhor?
—Na verdade eu queria que você lesse.
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Minha Solução | Série Irmãos Laurent-(Livro 3) (Romance Gay)
RomanceOs últimos anos não tem sido fáceis para a família Laurent, e agora Valentim e Vanessa tentam convencer seu terceiro filho que ele precisa de um segurança. Davi Laurent não aceita a ideia de primeira, mas para tranquilizar seus pais ele decide fecha...