Capítulo 16

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(William)

Eram 4:00h da matina quando levantei e fui fazer uma caminhada. Coloquei um casaco escuro com capuz e uma calça, e sapatos. Ter aquele vento gelado no rosto eram bom, era um pouco reconfortante para aliviar o vulcão que é minha cabeça. Não tinha feito isso desde que me mudei para a casa de Davi. Para meu trabalho. Só tinha feito corridas assim quando ainda morava com Júlio e, na maioria das vezes eu corria para esquecer uma briga que tivemos. Sempre voltava para pedir desculpas e ele aceitava minhas desculpas. O que era bom, porque ele é meu melhor amigo mesmo que eu tenha vacilado centena de vezes com ele.

Corri um pouco mais do que pretendia, passei segundo uma enorme ladeira e agora estou parado em frente a um grupo de lojas fechadas. Uma pequena garoa começa, ótimo, tenho que voltar. Mas do contrário não volto correndo, vou andando, fazendo meus passos demorarem de propósito apenas para não ter que... Bem, chegar lá.

***

Quando acabo meu banho, visto uma roupa completa preta e depois vou à cozinha. Dei de cara com Billy, vestindo um casaco de lã marrom e segurando uma xícara fumegante de café. Ele não fala nada. Ainda bem.
Antes de por meu próprio café vou ao quarto e pego o livro de Virgínia Woolf, sirvo-me uma xícara de café e sento à mesa. Contemplo o silêncio. Fico assim por horas, apenas lendo e lendo.

Deixo a xícara na mesa, o livro também, vou ao quarto e faço uma ligação para meu irmão, mas ele não atende. Penso em mandar uma mensagem para Owen também, mas sinceramente, o que eu poderia ganhar com isso? Estou no trabalho e mesmo que eu não esteja "trabalhando", duvido que consiga um tempo apenas para ir ver ele.

A porta da frente faz um barulho chato quando é aberta, como alguém arranhando uma parede. Fez esse barulho agora mesmo, pela janela consegui ver Billy saindo de casa abrindo um guarda-chuva preto e sair andando despreocupadamente. Qual era a desse cara? Não o entendo . Ao mesmo tempo que ele me quer longe de Davi, fica saindo o tempo todo, o que como consequência, me deixa sozinho com Davi. Zero lógica.

Quando pensei em deitar, apenas para esperar o tempo passar, o barulho de vidro quebrando fez todo o meu corpo ficar ereto e esquecer o cansaço. Corri para onde o barulho veio, parei a centímetros de dezenas de cacos de vidro brilhantes e afiados. No centro daquele mar, estava meu chefe, vermelho e tremendo.

- Não se mexa.

- Foi um acidente. - Ele resmunga. Com certeza está irritado. - Essa merda de copo estava aqui quando esbarrei na mesa. Droga.

Sinto uma parcela de culpa tomar-me. Eu deixara o copo ali.
Vou até a área de serviço da casa, tive que dar a volta pela porta da frente, depois voltei com uma vassoura e uma pá. Não deixei que ele se mexesse de jeito nenhum. Quando terminei de juntar os cacos maiores, tive que me certificar que nenhum dos cacos menores estava por aí. Levei Davi para o sofá.

- Eu deixei a xícara lá. Desculpa. Se você tivesse se machucado...

- Não me machuquei, certo?

Ele estava corado, juntando isso ao fato da sua voz elevada, sei que sua face vermelha só mostra o quão irritado ele está. Nunca o vi irritado, não achei que veria também. Me sento próximo a ele, apenas alguns centímetros de distância nos separam no sofá. Devo tocar a mão dele ou apenas pedir desculpas mais uma vez?

- Davi... Você está tremendo.

Quando meus irmãos menores ficavam doente eu quem cuidava deles, media a temperatura, ajudava a vomitar e dava remédios. Inconscientemente coloquei a mão direita na curva do pescoço dele.
Estava morno, mas não febril. Meus tendões tocavam na barba dourada dele, lembro neste exato momento de como é beijá-lo, de como foi uma explosão de sentimentos loucos e de como aquela batalha de línguas foi excitante. Arrasto meus dedos devagar pela linha do pescoço dele, traçando um próprio caminho hesitante até tocar no lábio inferior dele. Não entendo o porquê estou fazendo isso, mas entendo que não quero parar. Meu dedo toca a barba de novo e de novo e de novo, mal consigo parar de olhá-lo.
Ele abre a boca, devagar, então sussurra:

- Nunca pensei que gostaria tanto dos seus dedos no meu rosto.

Uma onda de segurança inundou meu corpo, continuei o que eu estava fazendo no seu rosto e acabo por ter a ousadia me aproximar ainda mais. Será que ele consegue sentir o calor do meu sangue na ponta dos dedos? Ou consegue perceber que estou nervoso perto dele assim?

- Achei que...

- Eu sei. - Ele intervém. - Discrição não é uma coisa nossa. Will eu só não quero prejudicar você. De jeito maneira.

Lembro do que Billy me disse. Da denúncia. Abri a boca para confessar essa parte que ele desconhece. Mas algo me impediu de continuar. Eu não quero colocar Billy neste momento, não quando estou a um passo de poder beija-lo. Sinceramente, quero que o mundo todo lá fora se exploda.

- Não estou nem ai. Só dei meu coração para uma pessoa na minha vida e fico destruído ao saber que não tinha sido você. Mas agora estou bem, já superei. Agora quero que... seja você. Pode me dizer qualquer coisa, até me rejeitar se quiser. Mas meu coração agora chama por você a cada batida dele.

Tirei meus dedos do seu queixo.

- Não sou... a melhor pessoa, Will. Não posso nem mesmo andar pela minha cozinha sem derrubar nada.

- Você não precisa pensar nisso. Ninguém é perfeito. Mas não acho que sua deficiência seja colocada como defeito. Davi... Não faça isso com você mesmo, podemos apenas... esquecer a discrição?

Ele se remexeu incomodado.
Rapidamente o nome de Billy vêm a minha cabeça. Abri a boca de novo para perguntar.
No mesmo segundo uma enorme pedra foi atirada na janela perto da porta, espalhando mais cacos de vidros do que antes. Por instinto acabo abaixando Davi contra meu peito. Com o coração acelerado disparo porta a fora mesmo com a chuva.

Cada passo desesperado era uma batida nervosa no meu peito.

Tum-tum, tum-tum, tum-tum...

Minha Solução | Série Irmãos Laurent-(Livro 3) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora