William
A respiração dele está calma, fluída. Ele já dorme. Me levanto com cuidado da cama e saio do quarto.
Já na sala, passo um pouco do meu tempo ocupado como posso: livros, comendo, treino, etc. Quando estava começando a pensar em voltar para o quarto de Davi, logo após um banho, escuto gritarem meu nome. Corro para a porta.
Júlio está no portão, sorrindo para mim. Ou para a casa, acho que ambos. Fui até ele devagar, tentando lembrar se o convidei ou se ele está com problemas apesar de sua aparência estar bem menos desleixada.
- O que foi? - Perguntei preocupado. - Como sabe que eu trabalho aqui? Eu não te contei isso.
- Cara, seu chefe é famoso então você também é. Vi na Internet. Fácil, fácil.
Internet? Não acredito que ha matérias sobre mim e Davi em sites, isso pode começar a droga de uma avalanche em minha vida. Júlio já está aqui, quem será o próximo, Warley?
- Precisa de alguma coisa?
- Vai me deixar entrar?
- Júlio eu... Não tenho permissão para trazer ninguém aqui, não é a minha casa.
- Porra Will, é apenas por cinco minutos. Vamos considerar que eu vim a pé e que estou morrendo de sede. Você meio que esqueceu seu amigo aqui, estou errado?
Não, ele não estava errado. Mandei sim dinheiro para ele, mas acho que o dinheiro não valia de nada pois ele está aqui, veio me ver e está disposto a esquecer o que... O que seja que o deixou chateado. Abro o portão. Espero que Davi ainda durma por um bom tempo e que Billy não apareça como uma assombração.
- Então, você mora aqui? Show.
- É... Vamos à cozinha.
Ele me seguiu. Faço tudo com pressa, até mesmo os meus passos são apressados para irem até a cozinha, até a geladeira, até o armário. Até ele de novo.
- Vocês ficam aqui o tempo todo?
- Não. Ele visita a família e eu tenho treinos.
- Quais coisas você ganha aqui? Tipo, ele te deu um quarto... O que mais?
- Ah... Eu... Nada, apenas isso, eu acho. Você está aqui por que...
- Ah é, tinha esquecido. - Júlio pousa o copo vazio na bancada. - Consegui um emprego por aí. Também aluguei seu quarto para uma mina, ela trouxe o namorado dela e ele é meio... enfim, ele curte. Então, não tem problema tem?
- Não. - Minto.
- Que bom... Quanto tempo você vai ficar aqui mesmo?
- Só mais dois meses e se for aprovado... Não sei, talvez fiquei o resto do ano.
- O que tem aqui para mastigar? Caramba estou faminto.
Suspiro. Me sinto a pior pessoa do mundo por querer que meu melhor amigo vá embora. Vou até o armário e pego uma barra de chocolate que tinha comprado. O dou. Ele mastiga por bastante tempo antes de falar de novo:
- Quem diria que você teria esse privilegio todo.
- O que quer dizer?
- Uma casa chique, comida da boa, um lugar só seu... Você ainda tem aulas grátis. Cara, é um emprego muito bom.
- É sim. O que você vai fazer depois que for?
- Está me expulsando? - Ele ergue as sobrancelhas.
- Não!
- Ah, já entendi...
- Entendeu o quê?
Ele dá uma risadinha e joga a barra de chocolate para longe de si. Ele levanta e vai andando para à sala, o sigo, mas paro quando vejo Júlio olhando para o corredor. Onde Davi está.
- É seu chefe? - Meu amigo anda até ele. - Ah, você não enxerga. Tinha esquecido. Como cumprimenta as pessoas?
- Geralmente só cumprimento que eu conheço. - Davi fala.
Fico calado. Mas não parado. Vou até meu amigo e seguro no ombro dele já o guiando para a porta de novo. Não posso deixar que meu amigo insulte meu chefe, uma coisa dessas pode levar a minha demissão e caralho, não posso perder esse emprego.
- Espera cara, me solta. Seu chefe... É bem esquisito.
- Você o provocou. - Chegamos ao jardim. - Não pode ficar falando para ele que ele não enxerga, acredite, ele já sabe.
- Então você vai ficar do lado dele? Eu só fiz uma observação, não era para ninguém ter levado tão a sério assim. Ele não enxerga, tudo bem, eu só disse isso. Ele nem me cumprimentou direito; gente rica é horrível.
- Não acredito que estou ouvindo isso.
- Quer saber, você está ficando do mesmo jeito que seu chefe. Igualzinho.
- Júlio, eu não...
Paro de falar quando Billy chega aos portões; carregando aquela áurea arrogante. Ele olha primeiro para mim, o olho roxo já sarado. Depois olha para o meu amigo, carregando o olhar com desdém e desinteresse. Júlio também o olhou e, aposto que comprovou sua teoria de que ricos são sempre desprezíveis. Energia parece irradiar dos dois e sinto que a qualquer momento faíscas sairão de seus olhos.
- Quem é ele?
- Um amigo. Não se preocupe ele já está indo.
- Sendo expulso, mas isso é só um detalhe.
Não sei dizer se Billy riu para meu amigo ou rio do meu amigo. Ando com Júlio até os portões enquanto Billy entra na casa, quando escuto o baque da porta volto a falar com meu amigo de novo para tentar contornar essa situação.
- Nem se preocupe. - Ele corta minhas falas. - Eu nunca mais... Vou vir aqui.
- Obrigado. - Suspiro.
- Mas em troca, você não pode mais aparecer lá em casa... Seria bom se você esquecesse que morou lá.
O aperto no peito voltou. Perder uma paixão é doloroso, mas não se compara a apunhalada que é perder uma amizade de anos. Ouvir que ele alugou meu quarto foi um misto de alegria e tristeza: se ele está precisando do dinheiro, eu entendo, mas ele não poderia ter amenizado a notícia? Ele falou como se os anos que passamos naquela casa fossem igual nada.
- Júlio... Pelo amor de Deus... Não fica com essa cara aí. Não é a minha casa, não posso ter convidados aqui.
- Pelo visto você também não liga de pedir. Que seja.
Ele vai andando pela rua deserta. Nem mesmo ouso correr atrás dele, não quero iniciar uma nova discussão. Sinto que essa discussão em especifico não vai se resolver apenas com um pedido de desculpas meu, ele está terrivelmente chateado. Fico mais dois minutos parado do lado de fora antes de decidir entrar na casa. Meu chefe e Billy estão sentados no sofá.
- Seu amiguinho já foi? - Billy pergunta, a voz carregada de indiferença.
- Sim. Não... Foi ideia minha trazê-lo, ele apenas apareceu aqui.
- Will... William. Eu e Billy vamos conversar e... Não necessito de interrupções, certo?
- Sim. Senhor.
Odeio quando acrescentamos formalidade nas nossas frases quando alguém está por perto. O modo como falamos quando estamos sozinhos é maravilhoso, é excitante e nosso, isso que importa. Mas quando estamos com alguém, mudamos. Frases são apenas frases, não surtem nenhum efeito no meu estômago ou me faz esquentar. Nunca achei que palavras fossem tão poderosas, mas, foi com elas que Davi me fez se apaixonar por ele.
Quando os dois se vão, percebo que entram no escritório, e não no quarto. Isso alivia um pouco.
Pego meu celular e pesquiso sobre Davi Laurent e coloco em matérias recentes e, como Júlio falou, eu estou mesmo em várias matérias. Meu coração quase para de bater ao ver uma foto minha e de Davi. Aos beijos.
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Minha Solução | Série Irmãos Laurent-(Livro 3) (Romance Gay)
RomanceOs últimos anos não tem sido fáceis para a família Laurent, e agora Valentim e Vanessa tentam convencer seu terceiro filho que ele precisa de um segurança. Davi Laurent não aceita a ideia de primeira, mas para tranquilizar seus pais ele decide fecha...