Davi
Escutando as vozes dos meus irmãos acabo fingindo está interessado no assunto que se segue, mas isso é mentira. Na verdade estou em uma guerra interna para saber se devo mandar uma nova mensagem para Rafael, coisa que, mesmo pensando sei que vou acabar fazendo e por algum milagre ele ainda não me xingou.
Meus dedos estão parados no meu colo, mesmo que minha perna balance desde que me sentei na cadeira do meu escritório. Fiquei tentado a ligar para Will também mas caso ele esteja conversando com os pais ou com o irmão eu não quero atrapalhar.
- Está me escutando?
Caio na realidade com a voz de Kevin me chamando.
- Distraído. Repita.
- Joel Sapiz não está em nenhuma de suas casas. Fugiu.
- Ainda estou tentando rastrear algo. - Diz Diego. - Billy é o sobrinho dele não tem algo que nos ajude nisso? Ele ofereceu ajuda?
- Não sei.
Admitir que eu não conhecia Billy tão bem quanto achei faz uma enorme pedra cair no meu peito. Então todos esses anos foram um tipo de fraude? Porque se sim, Billy deve estar agora ajudando o tio dele a fugir para Deus sabe onde. Todas as noites em que ele leu para mim ou que nos colocamos a falar de problemas sobre nós ele nunca mencionou a sua família, eu nem mesmo sei o nome completo dele e se eu tivesse apenas um pingo de raciocínio poderia de alguma forma ter ligado os pontos. Poderia ter feito alguma coisa pelo menos. Um estranho vazio me invade de repente, então depois de alguns segundos reconheço a sensação de invalidade, inutilidade, a sensação de ser descartável. Continuo com a conversa com meus irmãos e mesmo antes de falar algo ouço a porta da frente abrir e a voz de Will me chamar.
- Will está em casa. - Digo saindo dos devaneios. - Falo com vocês depois.
Eles murmuram alguma coisa que não ouvi, apenas arrastei meu dedo para a tela até achar o botão de desligar. Levantei da cadeira o mais rápido que consegui, uma das minhas pernas está formigando e dificulta meus passos até a porta. Quando tateio até achar a maçaneta, suspiro aliviado.
- Will?
- Oi. Estou aqui.
A voz dele estava estranha, soava desesperada. Pensei nele no hospital, enfrentando os pais, talvez enfrentando a notícia de que mais um dos seus irmãos morrera. Ele não me disse onde estava então apenas fiquei parado esperando algo mais.
- Está tudo bem? - Pergunto, finalmente.
- Está. O que estava fazendo? - Pergunta.
- Eu... Will, não gosto quando foge das perguntas. Ty... Não está bem, é isso?
Eu sinto como se ele estivesse travando uma guerra consigo mesmo. Talvez uma parte sua esteja querendo me contar a verdade: "Ty não aceitou vir morar conosco", "Meus pais não querem que você cuide do meu irmão comigo porque eu sou considerado um marginal e você é cego", ou, "Ele não sobreviveu, é isso e não me diga que você entende". Eu era capaz de compreender esse lado, definitivamente não me deixaria me magoar tanto, porque o que importa é a dor dele que quero que dívida comigo. Outra parte sua está escondendo a verdade em um cobertor de mentiras, quase transparente: "Está tudo bem" Ele começou com isso. Então logo viria, talvez, "Ty apenas repensou na idéia de vir morar com a gente, nada a ver com você." Então eu perguntaria sobre os pais dele e novamente um cobertor de mentiras. "Eles não falaram nada Davi, não se preocupe com eles. Levaram Ty e disseram que foi um prazer conhecer você. Vamos esquecer isso." Eu não sou capaz de aguentar as mentiras que ele possa falar, não quero que ele minta sobre nada porque estou disposto a dividir o peso da verdade com ele. Mas quem faria isso com uma pessoa que conta mentiras?
- Ty está bem. Eu só estou com dor de cabeça. Só isso.
- Certo. - Digo aborrecido. - Onde você está?
- Estou... - Ele hesita. - A mais ou menos onze ou doze passos. Perto da janela.
Conto os passos na mente depois de traça-los. Finalmente acho que parei a sua frete e para confirmar isso levo minha mão ao seu rosto, as pontas dos meus dedos traçam contornos calmos e levemente suaves, porém complexos. Eu estava estudando-o. Sua testa está franzida, o maxilar trincado, os ombros tensos.
Uma corrente de ar bateu na minha nuca me fazendo arrepiar. Tento prestar mais atenção aos detalhes do rosto dele até que me dou conta de que não foi uma corrente de ar que me arrepiou há um segundo atrás; foi a respiração de outra pessoa.Alguém está aqui conosco. Um terceiro. Tento não demonstrar que sei desse fato, continuo tocando Will e passo os dedos pela sua nuca. Aliso aquele canto em especifico e depois o abraço. Aperto-o não querendo que ele escape de mim nunca, não importa o que aconteça.
- Quem é? - Sussurro. Logo depois digo mais alto: - Como foi lá?
- Bem. - Ele diz. - Ty está bem e logo acorda. Temos que preparar um quarto para ele, amor.
- Certo. - Digo. - Chaves. Na mesinha. - Sussurro de novo.
Ele assente de modo breve. Me afasto de Will e cambaleio para trás; automaticamente encosto minhas costas no peito da tal pessoa.
- Como vai senhor Laurent? - Diz a voz.
Diz a voz de Ross.
Quando escuto o barulho das chaves acerto o cotovelo no estômago dele e depois no rosto; no olho? Não sei, mas Will me puxou pelo antebraço e logo sinto o ar fresco no rosto. Com pressa sou colocado dentro do carro, Will fecha a porta com força e segundos depois está ligando o motor justamente quando um tiro acerta algo ao meu lado, escuto o barulho de vidro se estilhaçando. Will acelera.
- Para onde vamos? - Ele pergunta em alto tom para ultrapassar o barulho dos pneus.
- Eu sei um lugar. Continue dirigindo.
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Minha Solução | Série Irmãos Laurent-(Livro 3) (Romance Gay)
RomansaOs últimos anos não tem sido fáceis para a família Laurent, e agora Valentim e Vanessa tentam convencer seu terceiro filho que ele precisa de um segurança. Davi Laurent não aceita a ideia de primeira, mas para tranquilizar seus pais ele decide fecha...