Capítulo 44

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William

Não consegui dormir completamente. Me levantei às quatro da madrugada e fiquei rodando pela casa; ia ao banheiro, à cozinha, à sala e depois à porta. Vesti uma roupa grossa e tênis acabei abrindo a porta devagar e saí caminhando pelo crepúsculo. O ar frio era bom para os meus pulmões e quanto mais eu acelerava mais me sentia bem. Me sentia vivo. Me sentia, apesar de toda a dor dentro de mim, capaz de vencer alguma coisa. A sensação nem parece precisar de nome, eu apenas a saboreio como se de fato ela não fosse escorrer de mim como vai alguma hora. 

Corro até uma rua distante, depois entro em um estabelecimento para ir ao banheiro. Quando saio da cabine um homem que parece ter mais ou menos quarenta anos se aproxima de mim, ele está com um cheiro estranho e parece cansado. 

- Ei boneca... Eu deixo você me tocar... - Ele dá um arroto abafado. Depois um sorriso grotesco. 

- Não. - Digo curto e grosso. 

Vou em direção à pia e lavo as mãos; o ar fresco está no exterior aqui dentro só existe cheiro de bebida e urina e minha cabeça está rodando. 

O homem segurou meu braço molhado, um aperto firme demais para ser vindo de um homem bêbado. A mão dele está enfaixada com um pano branco, melada de algo amarelo e vermelho. 

- Ei, eu já vi caras igual a você. O que vai ser primeiro? Uma bebida ou vamos para o meu carro? Eu tenho uma surpresa para você boneca. 

Segurei a mão daquele homem com força para que meus dedos não escorreguem pelas gotas de água. Ele abriu a boca em um gemido brutal. A mão deve ter sofrido uma queimadura recente. Apertei mais a mão dele e deixei que ele ficasse de joelhos na minha frente pedindo que eu parasse com aquilo. 

- Está me machucando seu filho da puta. 

Por fim acerto um soco no olho dele, por sorte acabei acertando no direito, onde ele parecia ter uma ferida aberta. Ele caiu. 

- Nunca... Escuta seu idiota. Nunca toque em ninguém assim, nem homens nem mulheres. 

- Peguei mais gente nesse banheiro do que você imagina. - Ele diz rindo, uma risada seca. - A última foi uma mulher loura, ela tinha um rosto de anjo e não quis... Foder, mas eu só prendi ela e rasguei aquele short de vadia que ela tinha. Ela gemeu igual uma garota de programa e não duvido que seja mesmo. 

Agarro aquela camisa suja dele e o coloco contra a parede. A mão dele escorrega para o meio das minhas pernas. 

- O que você esconde aqui gatinho? 

- Nada que seja seu. - O jogo para longe. 

O cheio meio escorregadio do banheiro o faz escorregar para longe, para perto de uma das últimas cabines. Deixo ele ali até que ele se levante.

- Você já me encheu a paciência, seu fodido. 

O homem avança. 

O pego pelo antebraço, o aperto e o coloco contra a parede com o braço quase tocando sua nuca. Ele dá um grito estridente. O corpo do homem tem espasmos para conseguir se livrar da minha mão, mas só o largo quando consigo fazê-lo desmaiar quando o sufoco um pouco. O corpo flácido no chão, fedido, nojento até alma. 

Ligo para a polícia e depois dou a localização de onde estou; saio do banheiro depois de lavar minhas mãos. De novo. 

Quando chego em casa são cinco horas e dez. Davi ainda dorme por sorte. Acabo fazendo o café, tentando acalmar meus nervos dos acontecimentos. A verdade é que me fez lembrar do passado e não é algo que eu gosto. Há um tempo, antes de eu namorar Warley, uma homem... Não me lembro do nome e muito menos da aparência dele, apenas da voz que parecia de algum vilão de desenho animado. Eu tinha ido comprar algo para minha mãe, estava voltando para casa quando aquele homem me agarrou pelo braço e disse que eu era incrível. Mas não levei aquilo como elogio, nem me pareceu um. Depois ele perguntou onde eu morava, mas eu não respondi, não respondi quando ele perguntou se eu morava com meus pais ou não. Aquele homem tentou tirar minha roupa no meio de um beco que, apesar de ser dia, estava mal iluminado. Mas eu consegui correr, ele tinha arranhado minha cintura, tinha puxado meu cabelo. Ele me chamou de bonequinho. Quando cheguei em casa naquele dia, não contei a ninguém o que tinha acontecido porque estava com medo, era surreal, mas algo dentro de mim implorava para que eu ficasse calado pois se eu ficasse calado acabaria esquecendo e foi o que aconteceu nos próximos dias. Eu esqueci, mas o momento sempre vai estar aqui. A sensação.O pavor.  

Minha Solução | Série Irmãos Laurent-(Livro 3) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora