Capítulo L - À cinq

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Marrocos pareceu ganhar novos ares. Benício e Vitória caminhavam pelas ruas de Tangêr alegres e sorridentes, explorando o mundo novo que se abria em sua frente. Passavam horas e horas perdendo-se nas ruelas da Medina, experimentando tudo o que vendedores ambulantes vendiam e descobrindo pedaços da história difíceis de se aprender em livros. De noite, tiravam a roupa e pulavam na piscina do terraço, contavam estrelas, conversavam sobre tudo menos eles mesmos e dormiam do lado de fora. Não era incomum que as empregadas os vissem transando em variados lugares do riad - na maioria das vezes, ignoravam-os, pois sabiam que eles ignoravam-nas e não parariam de fazer por conta de suas presenças - era a lua-de-mel deles, afinal.

- Como foi tua primeira vez? - Perguntou Vitória enquanto ela e Benício estavam deitados na espreguiçadeira do terraço, nus, bebendo chá de hortelã e observando o fim de tarde.

- Com licença?

- Perguntei sobre tua primeira vez.

- Sexo?

- Não, imagine, a primeira vez que arrancaste um dente.

- Idiota.

- É sério! - riu.

- Bem, foi no meu segundo ano em Coimbra.

- Quantos anos tinhas?

- Vinte. - revirou os olhos - Vinte e um.

- E com quem foi?

- Isso é um interrogatório?

- Não. Não precisas dizer se não quiseres. - riu - Estou apenas curiosa.

- Sei... - revirou os olhos.

- Foi com uma prostituta?

- Não. - riu.

- Não sei, a maioria dos homens descobre o sexo assim. Namorada?

- Não sei se posso chamar assim. Ela era uma amiga. - suspirou - Era irmã mais velha de um dos meus colegas de classe.

- Mais velha? Mais velha quanto? - riu.

- Quinze ou dezesseis anos.

- Nossa. - arregalou os olhos - Tudo bem, conte-me.

- Durante a guerra eu não conseguia vir para o Brasil durante os recessos da universidade. Um colega de classe convidou-me para passar o verão em Porto, na casa da família dele.

- E lá conheceste a irmã do teu amigo?

- É. Alexandra. Ela era linda. - riu - Certa noite, ela deixou um bilhete bem indecente de baixo da minha porta. Passei o verão inteiro esgueirando-me até o quarto dela de madrugada. E ela agia como se não me conhecesse durante o dia.

- Ela era casada?

- Viúva. E tinha uma ótima reputação por isso. - riu - O marido dela morreu enquanto transavam.

- O quê!? - riu - Como assim!?

- É isso mesmo. Na lua-de-mel.

- O cara era velho ou algo do tipo?

- Nada. Acho que não tinha trinta quando morreu. Simplesmente infartou. Meus colegas contaram-me essa história quando souberam que eu passaria o verão na casa de Otávio. Diziam que ela tinha muitos amantes, mas nenhum deles sobrevivia para contar história.

- E dormiste com ela mesmo com a fama de viúva negra da mulher? - riu.

- Se a visses entenderias minha disposição para morrer sob aquelas circunstâncias. - riu.

- Jesus Cristo. - riu.

- Enfim, conte-me sobre a tua.

- Bem... Foi um pouco menos interessante que a tua, eu diria.

Castro e SouzaOnde histórias criam vida. Descubra agora