Capítulo LXXIX - Uma fotógrafa e um químico

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Benício estacionou o carro na frente da casa dos tios de Vitória. Ela, sentada no banco ao lado dele, tirava o excesso do batom olhando no retrovisor. Vê-la fazendo coisas tão triviais causavam nele uma sensação boa, simplesmente por serem as coisas que ela faz normalmente quando não está em crise ou algo assim.

- Estás bonita. - Disse ele, tirando o retrovisor da mão dela e ajeitando novamente.

- Obrigada, eu acredito nisso.

- Engraçadinha. Vamos?

- Ainda há tempo de desistir.

- E perder uma oportunidade de irritar profundamente teu tio e teu primo com a minha presença? Não mesmo.

- Idiota. - revirou os olhos - Espere, como assim meu primo?

- Teu primo me odeia.

- Por quê?

- Porque gosta de ti.

- É o quê!?

- Eu não posso acreditar que estás surpresa com esta informação.

- É claro que estou! Credo, ele é meu primo!

- Sim, e você é a prima bonita dele.

- Eu vi aquela criança ser batizada!

- Viu? Eu adoro jantar aqui.

E o jantar, de fato, era um momento divertido. Dona Laura adorava Benício, bem como Estela e o pequeno Henrique. Seu Afonso não ia com a sua cara de jeito nenhum, mas havia aprendido a não desgostar tanto assim dele. Bernardo permanecia com seu ódio silencioso catalizado pelos ciúmes e uma certa inveja que ainda tardariam a desaparecer. Mas era uma família bonita e muito amorosa. Tanto para Benício quanto para Vitória, não era um grande sacrifício estar com eles.

- Estela, teu cabelo está lindo. - Comentou Vitória sobre o cabelo da prima, que ostentava os cachos curtos alguns dedos a cima dos ombros.

- Obrigada, prima! Eu queria cortar mais, porém... - revirou os olhos.

- Está ótimo o tamanho, Estela. - Disse Dona Laura.

- Ela ainda me obriga a modelar todo santo dia! - Reclamou Estela para Vitória.

- Mas é claro, não posso deixá-la ir toda desleixada para a escola, tem rapazes lá! - Disse Dona Laura. - Um deles pode ser teu futuro marido.

- Estou indo para a escola para ser uma Doutora como a minha prima, não para arranjar marido, mamãe. - Respondeu Estela. Vitória piscou para ela do outro lado da mesa.

- Podes muito bem fazer os dois. - Continuou Dona Laura. - E o Colégio está cheio de jovens rapazes respeitáveis e com um futuro brilhante.

- Dona Laura, tua filha pode fazer melhor na vida do que aqueles garotos do Pedro II. - Disse Benício.

- Você saiu de lá, não foi? - Resmungou Seu Afonso. Vitória pôs a mão na boca para não rir.

- Sim, falo com propriedade. - Respondeu Benício, rindo. - Eles não prestam. - sussurrou para Estela, que riu em resposta.

- Vitto, coloque mais comida neste prato. - Disse Dona Laura.

- Estou comendo bastante. - Respondeu Vitória.

- Desde aquele dia na casa de Helena eu fiquei realmente preocupada contigo, sabia? Não podes ficar desmaiando por aí.

- Eu prometo que estou comendo bem, tia, fique tranquila. - sorriu.

- Além de preocupante... Bem, todos ficamos um pouco desapontados quando o médico não nos deu a boa notícia que esperávamos.

- Eu recebi uma ótima notícia que eu não esperava. - Resmungou Vitória, enterrando o rosto na taça de vinho para disfarçar.

Castro e SouzaOnde histórias criam vida. Descubra agora