Benício estacionou o carro na frente da casa dos tios de Vitória. Ela, sentada no banco ao lado dele, tirava o excesso do batom olhando no retrovisor. Vê-la fazendo coisas tão triviais causavam nele uma sensação boa, simplesmente por serem as coisas que ela faz normalmente quando não está em crise ou algo assim.
- Estás bonita. - Disse ele, tirando o retrovisor da mão dela e ajeitando novamente.
- Obrigada, eu acredito nisso.
- Engraçadinha. Vamos?
- Ainda há tempo de desistir.
- E perder uma oportunidade de irritar profundamente teu tio e teu primo com a minha presença? Não mesmo.
- Idiota. - revirou os olhos - Espere, como assim meu primo?
- Teu primo me odeia.
- Por quê?
- Porque gosta de ti.
- É o quê!?
- Eu não posso acreditar que estás surpresa com esta informação.
- É claro que estou! Credo, ele é meu primo!
- Sim, e você é a prima bonita dele.
- Eu vi aquela criança ser batizada!
- Viu? Eu adoro jantar aqui.
E o jantar, de fato, era um momento divertido. Dona Laura adorava Benício, bem como Estela e o pequeno Henrique. Seu Afonso não ia com a sua cara de jeito nenhum, mas havia aprendido a não desgostar tanto assim dele. Bernardo permanecia com seu ódio silencioso catalizado pelos ciúmes e uma certa inveja que ainda tardariam a desaparecer. Mas era uma família bonita e muito amorosa. Tanto para Benício quanto para Vitória, não era um grande sacrifício estar com eles.
- Estela, teu cabelo está lindo. - Comentou Vitória sobre o cabelo da prima, que ostentava os cachos curtos alguns dedos a cima dos ombros.
- Obrigada, prima! Eu queria cortar mais, porém... - revirou os olhos.
- Está ótimo o tamanho, Estela. - Disse Dona Laura.
- Ela ainda me obriga a modelar todo santo dia! - Reclamou Estela para Vitória.
- Mas é claro, não posso deixá-la ir toda desleixada para a escola, tem rapazes lá! - Disse Dona Laura. - Um deles pode ser teu futuro marido.
- Estou indo para a escola para ser uma Doutora como a minha prima, não para arranjar marido, mamãe. - Respondeu Estela. Vitória piscou para ela do outro lado da mesa.
- Podes muito bem fazer os dois. - Continuou Dona Laura. - E o Colégio está cheio de jovens rapazes respeitáveis e com um futuro brilhante.
- Dona Laura, tua filha pode fazer melhor na vida do que aqueles garotos do Pedro II. - Disse Benício.
- Você saiu de lá, não foi? - Resmungou Seu Afonso. Vitória pôs a mão na boca para não rir.
- Sim, falo com propriedade. - Respondeu Benício, rindo. - Eles não prestam. - sussurrou para Estela, que riu em resposta.
- Vitto, coloque mais comida neste prato. - Disse Dona Laura.
- Estou comendo bastante. - Respondeu Vitória.
- Desde aquele dia na casa de Helena eu fiquei realmente preocupada contigo, sabia? Não podes ficar desmaiando por aí.
- Eu prometo que estou comendo bem, tia, fique tranquila. - sorriu.
- Além de preocupante... Bem, todos ficamos um pouco desapontados quando o médico não nos deu a boa notícia que esperávamos.
- Eu recebi uma ótima notícia que eu não esperava. - Resmungou Vitória, enterrando o rosto na taça de vinho para disfarçar.
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Castro e Souza
Ficción históricaVENCEDOR #Wattys2018 Em 1925, dois membros da alta burguesia carioca - os belos herdeiros Vitória de Castro e Benício de Souza - tornam-se cúmplices de um crime quase perfeito, mas acabam colocando suas próprias reputações em jogo para ocultar seus...