A alta sociedade carioca estava reunida em tendas luxuosas armadas na Marquês de São Vicente para ver a largada de uma das corridas de rua mais aguardadas do ano: treze pilotos, de diversas nacionalidades, disputariam o Circuito da Gávea ou, como era popularmente conhecido, o Trampolim do Diabo, um circuito de rua de 11 quilômetros com mais de cem curvas que contorna o Morro Dois Irmãos. É famoso por ser extremamente perigoso, ao mesmo tempo que oferece aos competidores uma das vistas mais deslumbrantes do Rio de Janeiro.
O filho de Marieta e os filhos de Helena brincavam animadamente pelas tendas com outras crianças, tornando o trabalho de suas babás mais difícil. Helena, que passaria a semana na casa dos pais, estava sentada com o marido Sebastian ao lado de Marieta e Lourenço. Os dois esposos conversavam com outros homens por perto enquanto as mulheres engajavam em seus próprios assuntos saboreando seu champanhe.
– Onde está Vitória? – Perguntou Marieta para a amiga. – Achei que fosse vir contigo.
– Ela já vem. Foi resolver alguma coisa na Importadora.
Marieta olhou para o irmão, já vestido em seu macacão de pilotagem enquanto conversava com os mecânicos da escuderia que preparavam os carros.
– Benício disse-me esta semana que estava ansioso para vê-la. Comentou até sobre pedir a ela um beijo de boa sorte antes da corrida. – Comentou Marieta, animada.
– Eu sabia que o coração dele seria mais fácil de derreter! – Exclamou Helena. – Ela, por outro lado, ainda se faz de desentendida quando pergunto sobre.
Poucos minutos depois, Vitória chegou dirigindo seu próprio carro – um Citroën B14 customizado em azul-marinho. Quando um dos manobristas abriu a porta e ofereceu-lhe a mão para descer, a Doutora exibiu um belíssimo vestido de alças, combinando perfeitamente com o calor do dia e ostentava um chapéu no estilo carthwell, sem muitas flores, ao contrário dos tradicionais cloches usados pela maioria das moças. Cumprimentou a prima, a amiga e seus respectivos maridos, sendo introduzida a umas pessoas ao redor.
– Vitto, estás linda! Por que trocaste de roupa? – Questionou sua prima.
– Sujei a outra roupa de graxa no cais, tive que passar em casa para trocar. Sofia que escolhera esta para mim.
– A alemãzinha fez bem! – Comentou Helena.
– Só sei que estou desapontado contigo, Doutora. – Introduziu-se Lourenço. – Disseste-me que eu seria o primeiro a comprar o B14 em solo brasileiro.
– Primeiro, não primeira! – Brincou Vitória. Lourenço riu. – E, de qualquer forma, não o comprei, pelo menos não ainda. O carregamento chegara ontem, permitiram-me usar o carro para experimentar. Estarão à venda a partir da semana que vem!
– Doutora! – Exclamou Benício ao se aproximar do grupo.
– Olá, Benício!
Os dois se cumprimentaram com breves beijos no rosto. Helena e Marieta já se olhavam engraçado.
– Já estava achando que não fosses vir. – Disse o piloto, divertido. – Servida?
Benício fez sinal para o garçom que serviu para a Doutora uma taça de champanhe.
– Queres conhecer a escuderia? A corrida não deve demorar para começar.
– Claro, pode ser. - sorriu.
– Acompanhe-me.
Benício estendeu o braço para Vitória e ela riu diante de sua formalidade.
– Temos três carros competindo pela escuderia Palo-Souza hoje. – Comentou Benício.
– Este é o seu? – Perguntou Vitória, alisando a lataria de seu Dodge customizado, dessa vez ostentando o número 6.
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Castro e Souza
Ficção HistóricaVENCEDOR #Wattys2018 Em 1925, dois membros da alta burguesia carioca - os belos herdeiros Vitória de Castro e Benício de Souza - tornam-se cúmplices de um crime quase perfeito, mas acabam colocando suas próprias reputações em jogo para ocultar seus...