O almoço na casa de Helena estava sendo, de fato, constrangedor. O clima estava silencioso e engraçado. Os dois amantes soltavam risadas discretas da situação a todo momento; a dona da casa e sua hóspede os olhavam com reprovação e teciam comentários um pouco ácidos; Sebastian, coitado, nem se quer entendia o que estava acontecendo.
– Helena, o almoço está maravilhoso. – Elogiou Vitória. – Há muito tempo não como Confit de pato.
– Um prato francês para prestar uma homenagem aos teus hábitos franceses. - Respondeu Helena, murmurando.
– Ah, Meu Deus do céu. – Vitoria revirou os olhos e riu. Benício também.
– O que isso quer dizer? – Perguntou Sebastian, com seu sotaque pesado e jeitinho simpático.
– É melhor não saber, Sebastian. – Respondeu Vitória.
E, baseado nesse clima de indiretas e descontração, o almoço prosseguiu calmamente. Helena e Marieta não estavam verdadeiramente furiosas, mas sentiam-se no direito de descontar a própria irritação nos dois; elas tiveram a ideia de juntá-los justamente por acreditarem na semelhança de seus jeitos e complexos e, no fim das contas, eles sucumbiram ao mais típico traço de suas personalidades.
Acabado o almoço, estavam na sala conversando enquanto bebiam o champanhe de domingo obrigatório de Helena.
– Então, como foi o voo ontem? – Perguntou Marieta.
– Incrível. Estou com vontade de abandonar as pistas e me tornar aviador. – Respondeu Benício, animado, em tom de brincadeira.
– Benício, não me mate do coração, pelo amor De Deus. – Suspirou Marieta, colocando a mão no peito.
– O que acharam do chalé de caça? – Questionou Helena, maliciosamente.
Benício e Vitória viraram a cara e arregalaram os olhos.
– Sebastian, meu caro, soube que compraste um carro novo. – Comentou Benício. – Gostarias de me mostrar?
– Claro! – Respondeu Sebastian, animado. Não estava entendendo mais nada daquela conversa na sala mesmo.
Benício e Sebastian levantaram-se para sair. Vitória olhou, fulminante, para Benício.
– Lachê¹. – Resmungou Vitória, em francês.
– Je te dois des excuses plus tard, Docteur². – Respondeu Benício, baixo, enquanto saia para a garagem com Sebastian. Vitória curvou os beiços e franziu o cenho em surpresa ao escutá-lo falar francês.
Marieta e Helena encaravam Vitória como duas esfinges.
– Querem parar com isto, as duas? – Reclamou Vitória.
– Querem parar, os dois safados, com esta safadeza? – Rebateu Helena, sorrindo sarcasticamente, como sempre.
– Lá vem... – Vitória revirou os olhos e suspirou.
– Agora ficam se comunicando em francês. Olha, francamente, arrumem um quarto.
– Podemos arrumar. O teu serve? – Ironizou Vitória.
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Castro e Souza
Ficción históricaVENCEDOR #Wattys2018 Em 1925, dois membros da alta burguesia carioca - os belos herdeiros Vitória de Castro e Benício de Souza - tornam-se cúmplices de um crime quase perfeito, mas acabam colocando suas próprias reputações em jogo para ocultar seus...