Capítulo XLVII - Tempos de amores ilícitos

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O dia amanheceu ensolarado e bonito. O único barulho que invadia a mansão da família Assis de Castro era o dos passarinhos cantando e de alguns empregados que já começavam seu dia. Os hóspedes, familiares dos noivos vindos de Portugal, dormiam profundamente em um sono pesado já que nenhum deles conseguira dormir antes da meia-noite - o barulho vindo do quarto dos noivos era simplesmente insuportável.

Benício acordou com a luz do sol eu seu rosto. As cortinas e as janelas estavam abertas. Estava deitado de mal jeito na cama despedaçada cujo estrado encontrava-se no chão. Sua cabeça latejava com a ressaca. Olhou para o lado e viu que Vitória ainda dormia profundamente de costas para ele, enrolada em um lençol. Memórias da noite anterior começaram a invadir sua cabeça. Queria levantar-se, mas seu corpo não o permitira. Estava exausto. Sua coluna doía junto com sua cabeça. Sabia que não conseguiria dormir novamente, então ficou apenas deitado seguindo o dilatar do torso da esposa com os olhos. O relógio em seu pulso indicava que eram quase sete da manhã. O gosto dela ainda estava em sua boca, o cheiro dela invadia o quarto e a figura dela, quiescente e enigmática, estava ali, jogada no colchão, bem ao seu lado.

Passava das oito da manhã quando Vitória despertou. Com os olhos pesados e o corpo fatigante, ela olhou em volta e viu que Benício não se encontrava ao lado. Um barulho de água vindo do banheiro fez com que ela olhasse para cima, percebendo, por fim, que o marido encontrava-se no banheiro. Ela observou-o lavar as mãos, pela porta entreaberta, ainda nu, e jogar uma boa quantidade de água no rosto em seguida, encarando o próprio reflexo no espelho por alguns segundos. Ele adentrara o quarto novamente e viu que Vitória já se encontrava de olhos abertos.

- Bom dia. - Disse Benício.

- Bom dia. - Disse Vitória.

- Dormiste bem?

Vitória assentiu, mas sua expressão contrariava aquela afirmativa.

- Está tudo bem mesmo?

- Está. Está sim. - riu - Eu devo ficar sem andar por um dia ou dois. - Brincou Vitória, enquanto virava o corpo para se levantar.

- Ah, claro. - riu.

- E tu? Dormiste bem?

- Na medida do possível.

- Deus, eu preciso de um banho. - Comentou Vitória, sentando-se. Ela fez uma careta de desconforto e passou uma das mãos por dentro do lençol, retirando de lá os dedos ensanguentados.

- Merda. - sussurrou.

- Isto é... Sangue?

- É. - Conformou Vitória, naturalmente, e pôs-se a levantar mais uma vez.

- Espere!

- Esperar o quê?

- Não levantes.

- Por quê!?

- Estás... Ferida...?

Vitória olhou séria para expressão de preocupação de Benício por alguns segundos até desabrochar em uma gargalhada continua e escandalosa.

- Vitória? - Perguntou Benício, ainda sério, vendo-a rir. - Vitória! Pare de rir, mulher, e diga-me o que está havendo! - Pediu ele, mas Vitória continuava ficando vermelha de tanto rir. - Vitória! - Gritou ele, rindo também, contagiado por ela, mas segurando o riso.

- Ah, Meu Deus. - Disse Vitória, por fim, quase sem ar. - É a minha regra, seu imbecil! - riu.

Benício revirou os olhos e soltou uma risada.

- Poderia ter dito ao invés de ficar rindo!

- Ah, mas foi muito engraçada a tua reação. - riu.

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