Após uma árdua ressaca e um pedido de desculpas à Jamila, a empregada que presenciara aquela cena na noite anterior, Vitória e Benício trataram de fingir novamente que nada havia acontecido. Começaram a sair para lugares diferentes e a fazer coisas diferentes, sem darem muitas satisfações um para o outro, durante uns dois dias. Sabiam bem que havia algo de errado na forma como estavam agindo, mas nenhum dos dois tinha coragem para dar o braço a torcer e conversar sobre. Vitória sempre ia dormir mais cedo e acordava mais tarde, de forma que nem aquele momento silencioso de reflexão na cama era possível. Era um jogo sem vencedores ou perdedores que os dois iriam jogar até um ou outro se cansar.
Vitória foi à praia passear de camelo com Nicola, Augusto e mais alguns amigos e passou o dia inteiro fora. Questionada sobre separar-se do marido em plena lua-de-mel, ela apenas dizia que ele tinha ido assistir a uma corrida de rua e também estava fora, portanto não queria ficar sozinha no riad. Benício havia, de fato, ir assistir uma disputa de rua - convidado por alguns dos conhecidos que fizera no hotel -, mas chegou a pedir que Vitória o acompanhasse. Ela recusando, os dois, mais uma vez, foram fazer coisas distintas. Vitória retornou da praia já no fim da tarde, mas Benício não havia retornado ainda. Ela estava saindo do banheiro após tomar um banho quando o viu adentrar o quarto.
- Meu Deus, por onde esteves? - Perguntou Vitória ao vê-lo com o terno todo sujo de terra e graxa.
- Ah, sim. - riu - Um dos pilotos teve um problema com o carro e eu fui ajudar. Enguiçou no meio do percurso.
- Entendi. - riu - Aproveitaste o dia?
- Bastante. E tu?
- Também. - sorriu.
- Ótimo. Deus, preciso de um banho.
- Não discordo. - riu.
Benício correu para o banheiro largando terno, gravata e chapéu pelo chão. Vitória sentou-se na penteadeira para tentar secar um pouco os cabelos antes de deitar. Ao ouvir o chuveiro ser desligado, ela percebeu que ele havia entrado no banheiro sem levar sua roupa de dormir. Como ela previra, o mesmo saiu do banheiro enrolado na toalha.
- Segunda gaveta. - Disse ela, assim que ele pôs os pés para fora do quarto. Normalmente, Jamila coloca suas roupas de dormir em cima da pequena mesa que fica ao lado da porta do banheiro, mas como Vitória retornara mais cedo para casa, ela não o fez.
- Obrigado. - Respondeu ele, dirigindo-se à cômoda.
Vitória o olhou de canto de olho enquanto o mesmo pegava as roupas no móvel. Queria-o, ela sabia. Mas havia um travão, algo que a impedia de ser tão direta como sempre fora. Encarou-se no espelho mais uma vez e viu que Benício passava por trás dela, retornando para o banheiro. Ela levantou-se, parando na frente dele, impedindo o caminho.
- Desculpe-me. - Disse ela, virando para o lado para sair de sua frente.
- Espere. - Disse ele, impedindo sua passagem.
Bastou aquele gesto para que ela o beijasse. Sem afobação ou desespero, um beijo mais ou menos calmo e profundo. Ele apertou-a contra o próprio corpo e ela pendurou-se em seu pescoço.
- Podes parar de fugir de mim agora? - Disse Benício, rindo, ao interromperem o beijo.
- Fugir? Dormimos na mesma cama toda noite.
- Mas estás sempre fugindo.
Benício sentou-se na cama e puxou-a para si. Antes que ficasse e cima dele, Vitória se afastou.
- O que houve? - Perguntou ele.
- Espere aqui, já volto.
- O que aconteceu?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Castro e Souza
Fiksi SejarahVENCEDOR #Wattys2018 Em 1925, dois membros da alta burguesia carioca - os belos herdeiros Vitória de Castro e Benício de Souza - tornam-se cúmplices de um crime quase perfeito, mas acabam colocando suas próprias reputações em jogo para ocultar seus...