EMBOLIA GASOSA
DRAMATIS PERSONAE
Doutora Vitória de Castro.
Senhor Benício de Souza.
Garçom, empregado do hotel.
Cena: Rio de Janeiro (1925).
ATO ÚNICO
CENA PRIMEIRA (única): Rio de Janeiro, salão do restaurante do hotel Copacabana Palace.
Estão sentados em uma mesa um pouco isolada do restaurante a Doutora Vitória e o Senhor Benício.
VITÓRIA: Particularmente, prefiro rosé a vinho tinto. Exceto se for espumante.
BENÍCIO: Não sou muito fã de espumante, para ser sincero. Apesar de quê, prefiro branco ao tinto. Especialmente se for de colheitas tardias.
VITÓRIA: Colheita tardia, é? Acho enjoativo. Imagino que você deva gostar de vinho do Porto também, não?
BENÍCIO: Ah, claro. Vinho do porto, meu primeiro porre. Tinha acabado de chegar em Coimbra, nunca nem tinha bebido pois... Bem, minha irmã não deixava. (Ri.)
GARÇOM: (Entra.) Posso servir-lhes mais alguma coisa?
VITÓRIA: Sim, mais uma garrafa, por favor.
(Garçom sai. Os outros dois permanecem em silêncio, terminando o conteúdo de suas taças.)
GARÇOM: (Entra novamente.) Aqui está, senhor. Senhorita. (Serve o vinho.)
(Sai o Garçom. Benício e Vitória permanecem em silêncio até que ele esteja fora de vista.)
VITÓRIA: Bem, como iremos fazer isso?
BENÍCIO: Eu realmente não queria envolver-lhe...
VITÓRIA: Ah, é? Então, conte-me, qual é o teu plano?
BENÍCIO: Confrontarei Lourenço, pedirei o afastamento dele da empresa e obrigá-lo-ei a sumir do Estado, talvez do país.
VITÓRIA: E se isso não funcionar? Afinal, sabes que não irá, certo? (Revira os olhos.)
BENÍCIO: Sim, eu sei. (Suspira.) Terei que apelar para o revólver de meu pai e seja o que Deus quiser.
VITÓRIA: Achei que não acreditasses em Deus. (Levanta a sobrancelha.)
BENÍCIO: Maneirismos.
VITÓRIA: Ainda assim, pareces ter muita fé de que isso resolverá as coisas.
BENÍCIO: Contanto que Lourenço suma, eu...
VITÓRIA: Isso não resolve coisa alguma, Benício! Irás para a cadeia!
BENÍCIO: Posso alegar crime de honra!
VITÓRIA: Não conseguirás alegar crime de honra, tendo em vista que ele é marido dela e não há absolutamente nada em nossa legislação que prevê agressão marital! Lourenço é um homem respeitado e de família influente. Achas que os parentes dele iriam deixar por isso mesmo?
BENÍCIO: Posso conformar-me em ir para a cadeia contanto que Marieta e meus sobrinhos estejam a salvo.
VITÓRIA: Não sejas burro, homem! Tente usar a cabeça ao invés desta macheza tonta de querer resolver tudo como se fosses um cavaleiro medieval!
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Castro e Souza
أدب تاريخيVENCEDOR #Wattys2018 Em 1925, dois membros da alta burguesia carioca - os belos herdeiros Vitória de Castro e Benício de Souza - tornam-se cúmplices de um crime quase perfeito, mas acabam colocando suas próprias reputações em jogo para ocultar seus...