Ninguém.

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ALEMANHA, BERLIM.

Eu odiava o ar de superioridade que aquele velho tinha sobre todos que cumprimentava. Na verdade, eu percebia a cada dia que se passava que não se tratava de laços de sangue para uma pessoa se tornar o que era. Algumas até se formavam através do dinheiro e a ganância em possuir cada vez mais riqueza, assim como meu pai.

Todos o conheciam como Senhor Byun, o melhor negociador de ações, já eu o conhecia como um pai ausente que aparecia de vez em quando na minha vida apenas para jogar na minha cara, o quanto eu necessitava me tornar a cópia do que ele idealizava ser um filho.

Nunca me importei com suas palavras, nunca fiz questão de engolir seus argumentos inválidos. Eu vivia as coisas do meu jeito, não do tipo de adolescente cheio de piercings e tatuagens pelo corpo, o máximo que eu havia chegado disso foi aos quinze anos quanto tentei furar a orelha pela primeira vez. Porém, ao sentir o quanto a ação era dolorosa, acabei desistindo e cheguei a conclusão de que minha personalidade passava longe disso, me fazendo ser totalmente incapaz de me aproximar de objetos cortantes.

E cá estou, aos dezessete anos sendo obrigado a acompanhar meu pai até um dos locais onde o viciado em apostas fizera questão de me levar de limusine.

Era perturbador a forma como os olhares dos invejosos nos julgaram quando o motorista abriu a porta do automóvel para que nós finalmente descêssemos. Inúmeros flashes nos seguiram durante toda a subida das escadas para aquele grande estádio. O acontecimento seria grandioso, sendo também presenciado por várias celebridades famosas.

Tentei esconder minha expressão séria e entediante, puxando a toca da blusa de moletom da nuca, minha timidez unida com minha personalidade anti-social não era um atributo respeitável.

Mesmo com pouca vontade, acompanhei o velho que me olhava torto de canto, provavelmente amaldiçoando os deuses por ter um filho que não escolhia roupas formais para ir a um evento como aquele. Desculpa, pai! Mas para começo de conversa estar em um lugar cheio de homens cheirando a suor e ambição, não estava nos meus planos e ir me buscar no colégio dizendo que eu seria obrigado a acompanhá-lo não significava que eu aceitaria vestir o terno que havia me comprado. Não mesmo, sem chances!

Quando finalmente chegamos ao palco principal, deparei-me com muitas cadeiras alinhadas, muitas delas sem ninguém por conta do show de briguinhas não ter começado. Algumas garotas com pele demais á mostra desfilavam pelo ambiente com bandejas em mãos, mostrando serem garçonetes e a grande maioria deixando transparecer que se sujeitariam a coisas mais íntimas com os velhos empresários que as olhavam com segundas intenções.

Depois de sermos guiados até o número que estava marcado nos ingressos, sentei-me na cadeira bufando impaciente. Meu pai atrapalhou a conversa com um colega de trabalho ao seu lado e me olhou para me advertir:

― Pare com esses suspiros irritantes, qualquer garoto da sua idade adoraria estar no seu lugar, moleque.

É lógico que ele havia tentado dizer aquilo o mais baixo possível para que os outros de sua gangue de ricos não acabassem reparando que o cara mais influenciado que fazia negócios com suas empresas, na verdade tinha um filho problemático.

Sorri sarcástico e o fitei, deixando-o ciente da impaciência em meu olhar.

― Ah, claro! Faz todo sentido trocar uma televisão e o conforto de um sofá pra vir nesse pátio asqueroso cheio de velhos e bebidas que custa um mês de salário.

Meu pai forçou os olhos, buscando algo em sua carteira. Jogou uma boa quantia de dinheiro em meu colo e disse:

― Se dinheiro é seu problema, aí está! Divirta-se! ― Sorriu falso e levantou-se para ir cumprimentar outros homens poderosos do mundo dos negócios que estava do outro lado do espaço, acenando para ele.

CLINCH | ChanBaekOnde histórias criam vida. Descubra agora