Sentimental

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— Silvia! — A castanha não ouviu alguém lhe chamar. Continuou seu caminho, até a entrada do hospital a só. Como já era o esperado, Jorge não tinha voltado para casa. Possivelmente, tinha adormecido pelo hospital mesmo ou tinha passado a noite em cirurgia.

Silvia seguia em passos firmes e decisivos o quanto podia até a entrada do hospital, enquanto falava ao celular.

— Não mamãe! — Ela parou de andar para olhar para cima, amaldiçoando silenciosamente a mulher ao outro lado da ligação. — Eu não tenho tempo para isso, Mamãe. Você sabe... Não escuta, eu vou pensar. Mas não te prometo nada.

Desligou seu celular e o guardou em sua bolsa. Aproveitou que já estava próxima de um quiosque de café, tirou algumas cédulas de dinheiro e seguiu até a simples barraquinha, sentiu um incomodo entre as pernas enquanto andava. Riu sozinha, quando lembrou do porquê.

— Você é surda, Silvia? — A castanha se assustou, quando Alice a questionou quase que agressiva.

Silvia a olhou sem entender da pergunta, esperando alguma explicação para aquela pergunta que parecia mais uma acusação do que um questionamento.

— Eu quase que estrago minha garganta gritando seu nome. — Explicou a ortopedista. Mas revirou os olhos, quando viu a expressão de confusão no rosto da castanha.

— Um puro, por favor. — Pediu Silvia, quando foi sua vez de ser atendida chegou. — Me gritou? Onde? — Perguntou à ortopedista, quando recebia seu copo com café e o pagava por ele. Retirou a proteção do copo e levou até a boca, cuidadosamente para não se queimar. — Vai ficar me admirando ou você vai me responder? Tudo bem que você gosta, mas eu não.

— Você é insuportável. — Alice à acusou. E começou a caminhar junto da castanha, quando viu que Silvia riu com um certo deboche da forma defensiva que a morena se pôs. — Com quem você falava no celular que não ouviu eu lhe chamar?

Silvia imediatamente mudou sua expressão de relaxada para incomodada.

— Minha mãe, insistindo para eu ir passar o feriado de ação de graças com ela.

— Em Washington? — Perguntou Alice.

A cardiologista só assentiu com a cabeça.

— E qual o problema?

— Ela. Ela é o problema.

Se fez silêncio com a resposta de Silvia. Mas as duas não deixaram de caminhar, entrando no hall da entrada do hospital. Aquela hora da manhã, o movimento alí era tranquilo. Poucas pessoas circulando tirando os funcionários do hospital.

— Você não me respondeu a minha pergunta. — A castanha olhou de relance. — Porque gritava por mim? Ainda não entendi.

— Nada de muita importância.

As duas entraram no elevador, junto com mais duas pessoas que deveriam ser internas. Já que elas tinham crachás do hospital, mas com certeza não seriam enfermeiras e nem médicas por a idade das duas. Silvia e Alice, se puseram encostadas no fundo do elevador.

— Tudo bem, pode dizer que você adora minha presença. — Silvia disse. A morena tomou o copo de café da mão de Silvia, em resposta a provocação dela. Tomou um gole do café, mas logo se arrependeu da façanha quando sentiu o líquido quente em sua língua quase que a queimando. Silvia não pode deixar de rir, sendo acompanhada pela as duas pessoas que estavam junto dela no elevador. Alice olhou com reprovação para as duas jovens, que imediatamente deixaram de rir.

O bipe de Silvia começou a apitar em sua bolsa, fazendo-a tirar sua atenção da ortopedista abanando suas mãos a frente de sua língua que estava para fora.

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