Lulu e as aventuras de Pi

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Eu abri os olhos confusa. Havia uma lona acima de mim enquanto meu gato, embora ele detestasse ser classificado assim, resmungava que estava enjoado e queria descer. Eu podia ouvir pássaros distantes e o som da água balançando suave. Eu estava no mar, dentro de um bote salva vidas coberto e aparentemente, viva.

— Nós estamos vivos, Garfield!

— Jura?

Resmungou ele estirado ao meu lado parecendo uma bola de pelos emaranhados em um amarelo opaco.

— Seja bonzinho, eu preciso descobrir nossa situação.

Eu me ajoelhei olhando para mim. Estava bem e não estava ferida, primeira coisa. Depois olhei ao redor do bote constatando que ele estava inteiro e flutuava seguro, segunda coisa. Não havia bolsa de primeiro socorros e emergência. Terceira coisa, essa ruim. Estávamos sem água... Um problema grande.

Parei para refletir, sabia que devíamos estar no sul do Atlântico Norte, próximo de Marrocos ou Portugal, mas não podia ter certeza. Depois me lembrei da morte... Essa deusa tinha histórico com a minha família, será que por isso ela me salvou? Eu não sabia se era isso, mas estava agradecida. Só que... Rafael? Meus deuses! E os outros?

Saí pela pequena abertura do mini bote e olhei ao redor. O oceano, poderoso, imenso, e só... Nada de destroços, ou sobreviventes. Será que a morte me colocou ali? Olhei para o céu, estava levemente nublado, o que significava possivelmente chuva. Quarto ponto. Aquilo era bom, nós precisaríamos de água doce.

— Bebê, está com muita sede ou acha que dá para aguentar?

— Acho que sim... Estamos sozinhos no meio do mar, não é?

Eu vi seu olhar de medo. Suspirei, ele sempre foi um gato delicado e caseiro. Aquela situação era assustadora, mas eu podia lidar, era água afinal, o elemento que eu tinha afinidade, mas ele... O abracei.

— Vou cuidar de nós dois, bebê, confie em mim, nós vamos sair dessa.

— É bom que sim – E ele resmungou irritado – Essa água salgada vai acabar com o meu pelo delicado.

Eu ri, esse era o espírito, resmungar era melhor do que chorar, em minha opinião. Assim que Garfield estava mais controlado, eu passei a listar na minha mente como eu deveria proceder, estávamos em um bote, não era um barco, não tínhamos como nos locomover com ele, ficaríamos à deriva e isso seria perigoso. Eu precisava pensar, mas o que faríamos?

— Sério, Lu? Mergulha e procura alguma serpente do mar, tartaruga, sei lá, e pergunta se viram um pedaço de terra por aí. Bem que podia passar uma baleia por aqui e nos dar carona, não é?

— Eu não sei falar baleeis, gato! – Foi minha vez de resmungar, puxa, como eu ia perguntar a direção se só poderia falar com répteis? Os botos me entediam de certa forma, falávamos a linguagem não verbal, mas nunca tentei com baleias... Será que funcionaria? – Eu posso tentar... Mas estamos sem água, se demorar para chover eu posso ficar desidratada.

— Então o que faremos?

Eu olhei para o Garfield, depois para mim mesma, ainda bem que eu tinha embarcado de jeans, tênis e camiseta com duas camisas, ao menos teriam roupa se precisasse, durante a noite no mar a temperatura poderia ser congelante. Eu passei a tirar as blusas, ficando só de camiseta e tirei os tênis e a calça também, roupa agora seria artigo de luxo. Olhei, mais uma vez para fora analisando se estaríamos em oceano muito profundo. O mar parecia calmo, mas a superfície sempre destoava da parte de baixo, o mar era vivo, poderoso e tinha suas próprias leis.

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