Desaparecida... Só que não

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Acordei com um som familiar. Eu tinha dormido? Sacudi um pouco a cabeça e saí para a parte aberta do bote. Estávamos parados, era noite e o céu estrelado era lindo.

"Eldri?"

Chamei um pouco sonolenta.

"Estou comendo"

Respondeu fazendo sons estranhos, de fato estava jantando. Eu sorri. Então pensei que também estava com fome e não gostava de peixe cru... Puxa vida! Desanimada olhei para a superfície da água que refletia o céu límpido e estrelado, algo subia... Mas não era Eldri e antes que me desse conta, uma tartaruga imensa, era uma tartaruga de couro, eu tinha quase certeza, rompeu a superfície.

— Nossa! Uma tartaruga de couro!

— Uma bruxa? Então é verdade?

Era um macho e ele me encarava curioso. Eu pisquei e por fim assenti.

— Sim, sou uma bruxa.

— Uma bruxa... – E ele abriu a boca e depois fechou assentindo – Está com fome? Quer algas?

— Você tem algas aí?

Ele riu e mergulhou de novo, voltou trazendo muitas algas no bico, eu bati palmas e catei elas feliz. Ele riu.

— Coma devagar, filhote.

— 'Tô com fome!

Eu suspirei, Garfield também não estava habituado a comer coisas cruas... Mas era emergencial.

— Já vou pescar, bebê! – Me voltei para a tartaruga – Você viu peixes por lá?

— Come peixes?

— Meu gato.

Disse um pouco sem graça. Ele assentiu e mergulhou de novo, puxa ele era legal... Quando voltou trouxe um peixe médio no bico, o animal de debatia. Eu o tirei da água até parar, depois o limpei e só então dei ao resmungão que comeu esfomeado. Conversei mais um pouco com o macho e, por fim ele se foi me deixando com um jantar digno, eu amava algas marinhas. Quando eu e Garfield estávamos saciados, deitamos lado a lado olhando o céu estrelado, o bote boiava suave nas águas serenas.

— Canta para mim, Lulu?

Ele pediu. Eu assenti, em minha mente veio uma canção de dormir em hindi, que vi em um filme, gostei tanto da melodia que aprendi e Garfield gostava muito dela também. Eu respirei fundo fechando os olhos e me concentrando no instrumental que existia com ela, mas que agora soaria apenas em nossa mente, minha e de meu bebê, por fim cantei.

Cantei e cantei pensando que apesar de tudo, estávamos bem, embora os demais não tiveram a mesma sorte. Cantei também pelas almas perdidas, e por seus familiares, eu cantei para nos distrair e ao mesmo tempo, guardar o luto devido aos demais e ao meu querido Rafael...

Que ele dormisse nos braços da deusa do mar em paz.

E que tio Ali um dia me perdoasse por não conseguir salvá-lo.

Eu abri meus olhos e vi vários olhos ao nosso redor, na noite estrelada animais subiram a superfície para me ouvir. Eu sorri. Golfinhos, baleias, arraias, tartarugas e Eldri.

"Se levante e cante mais"

Ele pediu. Eu assenti e saí para a ponta do bote, Garfield já dormia e eu pensei em uma canção bonita. Night Ride Across The Caucasus me veio à mente.

Eu sorri e passei a cantá-la, fechei meus olhos, ergui meus braços e me movi de leve, como as ondas, ao som da minha voz e em determinado momento ouvi eles me acompanhando com a melodia, era mágico. Abri os olhos e havia outras criaturas do mar ali, cercando-me, cantando de diversas formas, criando auras coloridas e etéreas ao nosso redor.

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