A flor que se colhe no inverno

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Meus planos mudaram.

Cruzei o largo hall do hotel indo para a recepção e pensando se eu estava prestes a fazer o que eu iria fazer. Um pedaço de mim queria ligar para Minseok, apenas para ouvir a sua voz, mas minha outra metade pensava que se eu fizesse, iria fraquejar, e eu não podia fraquejar.

Ainda tinha de encontrar Kris que naquele exato momento estava entrando em um restaurante não muito longe dali. Meus instintos estavam todos ligados, minha atenção era dividida, mas nenhum pouco alterada. Se eu me concentrasse... Eu poderia ouvir o som tranquilo de sua respiração. E da mulher ao lado dele.

Os dois se encontravam discretamente em Xangai, duas vezes ao mês. Em um restaurante de confiança que ele pagava muito bem para não ser descoberto. Kris tinha necessidade de calor humano, mas a imprensa sobre ele era cruel, assim ele se sentia sufocado, limitado e sendo empurrado a ter encontros clandestinos na parte indecente de Xangai.

Me questionava se ele pretendia continuar assim por muito tempo e me preocupava também, afinal, ele jamais seria completo se deixando ir daquela forma, relacionamentos vazios, levam a um espírito solitário.

— Boa noite, meu nome é Laine Meirelles, Huang Zitao me espera.

Disse em um mandarim perfeito. Aquela língua era minha materna em diversas existências, eu não precisaria pensar para falar, já estava impregnada no meu inconsciente, embora quem eu era agora, não deveria conhecer o idioma. Por isso ninguém sabia, que eu sabia.

— Só um momento.

E enquanto ela ligava para o quarto de Tao, eu fechava os olhos e me concentrava em Kris, sentado, diante da loira americana. Se eu me concentrasse mais um pouco, eu poderia saber o que falavam, mas eu não faria, invadir a privacidade, mesmo que de meus consortes, era contrário as minhas regras. Ele tinha o direito de fazer e estar com quem escolhesse.

— Sexto andar, Senhorita. Apartamento 601.

— Obrigada.

Fui para o elevador e entrei na luxuosa caixa com certo receio. Não gostava de ambientes fechados, claustrofóbicos, mas se eu usasse as escadas chamaria atenção desnecessária, então esperei com certo receio a caixa finalmente se abrir, o corredor de apenas três portas me recebeu. O 601 era a última porta. Fui até ela e apertei a campainha. Ouvi os passos vir rápidos e sorri. Um deles, ao menos, desejava me ver. Ao menos um.

— Você veio!

Ele me encarou pelo vão da porta e então a abriu mais, sorrindo. Eu assenti.

— Estou curiosa para saber sobre o homem que sonha comigo.

— E eu sobre a mulher dos meus sonhos – Ele riu mais, me puxando de forma suave para dentro e fechando a porta rápido – Eu não devia deixar alguém entrar, por isso temos de ser discretos, se meu empresário descobre ele ficará louco.

— E ele tem razão, é perigoso.

Falei o encarando. Tao vestia jeans e camiseta e estava descalço, aparentando um adolescente. Contudo para mim, ele estava bonito assim, e revê-lo de perto fez com que todas as emoções surpreendentes de mais cedo voltassem para mim com a mesma intensidade. Ele era de fato parte da minha alma, meu ser inteiro pulsava perto dele, como se tudo o que eu soubesse, tudo o que eu fosse, tudo o que eu era agora, não importasse. Apenas ele ali, era importante.

— Você quer água? Chá? Alguma bebida? Quer sentar?

E ele apontou um sofá amplo da antessala, na suíte de três cômodos.

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