A casa e o caseiro

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A música era alta, algo eletrônico, completamente desconhecido. Abri meus olhos lentamente sentindo meu corpo inteiro doer.

— Vai com calma, bebê, você levou uma grande surra.

A voz era familiar, me virei de lado e vi a mulher da viela, era ela mesma... Mas agora só vestia lingerie rosa ao invés do vestido curto daquela noite.

— Soo...

Disse tentando soar normal, mas minha voz também parecia ter sofrido um apocalipse. Ela assentiu e saiu da cadeira ao meu lado e veio se sentar perto de mim, sobre a cama, tocando meu rosto cuidadosa.

— Ele ia te matar... Ainda bem que tenho um cliente que sofre de fetiches malucos e ontem queria ir para um lugar ermo... Saímos do carro, caminhamos um pouco e lá estava você apanhando de um psicopata. Quem era aquele cara, bebê? Cliente?

— Não... Ele trabalha com meus maridos...

— Você é casada com mais de um homem? Nossa, legal! Eu adoro ménage também.

E ela riu escandalosa, eu ri da risada dela, ou tentei. Porque terminei resmungando de dor, caramba... Não me lembrava de ter apanhado tanto na minha vida.

Tentei me levantar e ela me ajudou até que eu estava sentada sobre as almofadas da cama decorada em vermelho berrante. O quarto era todo decorado em vintage, cores escandalosas e a cama era grande, bem grande. Pendi a cabeça para o lado curiosa, mas antes de fazer perguntas, eu sabia que devia agradecer, ela tinha salvo minha vida.

— Obrigada, Soo, você me salvou hoje, muito obrigada mesmo.

— Imagina bebê, mulheres devem ajudar umas às outras.

Ela sorriu maternal para mim antes que a porta abrisse, daí ela se levantou quando a outra mulher que conheci antes, a chefe, entrou. Também estava só meio vestida, ainda assim parecia elegante e arrumada. Ela me encarou e suspirou.

— Eu sabia que ia te ver de novo, girl, meu instinto nunca erra. Nós arrastamos o cara que te bateu para a sala dos desregrados, depois meus rapazes o jogaram para fora daqui, não se preocupe, ele apanhou bastante também. Ninguém bate em minhas garotas. E também ele parecia bem loucão gritando que via demônios... É cada maldito esses dias!

Eu ia dizer que não era uma de suas garotas, mas enfim, elas tinham me ajudado, como eu poderia ser mau educada?

— Obrigada...

— Pode me chamar de Daye. Eu chamei a Rissa para te ajudar porque a Soo tem clientes esperando.

— Nossa, é verdade.

E a minha salvadora me deu um beijinho na testa, cochichou algo com a chefe, antes de sair correndo do quarto. Daye fechou a porta e me encarou.

— Esse quarto é o último do corredor e não vai ser usado hoje então pode ficar aqui tranquila, Mike está no meio do corredor cuidando das garotas, nenhum homem vai entrar aqui, fique sossegada, minha caçula vai vir e ajudar você a tomar banho e comer, eu sugiro não se olhar no espelho por hoje. Soo disse que você é casada, devo ligar para o seu marido? Porque estamos em um bordel e talvez você não queira que ele saiba.

Eu suspirei, àquela hora eles já deviam estar loucos a minha procura, eles deviam ter chegado no dormitório, visto as coisas prontas, mas eu não estava lá. Eu precisava falar com eles, mas estava sem nada ali, sem bolsa, sem celular...

— Eu posso usar seu telefone?

— Claro que pode, aqui.

E ela tirou um celular de última geração do bolso do short curtíssimo e me entregou, eu disquei o número de Lay e ele atendeu quase que no mesmo segundo.

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