Naara Souza

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    Quando o relógio despertou a 00h00min Edd bateu na porta do meu quarto e rapidamente corri para abri-lá antes que ele entrasse.
    - Oi Joel, vim chamar você pra gente ir beber e catar umas vadias na avenida - disse Edd feliz por me ver acordado ainda.
    - Eu disse para você nunca se aproximar do meu quarto - disse saindo e fechando a porta rapidamente atrás de mim - vamos logo, você sabe que não resisto à um drink geladinho.
    - Vamos cara! - disse animado, indo a minha frente até o carro.
     Fomos a uma balada no meio da avenida, nos sentamos no bar e começamos a beber, virando várias doses de tequila. Edd era uma boa companhia, gostava de sair com ele, além de engraçado ele me via como uma pessoa normal e não como o esquisitão que não falava com ninguém. Apesar de sua indefinição sexual ele sempre respeitou a minha heterossexualidade e nunca fez piadinhas nem algo do tipo, gosto de pessoas discretas e misteriosas, elas me fazem despertar a curiosidade, mas como sempre fico na minha. A cada dose que ele virava eu via o líquido descendo por sua garganta e ele espremia os olhos para tentar aliviar a queimação. Quando o efeito passava ele sorria e continuávamos conversando e observando as garotas dançando na pista. A 01:00AM já estávamos bêbados o totalmente incontroláveis, ouvi o sininho da porta e vi Peterson entrando, tal não sabia da minha existência e nem saberia enquanto eu não tivesse a certeza de cada movimento meu para o seu fim. Logo ele veio em minha direção e sentou ao meu lado
    - Um drink, por favor - ele me olhou de cima a baixo com um olhar de nojo e ao mesmo tempo dó, mesmo não sabendo quem eu era ele se dirigiu novamente aos barmen e disse - dois drinks pra esse cara aqui também, e pode por na  minha conta. - ele fez uma pausa e me olhou novamente - Ele precisa mais do que eu!
    - Você não precisa sentir pena de mim Peterson, se eu fosse você sentiria dó de si mesmo - me levantei, peguei o drink de sua mão e em um gole o tomei sentindo todo o álcool descendo ardentemente por cada milímetro da minha garganta. Saí em direção à porta com a cabeça explodindo e assim que abri uma moça pequena e loira deu de cara com meu peitoral e derrubou vários livros no chão.
    - Olha por onde você anda sua vadia imunda - Sem que eu desse a oportunidade dela dizer algo e eu a espancar ali mesmo, sai andando sem olhar para trás. Quando cheguei em casa estava com a cabeça explodindo, abri uma ducha gelada e fiquei por alguns instantes esperando com que aquela dor saísse do meu peito. Tudo que eu queria e precisava era uma noite tranquila e boa de sono a qual eu não tive a minha vida inteira. A única coisa que amenizava toda essa escuridão que havia dentro de mim eram as eternas horas que eu passava lendo livros na biblioteca da universidade. Eu já havia lido quase todos os livros da biblioteca e todos contavam a mesmas histórias clichês de sempre: uma menina bonita, meiga e vulnerável, que se apaixona por um garoto rico e amado por todas do colégio. Essas histórias me davam nojo, vontade de vomitar. O que eu gostava mesmo eram as histórias de terror e suspense, onde o protagonista maluco matava e assassinava as mocinhas e os mocinhos da história. O amor pra mim é só uma perda de tempo, eu não preciso de um amor, preciso de vingança. Preciso matar quem matou o ser humano que havia vivo dentro de mim quando eu era apenas uma criança.
    No dia seguinte...  fui arrastado até a UF por Edd - ele iria se formar em medicina no próximo semestre.
    Quando chegamos nos separamos, ele foi se encontrar com Peterson e o restante do time de futebol. Edd tinha vinte e três anos e também fazia parte do asqueroso time de futebol, ele era um cara legal, mas era influenciado muito facilmente, na noite passada os meninos o convenceram a tomar cinco shots de tequila e te garanto que hoje mesmo ele não lembrava de mais nada. Enfim... Fui até a biblioteca, não queria ver o rosto dos meus colegas de sala, e muito menos ouvir a monitora lendo e relendo as páginas de nossa apostila. Peguei um velho clássico no qual eu não havia terminado de ler na semana passada. Sentei à mesa e fiquei horas digerindo todas as informações que o livro poderia me passar, até que percebi uma pessoa se aproximando.
  - Tem alguém sentado aqui? - era a garota da noite passada, a qual chamei de "vadia imunda", era uma moça bonita, magra, de olhos castanhos claros e de cabelos escuros. Seus olhos piscavam lentamente, sua respiração era tranquila e sua blusa estava tão bem passada que parecia que havia acabado de sair da lavanderia. Ela estava com alguns livros enlaçados em seus braços.
  - Não, não tem ninguém aqui - porra, não tem ninguém aqui, não acredito que ela queira sentar perto de mim - por que você não se senta ali? - apontei para a mesa ao lado
  - Achei que você gostaria de uma companhia... Joel King, não é mesmo? - como essa loirinha sabe o meu nome?
  - Como você sabe o meu nome? - olhei assustado, pensei que ninguém houvesse notado minha existência até hoje, até porque não faz diferença, eu não ando com ninguém e não falo com ninguém.
  - Somos parceiros nas aulas práticas
  - Prazer, mas eu não há conheço e nem quero conhecer, então me dê licença - como um raio, saí dali e fui para minha aula.
      Quando meu horário terminou fui até o pátio, de um lado estava à loirinha e suas amigas sentadas estudando no gramado e do outro estava Peterson, Edd e os carinhas do time de futebol. Sentei no gramado e continuei lendo meu livro, o qual fui interrompido mais cedo pela loirinha inconveniente na biblioteca. Um tempo depois fui interrompido novamente, mas dessa vez por Peterson.
   - Olá, eu não entendi qual foi a sua de ontem - disse com um tom ameaçador.
   - Não me enche o saco, Peterson - continuei minha leitura e ignorei o fato de ainda estar sentindo a presença de Peterson ali.
    - Seu idiota, ninguém fala assim comigo, todos aqui tem que me respeitar! Sou o capitão do time de futebol
    - Eu não sou todo mundo, estou muito longe de ser, Peterson. E eu já mandei não me encher o saco! - levantei rapidamente e o encarei.
    Sem pensar duas vezes ele me deu um soco no rosto, o impacto fez com que eu desse dois passos a trás, não poderia deixar que ele saísse bem dessa, então revidei com um empurrão e um soco no nariz, ouvi uma voz mansa e dócil pedindo para que ele parasse e vi dois caras nos separando, o nariz de Peterson estava sangrando e eu sentia meu olho arder, espero que não fique roxo, pois eu volto e quebro o nariz daquele desgraçado, a raiva pulsava em minhas veias, eu poderia acabar com ele agora mesmo.
    - Já chega de confusões Pet, vá pra casa! - disse Naara gritando com ele. E como um cãozinho que faz tudo que o dono manda, ele foi embora.
    - Não precisava desse show loirinha, eu sei me defender sozinho - peguei o meu livro e sai, mas quando eu estava a poucos metros de Naara, ela respondeu.
   - Não foi o que pareceu você tomou um soco... E seu olho está ficando roxo, deixe-me ajudar você - ela disse se aproximando demais.
   - Eu não preciso! Não me enche o saco loirinha, eu não preciso de ninguém. - dei de costas para ela e logo saí dali. Mais tarde fui pra casa, não queria ver mais ninguém. O próximo que entrasse no meu caminho eu juro que matava. Entrei em meu quarto e quando eu me joguei na cama ouvi alguém batendo a porta de meu quarto.
    - Não enche o saco porra! Seja lá quem for, vá embora!
    Então aquela dor tomou conta do meu peito novamente, não sabia o que fazer, e a dor apertava cada vez mais, o livro no qual eu estava lendo acabei esquecendo no Campus em meio a confusão de hoje. Aquele riquinho mimado me paga - ELE VAI PAGAR - gritei e joguei o meu abajur contra a parede fazendo com que ele se partisse em mil pedaços. Desesperado com toda aquela solidão me atirei na cama e como em um piscar de olhos eu desmaiei.

EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora