Inconsiente

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Desde a noite do meu coma eu vinha tendo sonhos com o meu inconsciente, sempre estávamos no mesmo jardim em que eu me encontrara após entrar em coma, o homem - eu - sempre estava vestido de preto. Era como uma paralisia do sono, eu estava acordado, mas não podia me mexer, em quase todas as noites ele me levava ao jardim e em quase todas as noites ele invadia meus sonhos fazendo com que eu me encontrasse com ele.

...

- Enquanto você resistir eu continuarei te visitando.
- Já que estou preso aqui com você, me diga pelo menos o seu nome.
- Mas que pergunta é essa? Eu sou você Joel.
- Vou te chamar de Jim
- Que nome horrível
- Eu sei, como você sou eu, eu te conheço, sei o que você sabe e sei que achamos esse nome ridículo.
- Sou parte de você Joel, você manda e eu faço.
- Eu ordeno que você me deixe acordar e que saia da minha mente.
- Eu não posso, sou parte de você.
- Eu estou ficando louco, há dias eu não tenho uma noite de sono tranquila por sua culpa.
- Se você me escutasse não teríamos esse problema
- Não vem com o papo de "Você tem que ver quem são seus amigos de verdade, Joel" - digo com uma voz fina em tom de deboche.
- Eu não falo assim
Dou de ombros, ele realmente não me deixaria em paz.
- Peterson nunca será meu amigo, eu menti para ele!
Então Jim se cala e fica me olhando por alguns segundos até que ele some e eu consigo me mover. Naara estava em um sono profundo, mas gostoso, parecia estar sonhando com anjinhos, sua respiração era calma e suave, já a minha era ofegante e meu coração estava acelerado, parecia que eu havia acabado de correr uma maratona. Me levantei e fui até a cozinha tomar um copo d'água, mas quando cheguei me assustei ao ver Edd sentado a mesa da cozinha dormindo em cima de seus livros.
- Edd você já formou cara! Não precisa mais estudar
Quando tentei acorda-lo ele não se moveu, parecia estar em um sono profundo, assim como Naara. Então tento leve-lo para o seu quarto para que ele pudesse descansar, mas quando vou pegar em seus braços para que ele pudesse se apoiar em mim a
minha mão atravessa seu antebraço.
- Achou que fosse fácil se livrar de mim? - diz Jim surgindo por meio das paredes da cozinha
- Como consigo me mover?
- Você se move quando eu quero, seu corpo esta dormindo, mas sua mente esta acordada.
- Me deixe acordar então.
- Ainda não, tem mais uma coisa que você precisa ver!
Sem dizer mais uma palavra ele dá dois passos para trás e o cenário muda completamente, estávamos em um corredor totalmente escuro, eu não conseguia enxergar nada em meio à escuridão, a única coisa que eu podia escutar eram ruídos que aos poucos se transformavam em sons de vozes.
"Não acredito nisso"
"Ele não é como a mamãe, ele não é como nos!"
"Claro que é o sangue Susan corre por suas veias"
"O sangue King também corre por suas veias, e com certeza o sangue do papai fez mais efeito".
"O que está acontecendo com você, Pet?"
"Talvez eu goste do meu irmão, por quê? É crime agora sentir um pouco de compaixão?" - diz Peterson.
"Não foi para isso que treinamos você a vida toda, nós Susan não temos compaixão, nós matamos sem um pingo compaixão, OS ENSINAMENTOS NÃO FORAM O BASTANTE PARA VOCÊ?" - a outra voz grita.
"Perdoe-me tio, mas Joel é meu irmão. Eu não quero mais fingir ser seu inimigo, sei como ele era importante para o papai, então ele é importante para mim também."
Eu não reconheci a outra voz, sem duvidas eu não a conhecia. Mas umas das vozes era a de Peterson. Pelo que ele havia dito o homem que estava com ele deveria ser nosso tio e sem duvidas eles falavam de mim. Pela segunda vez eu havia visto Peterson me defender, talvez ele estivesse mesmo tentando, eu aceitei as desculpas de minha mãe, talvez eu pudesse aceitar Peterson também. Eles eram a única parte da minha família em que eu conhecia e ele estava tentando se aproximar talvez eu devesse dar uma chance a eles.
- Que bom que mudou de ideia - diz Jim
- Não mudei de ideia
- Você não pode me enganar Joel, eu sou você.
- Saia da minha mente Jim - meu corpo começou a se tencionar
- Acalme-se Joel, quanto mais você se irritar mais tempo você ficará aqui, e logo não conseguirá se mover mais, acalme- se.
- Como? - Perguntei
- Se você tentar acordar seu corpo irá paralisar novamente e você irá começar a ter uma paralisia do sono de verdade e então seu corpo irá entender que eu quero te fazer algum mal. Eu não sou mal Joel, só sou o seu subconsciente, sou fruto da sua imaginação, eu só te mostro o que os seus olhos humanos não conseguem enxergar e te levo onde o seu corpo humano não consegue chegar, sou sua imaginação.
- Como eu acordo?
- Só relaxe, logo passa...

...

Então o quarto Jim some novamente, quando finalmente consigo abrir os olhos sinto a cama vazia. Naara não estava ao meu lado e eu não estava em minha cama, me levanto e saio do quarto e vejo que estou em casa, porém no quarto de Matheus. Quando entro em meu quarto, Naara estava sentada em minha cama olhando em direção à porta.
- Onde você foi? - ela pergunta
- Não sei, como eu saí da cama?
- Você acordou e saiu do quarto a um tempo atrás, procurei você por toda a casa e não te encontrei.
- Devo ter ficado sonâmbulo, acordei agora no quarto do Matheus e não sei como fui parar lá.
- Então você é sonâmbulo?
- Parece que sim - sorri
Naara soltou um suspiro de alívio e voltou a se deitar ao seu lado na cama.

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