Na manhã seguinte, acordei às nove horas com Naara dormindo calmamente em meus braços como um anjinho, fiquei um tempo a observando dormir, sua respiração estava mais calma do que nunca, estávamos tão próximos que eu conseguia sentir cada batida de seu coração. Graças aos céus era sábado e eu não precisava sair correndo para a faculdade, eu poderia passar o dia todo ao lado de Naara. A deixei dormindo no sofá e fui preparar um café para ela.
- Bom dia. Você esta aqui! - Disse Naara ainda meio sonolenta
- Onde mais eu estaria? Não vou a lugar algum.
- Você fez o café?
- Sim, café e torradas com geleia.
- Minhas preferidas
- São as minhas também.
Assim que terminamos o café fomos direto para o centro, Naara precisava comprar um livro da faculdade e eu precisava atualizar a minha estante de livros. Quando chegamos à livraria a primeira coisa que fiz foi olhar os novos lançamentos de Ação e Terror, mas não havia nada de interessante que realmente me chamava a atenção. Quando passei pela estante de romance, encontrei um livro que me chamou a atenção, eu não curtia romance nem nada parecido, mas o livro contava a história de um órfão que se apaixonou pela sua melhor amiga do colégio, me identifiquei e então fiquei com ele.
- Olá com licença - uma moça morena e de aproximadamente 1,60 se aproxima.
- Oi, posso ajudar você?
- Você é Joel Stevenson King?
- Como você sabe disso?
- Eu reconheceria este rostinho em qualquer lugar, além de você ser a cara de seu falecido pai fui eu que gerei você.
- Susan?
- Helena para você querido. Quantos anos não o vejo meu filho.
- Você não é a minha mãe
- Esta tudo bem amor? - Naara se aproxima com o seu livro em mãos - Quem é essa?
- Helena Susan King, prazer querida!
- Sua... - a interrompo
- Essa mulher não é nada minha
- Você deve ser a Naara. Peterson me falou tanto sobre você. Mas eu pensei que vocês estavam juntos
- Só nos sonhos dele senhora King, estou com o Joel
- Não sou a senhora King desde o nascimento de Joel
- Por culpa própria - respondi.
- Vamos meu filho, não seja tão duro. Vamos tomar um café e conversar.
- Não temos nada com o que conversar. Nunca mais me procure Susan
Guiei Naara até o caixa eletrônico mais próximo, fechamos nossa compra e em um disparo fomos embora. Em momento algum Naara faz perguntas sobre minha mãe ou meu irmão, ela estava tentando me respeitar e não me deixar desconfortável com o assunto delicado, mas eu sabia que por dentro ela estava se torcendo de curiosidade para me encher de perguntas.
- Vá em frente querida, sei que você está curiosa. Pode me perguntar, eu responderia qualquer coisa pra você.
- Eu não quero te pressionar Joel. Sei como o assunto da sua família é delicado para você e eu respeito isso.
- Já disse que você é incrível?
- Quando você achar que deve, vem conversar comigo. Sempre estarei aqui para te escutar e te dar o abraço mais confortante do mundo
- O melhor do mundo
Quando chegamos novamente em sua casa, fomos para o seu quarto, ela estava começando a folhear seu novo livro de pedagogia e eu estava lendo as primeiras paginas de meu novo livro de romance - nunca pensei que diria essas palavras - quanto tempo eu não desfrutava da alegria de receber essas incríveis informações que um livro poderia me fornecer, como eu senti falta de poder folhear as paginas de um livro, eu tinha tudo que precisava, tinha os meus livros, minha faculdade e agora eu também tinha a Naara.
- Naara, será que ela voltou por mim? - depois de muito tempo, fiz uma pergunta quebrando totalmente o silêncio do quarto
- Bom Joel eu não sei, mas acho que vocês deveriam conversar.
- Ela me abandonou, por que ela me procuraria agora? Ela nunca se deu o trabalho nem de me escrever uma carta. Ela nunca se esforçou para me encontrar, por que agora?
- Vai ver ela voltou atrás
- Você acha?
- Eu não sei Joel, mas saiba que independentemente do que você achar melhor eu vou te apoiar.
Quando o dia anoiteceu, escutei um toque na campainha, desci as escadas e Naara veio logo atrás.
- Olá filho, Pet me contou que Naara morava aqui.
- Vai investigar a minha vida inteira agora?
- Como você pode pensar uma coisa dessas da sua mãe? Eu só quero que as coisas se encaixem, podemos ser uma família de novo Joel.
- Meu pai esta morto, nossa família nunca será feliz.
- Filho, só estou te pedindo uma chance, eu sei que não fui a melhor mãe do mundo, mas eu mudei.
- Volte para o seu marido e seus gêmeos, eu não sou seu filho.
Fechei a porta e Naara colocou as mãos sobre o meus ombros
- Acho que fiz o que deveria ter feito
- Não te culpo por odiar ela e odiar a Peterson, mas ela realmente parece estar tentando.
- Você acha que eu deveria dar uma chance a ela?
- Eu não posso tomar decisões por você, eu não passei por nada que você passou, mas eu conversaria com ela. Ela parece estar se esforçando o bastante
- Vou pensar nisso.
Quando a noite caiu por completo, Naara entrou para o banho e eu fiquei terminando o meu livro, depois de um bom tempo, fui até a sacada do quarto. A lua estava cheia e muito brilhante, a noite estava gostosa, uma brisa suave batia em meu rosto fazendo com que eu fechasse o olho e respirasse fundo. O que fez com que meus pensamentos se retornassem à Susan - quando eu finalmente consigo encontrar paz e reconstruir a minha humanidade, minha mãe aparece? - Milhares de pensamentos e teorias passavam pela minha cabeça, será que ela estava realmente tentando ou ela queria algo mais? Eu não sabia se poderia confiar nela. Em uma de suas cartas o pai disse que eu deveria confiar em quem tivesse o sobrenome King, Susan apresar de não ter mais esse sobrenome, ela era uma King, ela e meu pai foram casados por muitos anos e eles pareciam se amar de verdade. Talvez eu estivesse disposto a tentar por meu pai, mas eu tinha medo de me arrepender, tinha medo de ter o coração esmigalhado novamente. Eu não sabia em quem confiar, pelo menos eu tinha Naara. Ela sim era meu lar e minha paz, eu sabia que com ela eu poderia sempre contar, Naara sempre esteve comigo em todos os momentos, ela sabia tudo e eu daria a minha vida por ela.
- Joel? - diz ela saindo do banho com uma toalha enrolada em seus cabelos.
- Sim?
- Você esta bem?
- Só um pouco confuso e perdido
- Não precisa se sentir assim, estou aqui com você. - ela diz vindo em minha direção e por fim me dando um abraço.
O dia seguinte era domingo, evitamos ao máximo sair de casa queria aproveitar todo o tempo que tínhamos juntos. E confesso que eu não queria correr o risco de me encontrar novamente com minha mãe na rua, eu não queria admitir e não admitiria, mas apesar de não considera-la, Susan era minha mãe, e mesmo que eu negasse o DNA não mentiria. Na real minha verdadeira mãe sempre foi Lina, alias mãe é quem cria, da amor, carinho e educação - coisas que Susan nunca havia feito por mim, nem compaixão ela havia tido antes de me abandonar - minha família sempre foi o oposto da família tradicional em que a maioria se encaixa, meus pais eram separados desde o meu nascimento, eu não suportava meu irmão e minha mãe, e meu pai que talvez fosse o único homem com que eu me daria bem na família não estava mais entre nós e eu nunca saberei se ele era realmente o homem que se dizia nas cartas.
Quando o dia terminou fui para casa arrumar minhas coisas para a faculdade no dia seguinte. Assim que cheguei Edd e Brad estavam na cozinha.
- Cadê o resto dos meninos? - perguntei
- Henrique passou o fim de semana inteiro na casa da sua namorada, e o Matheus e o Esh foram comprar bebida.
- E vocês o que estão fazendo?
- Os meninos começaram a esquentar a churrasqueira lá fora antes de sair, eles disseram que vão fazer um churrasco, só para o pessoal da casa mesmo. Já eu e Brad estamos fazendo uma sobremesa.
- Esta parecendo um almoço em família de domingo
- E o que você entende sobre isso? - diz Edd com um tom sarcástico
- Se era pra magoar não conseguiu
- Eu só estava brincando, meus pais também nunca se importaram tanto
- Pelo menos você teve pais
Eu não ligava quando alguém me dizia algo desse tipo, eu não sabia como era ter pais e nem como era uma convivência em família, eu nunca cheguei realmente a conhecer e a me aproximar de meus pais. Eu não ligava para piadinhas como essa. Essa era a minha realidade e eu sabia que isso não mudaria.
- Chegamos pessoal - Esh e Matheus entram pela cozinha com sacolas de bebidas em mãos, Esh foi direto até a churrasqueira na parte inferior da casa e Matheus se juntou à nós
- Oi Joel, você e Henrique andam muito sumidinhos
- Passei o final de semana com Naara, e Edd você não vai acreditar!
- Me conta
- Encontrei com a minha mãe esse final de semana
- Onde?
- Na livraria, foi uma loucura
- Que maneiro cara
- E muito confuso
- Bom, então você e Naara estão mesmo tendo algo sério?
Pela primeira vez em meses morando juntos Matheus havia me feito uma pergunta, nos não conversávamos muito na maioria das vezes. Edd e Esh que sempre estavam comigo, mas ele parecia um cara legal, mas isso não muda o fato de eu não confiar tão facialmente em uma pessoa para dar a ela informações muito pessoais, Naara e Edd sabiam sobre tudo, Naara ainda mais, Brad também escutava algumas coisas na nossas rodinhas de discussão, mas ele nunca fez nenhuma piada sem graça ou algo do tipo, ele sempre respeitou o meu espaço, gosto de pessoas assim e talvez um dia sejamos ainda mais amigos.
- Estamos tentando um lance
- Irado, felicidades para vocês - Ele me da um soquinho no ombro e se dirige para o lado externo da casa e se junta próximo a Esh na churrasqueira
- Eu não falei por mal amigão, o lance dos seus pais - disse Edd
- Relaxa cara, eu tinha até esquecido. A minha realidade não me magoa. A única coisa que me afeta foi a minha perda, perdi a Lina e meu pai em tão pouco tempo.
- Sinto muito
- Eu também, se eu pudesse voltar no tempo e impedir que ela morresse, eu faria.
Quando terminamos de comer Edd foi para casa de Brad e eu fui para o meu quarto continuar a leitura do meu livro. Mas quando menos esperei a imagem de Susan na livraria tomou meus pensamentos, eu estava pensando seriamente em desculpa-la e realmente dar a ela uma segunda chance de tentar ser uma mãe para mim, mas eu não queria ter que forçar nada, se fosse para acontecer ela teria que vir falar comigo, se ela quisesse mesmo o filho dela de volta ela teria que se fazer presente, porque se não como eu saberia que ela estava mesmo arrependida? - Porque eu tenho dificuldade em confiar nas pessoas e porque eu guardo tanto rancor?.
No dia seguinte eu faltei aula, com certeza Susan iria com Joel até a faculdade para me encontrar e eu realmente ainda não estava preparado para aceita-lá de vez em minha vida, passei a maior parte da minha manhã escrevendo páginas e páginas do meu livro, após um tempo do fim do horários das aulas, Naara acompanhou Edd até a nossa casa, assim que Naara chegou ela bateu na porta e antes que ela pudesse entrar eu saí e fechei a porta atrás de mim.
- Oi, tudo bem lá dentro?
- Tudo bem loirinha, só que ninguém pode entrar no meu quarto.
- Mas eu sou sua namorada.
- Não ainda
- Tudo bem, seu quarto, sua privacidade. Vim te ver, por quê o senhor Joel não foi pra faculdade hoje?
- Não consegui parar de pensar em Susan, talvez ela fosse até lá com o Peterson para me procurar e eu não quero que ela force nada. Eu quero que ela demonstre que está mesmo se esforçando, mas eu não gosto de me sentir pressionado.
- Você e sua dificuldade de confiar nas pessoas
- Sim, desde pequeno. Moro há meses com três caras, e só confio em Edd.
- Joel, você conseguiu recuperar a sua humanidade, você só pensava em matar o seu irmão, desde que você saiu do orfanato seu único objetivo era esse. Mas agora é diferente, você sempre foi um cara bom só estava chateado e guardando rancor, mas isso passou, você tem à mim e à Edd, mesmo que não dê certo, Edd e eu sempre estaremos aqui com você. Amigos são pra isso! Vai lá, se arrisca e se der errado nos estaremos aqui para te reerguer.
- Obrigado querida. Suas palavras sempre me fazem sentir melhor - dou a ela um abraço e logo depois ela me chama para um passeio no parque
- Olha como o dia está Lindo - diz Naara
- Ta vendo o sol? - Perguntei
- Sim, ele está lindo!
- Sempre que vejo ele brilhando assim, eu lembro do brilho de seus olhos, esse olhar dócil e meigo faz com que eu me apaixone cada vez mais por você, esse seu sorriso! Você! Naara você é incrível.
- Só consigo ser assim quando estou com você.
- Eu duvido, você deve ser a pessoa mais dócil que eu conheço,
- Quando eu tinha quatorze anos, eu sofri depressão. Eu tinha crises fortíssimas de ansiedade e sentia vontade de me cortar todos os dias, várias vezes eu pensei em tirar a minha vida e acabar logo com aquele sofrimento.
- Mas por quê?
- Meus pais haviam se separado e eu tinha me mudado de casa com a minha mãe, e eu não conseguia lidar com a separação deles, éramos o sinônimo de uma família perfeita, mas eles acabaram brigando e se separando. Éramos muito unidos do tipo: fazíamos tudo juntos. Quando ele foi embora meu mundo desabou, eu ia à psicóloga duas vezes por semana me tratar e ela uma vez disse que teria que me internar em uma clínica - enquanto Naara me contava, seus olhos brilhantes se enchiam d'água .
- Mas como você superou?
- Demorou um pouco para que eu aceitasse a separação deles, mas quando meu pai começou a namorar e a minha mãe também eu percebi que eu poderia ser feliz estando com a família dos dois e que eles também estavam felizes
- Uau, eu nunca imaginaria que você já havia passado por isso.
- Passei, até os meus dezesseis anos eu sofri de depressão, daquelas de querer me isolar do mundo inteiro e ficar horas dentro do meu quarto sozinha chorando no escuro. - uma lágrima escorreu em seu rosto
- Não chore, agora você tem a mim.
- Eu fico triste de lembrar, mas hoje eu sou muito feliz pelos meus pais. Me orgulho muito de todos eles, eles são incríveis.
- Devem ser sim, aliais você é reflexo da educação deles, e você é maravilhosa!
- Obrigada por me dizer essas coisas tão lindas - seu olho se encheu de lágrima novamente
- Obrigado digo eu, obrigado por confiar em mim e ter tranquilidade para me contar uma coisa importante dessas, eu particularmente tenho muito medo de confiar nas pessoas, eu só diria isso para alguém em que eu não tenho certeza que posso confiar
- E você confia em mim? - perguntou Naara
- Confio a minha vida - um sorriso lindo se formou em seu rosto e Naara me abraçou forte, eu amava aquele abraço e poderia passar o dia inteiro envolto em seus braços.
- Olha, eu quero um balão. - havia um senhor sentado em um banco da praça vendendo balões infláveis amarrados em sua carroça
- Vou pegar um para você - busquei para ela um balão de coração e acabei pegando também um sorvete para nós. Quando voltei Naara estava agachada na grama brincando com um cachorro que estava com seu dono passeando pelo parque, era um Golden Retriver, quando me aproximei um pouco mais encontrei a dona do cachorro, era Susan.
- Olha Joel, esse é o Scott, ele não é lindo? - disse Naara acariciando atrás da orelha do cãozinho
- Sim, muito lindo - disse meio travado
- Joel, podemos conversar?
- Claro.
Susan me guia para um pouco distante de Naara
- É a ultima chance, se você realmente não quiser a minha presença eu vou embora hoje, mas eu precisava vir me despedir
- Tudo bem, eu pensei direito. Eu vou te dar uma chance
- Obrigada meu filho, sei que não estamos acostumados com essa aproximação, mas vamos conseguir nos adaptar, eu prometo.
- Tudo bem, não precisa ir embora.
- Ok, vou continuar na casa do Pet
- Eu te chamaria para morar comigo, mas eu moro em uma república com quatro amigos e temos uma regra: nada de mulheres.
- Não tem problema, Pet me ofereceu a casa para o tempo que precisasse. E em falar nele, vocês também poderiam ser amigos, além do mais vocês dois são irmãos
- Não vamos forçar, é muita informação. Vamos de vagar
- Tudo bem, demore o tempo que precisar querido.
Agora preciso ir, tenho que levar o Scott ao veterinário
- Ele está bem?
- Sim, só vou pedir para darem um banho nele.
- Entendi, aliás, ele é muito bonito.
- Obrigada, ganhei ele do meu pai há uns dois anos
- Cuida bem dele, ele é lindo.
- Obrigada querido
Ela me deu as costas e se despediu de Naara indo em direção à saída do Parque, assim que Naara se despertou da beleza de Scott ela veio em minha direção saltitando de felicidade.
- E como foi? - perguntou Naara
- Dei a ela uma chance e ela agradeceu.
- Você fez o certo meu amor.
- Espero que sim - à abraço e voltamos conversando até a porta de sua casa. Logo após deixa-la em casa segui em direção a minha, quando cheguei Edd estava sentado na mesa da sala com o caderno aberto e um olhar pensativo
- Esta tudo bem amigão? - perguntei
- Sim, só estou terminando a matéria final, eu nem acredito que consegui
- Sim você conseguiu, e agora você é um médico por completo
- Obrigado cara, não tiramos o primeiro lugar no campeonato, mas pelo menos eu posso descansar e me tranquilizar por que acabou. Agora é só a ultima prova
- Aquele troféu era importante para você não é mesmo?
- Seria legal ganhar com os meus amigos, mas estou feliz por termos tirado o segundo lugar
- Eu também.

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Escuridão
Teen FictionJoel foi abandonado quando criança em um riacho próximo ao interior de Minas Gerais. Havia apenas uma pessoa em quem ele confiava de verdade, ela se chamava Lina - a camareira do orfanato onde ele morava - Quando Lina morre, Joel usa todas as suas f...