Susans

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Quando cheguei à Universidade, Peterson estava
encostado em sua saveiro estacionada em frente à portaria da Universidade. Ele parecia esperar pela minha chegada, pois assim que me aproximei ele começou a caminhar em minha direção.
- Oi Joel - diz Peterson chegando até mim
- Oi cara - respondo
- Amanhã é sábado, nossa família vai fazer um churrasco e eu gostaria que você e Narra fossem.
- Nossa família? - pergunto
- Claro você é um Susan também.
- Ok, vou sim. Mas não prometo a companhia de Naara - respondo
- Aconteceu algo?
- Não estamos passando por uma fase legal, mas não é nada demais.
- Bom, não sei o que aconteceu, mas espero que se resolvam logo, nasceram um para o outro.
- Acho que sim! Amanhã eu passo lá, obrigado pelo convite - ele assente com a cabeça e saí.
Na manhã seguinte o sol parecia não brilhar, o céu estava coberto por nuvens escuras. Minha cama era vazia sem a companhia de Naara, minha vida não fazia sentido sem ela ao meu lado. Mas minha família estava começando a ser um ponto importante em minha vida, eu não entendia por que Naara não acreditara que talvez eles realmente estivessem tentado.
Quando a porta se abre, Peterson me cumprimenta e me pede para entrar, sua casa era grande e bonita, logo na entrada havia uma escada para o segundo andar com um tapete vermelho, Peterson estava todo coberto por roupas pretas e uma jaqueta de couro escrita "Susan".
- Gostei da jaqueta! - digo
- Obrigada, jaqueta da família.
- Que maneiro - digo o acompanhando até a cozinha
A família era grande, todos estavam usando a mesa jaqueta de couro preta com o nome e o símbolo "Susan" nas costas. Peterson me apresentou a todos, mas desde que coloquei os pés naquela sala, um homem chamado por Peterson de Tio Joe me foi apresentado.
- Bem vindo à família garoto! - Sem duvidas era a voz do meu sonho
- Muito obrigado Joe
- Bom, sinta-se a vontade, a casa é sua!
- Obrigado
Também estavam presentes os gêmeos filhos de minha mãe, eram Patrick e Frederik, Patrick era alto, magro e tinha um olhar sério e misterioso, já Frederick era um pouco mais baixo, mas sua estrutura física era bem semelhante a do irmão, porém Frederick era mais carismático, em todo tempo o via sorrindo e conversando com os membros de sua família. Minha avó se chamava Rosa Susan, ela era viúva e mãe de oito filhos. Quando o almoço foi servido, me sentei ao lado de Peterson, e uma moça nos serviu.
- Meu pequeno Joel, nos conte mais de você! - disse minha avó Rosa
- Bom, estou cursando Literatura na faculdade, ainda estou no primeiro período, mas em breve estarei me formando.
- Você quer ser escritor? - perguntou meu tio Joe
- Sim, é um grande sonho - respondi.
- Aqui nós não realizamos sonhos garoto. Acabamos com eles! - Pega leve tio - diz Peterson
- Tudo bem - respondo - Entendo, mas é o meu sonho sim.
- Abusado - ele sussurra
E então Peterson me oferece mais um pouco de vinho, era um "Château Mouton Rothschild 1973", um de meus preferidos, mas o valor de um deles pagava todas as prestações da minha casa.
- Joel, você se importaria em me acompanhar por um instante? - diz minha avó se levantando da cadeira onde estava sentada ao lado de meu tio
- Pensei que a hora do almoço em família fosse especial para você mamãe - diz o tio Joe
- Sim querido, mas Joel é visita e eu não vejo a hora de conhecê-lo melhor.
Assento com a cabeça e a sigo em direção a um enorme corredor que dava acesso as quartos da parte superior da casa, aquele lugar era tão grande que eu não sei como eles não se perdiam ali dentro. Ela me leva até uma sala com um sofá enorme e enormes estantes de livros nas paredes
- Vocês tem uma biblioteca em casa?
- Não meu amor! É aqui que as coisas acontecem
- Como assim? - pergunto
- Veja isto - ela tira uma foto da gaveta de meu avó junto de meu pai
- Meu pai?
- E seu avó também, Jean era como um filho para nós. Mas por toda vida ele recusou a nossa essência e olha o que tudo isso o levou, hoje seu pai está morto.
- O que isso quer dizer?
- Minha avó viveu na época da segunda guerra mundial e pelo período da ditadura. - ela faz uma pausa e seus olhos se enchem d'água - Minha avó era Judia e toda sua família foi morta pelo governo totalitário da época e ela foi exilada podendo voltar para o Brasil só em 1947 quando a poeira havia abaixado um pouco
- A vovó não morreu? - perguntei
- Não meu querido, pelo contrário. Sua avó queria se vingar, sua família havia sido morta por causa da sua religião e ela havia sido exilada injustamente. Nossa família era contra a ditadura e eles não aceitavam nosso direito de expressão
- Mas a expressão não era um direito
- Exatamente querido, não era! E nós não aceitávamos isso, ninguém diz aos Susan o que devem fazer.
- Então o que a vovó fez?
- Ela criou uma gangue, desde então nós somos os "Susan".
- Por isso vocês usam jaquetas de couro com o símbolo Susan? - Sim! Somos uma das gangues mais fortes e mais conhecidas
do Rio de Janeiro, e nós queremos que você se junte a nós.
- Eu não posso!
- Como não? Você vai nos deixar como o seu pai fez? Olha o que ele se tornou, hoje ele está morto!
- Meu pai era um homem bom vovó! Eu tenho certeza que ele nunca faria isso, e ele tem toda razão.
- Ninguém diz não para nos Joel
- Estou dizendo agora, me perdoe! Mas não posso fazer parte disso - quando me levanto para sair ela segura pelo braço e olha dentro dos meus olhos
- O sangue Susan corre por suas veias, sei como você passou a vida toda querendo matar seu irmão e sua mãe, sei que doce gosto do assassinato corre pelas suas veias meu querido neto.
- Eu não sou mais assim, eu mudei.
- Você não pode mudar a sua essência
- Não posso, mas eu vou!
- Pense melhor querido, podemos ter todo o mundo em nossas mãos. Você pode me ajudar em tudo e com tudo, a cidade do Rio estará em suas mãos!
- É uma bela proposta... - ela me interrompe
- É uma excelente proposta! - ela afirma
- Eu não posso!
- Ninguém diz não para nós!
- E ninguém me diz o que fazer vovó
- Eu tentei ser boazinha - ela levanta e puxa uma lona atrás dela com a foto de Naara
- Conhece essa mocinha?
- Naara?
- Sua namoradinha!
- Não somos nada um do outro - respondo
- Não? Mas tenho certeza que você se importa - fico em silêncio e ela prossegue - Já que você não está disposto a estar conosco, acho que Naara vai ter que pagar por isso! - Ela estala os dedos e em menos de dois segundos dois seguranças enormes entram pela porta - Vão! - ela diz e os dois somem como um raio
- Por favor! Não a machuquem, Naara não tem nada a ver com isso.
- Naara é a única que irá te fazer mudar de ideia, então é a vida dela ou você se tornar um Susan.
- Vocês não podem me obrigar
- Que pena! Vai ser lindo ver a sua namoradinha morrendo em menos de... - ela olha o relógio - quinze minutos
Então mais dois seguranças entram pela porta e me seguram pelos braços, tento me soltar, mas suas mãos eram fortes e pesadas.
- Levem- o para a sala de tortura, isso vai ser lindo!
- Por favor! Não encoste nela.
- Eu tentei ser legal com você querido! Mas ninguém diz não para mim. Eu mando aqui, você tem sorte por eu estar poupando sua vida, Naara só será mais uma em sua vida querido, você supera.
- Por favor, me mate em vez dela.
- Não querido, você tem uma coisa que eu preciso. Não posso te dar o luxo de morrer
- O que? - pergunto confuso
Ela estala o dedo novamente e eu sou arrastado até a "sala de tortura" em todo o trajeto eu tentei me esquivar e me soltar das mãos de um dos homens, mas os dois tinham o dobro do meu tamanho e o triplo da minha força. Quando um deles abre a porta o outro me empurra para dentro de uma sala escura e me obriga a sentar em uma cadeira, eu não conseguia enxergar nada! Eu só podia os sentir amarando minhas mãos com força atrás da cadeira
- Pode trazer - diz um dos dois
Então outro homem entra pela porta com um whipe em mãos
- Não façam isso! - implorei
Então o homem me chicoteia nas pernas e nos braços, e a cada estalo que o chicote dava em minha pele, cada pedacinho do meu corpo tremia e se arrepiava, a dor era imensa e eu podia sentir o sangue escorrendo pelas minhas pernas. Eu já havia tomado várias chicotadas e não aguentava mais de dor, então todo o meu corpo se paralisou por completo e eu não sentia mais as chicotadas em minhas pernas.

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