O cofre

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   Haviam se passado duas semanas desde que Lina havia sido assassinada no orfanato. Havia duas semanas em que eu não me alimentava, estava fraco e perdido. Eu mal conseguia me erguer da cama, foram duas semanas muito difíceis para  mim, era tempo de inverno e as chuvas eram avassaladoras. Varias vezes naquela mesma semana as luzes do orfanato se apagaram. O prédio era antigo e sua afiação mais ainda, qualquer vento que por ali passava era motivo para uma queda de luz que durassem horas. Pela primeira vez em duas semanas o sol havia dado as caras de novo, o céu ainda estava escuro e as nuvens carregadas, mas não impediam o sol de brilhar, seu brilho refletia nas janelas do quarto fazendo com que todo ele se clareasse, logo me despertei e vi dona Selma se aproximando com uma bandeja de café da manhã. Eu não conseguia reunir forças para levantar, nenhum alimento parava em meu estômago, até hoje não consigo entender como eu resisti por tanto tempo.
    - Bom dia Joel, trouxe seu café. Suas torradas com geleia favoritas. - ela sorri
   - Não estou com fome!
   - Mas você precisa se alimentar meu querido
   - Eu não consigo.
  Ela deixa a bandeja na estante e se senta ao meu lado na cama
   - Escute querido, Lina iria querer-te sorrindo agora. Ela detestaria te ver doente de cama por causa dela
   - Não consigo evitar, sinto a falta dela - lágrimas escorriam pelo meu rosto, eu não conseguia ser forte. Cada palavra que saia de minha boca era como se fizesse com que mais lágrimas se derramassem em meu rosto
   - Você precisa ser forte! Tenho certeza que Lina te diria o mesmo
   Eu não conseguia responder, só de lembrar de Lina eu me sentia como em um mar de lágrimas.
   - Você precisa continuar a sua vida
   - Eu não consegui nem me despedir dona Selma
   - Eu sei como deve estar sendo difícil meu amor, eu também perdi uma filha. Lina era especial para todos nós.
   - Não como era pra mim, ela me ensinou tudo que eu sei. Ela que sempre esteve comigo
   - É por causa de todos os ensinamentos dela que você é esse garoto forte hoje.
   - Sem ela eu não sou nada.
   - Você é sim meu pequeno, agora tome um banho e vá tomar um ar. Você precisa sair um pouco desse quarto
    Assim que dona Selma sai um vento muito forte bate nas janelas de meu quarto fazendo com que elas se abrissem rapidamente, tomo um susto e logo vou olhar o que havia causado todo aquele impacto. Os ventos vinham do Sul e estavam em aproximadamente 80km/h, sempre nesta época do ano isso acontecia, estávamos em temporada de chuva e logo teríamos mais um apagão. Assim que fechei as janelas de meu quarto novamente fui até o banheiro tomar uma ducha, fiquei lá por uma longa hora deixando apenas com que a água escorresse em meu corpo. Precisava tirar essa tensão de meus pensamentos e de meu corpo, precisava me livrar desta saudade. Eu precisava encontrar uma maneira de me reencontrar, quando terminei o meu banho desci as escadas em direção ao quarto de Lina. Assim que entrei dei de cara com um quadro enorme em sua parede, o quadro escondia um mofo enorme que havia ali, era um retrato falado de uma moça muito parecida com Lina, deveria ser sua mãe. O quarto estava abafado e fedendo a mofo, meu nariz já começava a se irritar. Abri as janelas para que pudesse enxergar onde eu estava pisando e para que aquele cheiro de mofo se espalhasse. Sentei em sua cama e vi uma foto nossa enquadrada na cabeceira de sua cama. Estávamos brincando no jardim do orfanato, eu deveria ter uns quatro anos naquela foto. Como ela me fazia falta, abracei o porta retraso e uma lágrima se escorreu em meu rosto. Quando olhei em sua estante vi uma caixinha pequena em cima dela, uns minutos antes de sua morte, Lina havia me dito algo sobre aquela caixinha, mas eu não me lembrava ao certo. Abri a pequena gaveta e lá dentro havia uma chave com um papel enrolado "chave do cofre" estava escrito. Lembro-me de Lina dizendo que eu deveria abrir o cofre e descobrir toda a verdade, mas que verdade seria essa? Eu estava mais do que perdido, como eu saberia onde fica o cofre? E por que Lina guardava as chaves? O que tinha de tão importante lá dentro que eu deveria descobrir a verdade?
   Uma nuvem de pensamentos embaraçoso tomaram conta de mim e então peguei a chave e o porta retrato e voltei para o meu quarto. Coloquei o porta retrato em minha estante e escondi as chaves de baixo de uma pilha de blusas dobradas em meu armário. Passei horas formulando um plano de como eu conseguiria encontrar o cofre, ele provavelmente ficaria escondido em algum lugar importante, talvez no sótão ou no porão... Mas eu não entraria lá nem que me pagassem - mentira, se pagassem eu entraria sim - talvez estivesse na cozinha, um ladrão não pensaria em procurar um cofre na cozinha, a não ser que ele estivesse com fome, o que eu estava pensando? Não fazia sentido nenhum. Talvez nos banheiros ou na sala da diretora. Resolvi parar de pensar e começar a procurar, eu empurrava todos os quadros nas paredes, olhava atrás de todas as cortinas e em baixo de todos os tapetes, mas nada de cofre, fui até a cozinha, olhei atrás da geladeira, de baixo dos tapetes, atrás das cortinas, dentro dos armários, em todos os lugares possíveis. Mas eu não o encontrava, fui para a sala da diretora, ela havia acabado de sair e eu precisava ser rápido.
    Olhei em todas as gavetas, atrás das cortinas, dentro dos armários e nada de cofre algum. Estava cansado de procurar, eu passei horas procurando o maldito cofre e parecia que todas elas haviam sido em vão, sentei na cadeira e inclinei o meu corpo para conseguir um espaço confortável para me concentrar melhor. Havia na parede um quadro bem grande com a foto do fundador do orfanato, minhas esperanças já haviam acabado, mas decidi olhar atrás dele mesmo assim. E lá estava ele, um cofre de ferro escondido atrás do quadro, estava em um lugar mais fácil do que imaginei. Abri o cofre, além de notas em dinheiro havia uma pilha com cinco cartas, as peguei e tranquei novamente, eu não precisava roubar dinheiro. Tudo que eu precisava saber deveria estar ali. Quando cheguei ao meu quarto notei que o papel das castas estavam amarelados e manchados, pareciam cartas velhas de alguns anos atrás. Quando abri, a primeira coisa que me deparei foi "Jean King".

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