Chamada 32

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   Quando acordei na manhã seguinte corri para a
universidade, como de costume eu estava atrasado e precisava ver Naara novamente, não conseguia esquecer a noite passada. Não havíamos ganhado o primeiro lugar no campeonato de futebol, mas Naara havia acabado de ganhar o primeiro lugar em meu coração. Assim que cheguei a minha sala, o monitor estava iniciando as aulas de Espanhol. Entrei na sala de vagar para que ele não notasse a minha presença e me sentei em minha mesa.
   - Eu te vi senhor King, esta atrasado.
   - Me perdoe monitor, tive um probleminha no transito
   - Que não se repita.
   Ele sabia que eu estava mentindo. Mas parecia não estar com paciência para continuar ouvindo a minha mentira então voltou à aula, não prestei atenção em nenhuma palavra que ele disse a aula toda - eu era fluente em espanhol, mais um dos maravilhosos ensinamentos de Lina - eu só conseguia pensar em Naara, onde ela deveria estar, qual seria o cheiro do perfume dela? Qual roupa ela estaria usando? Só conseguia pesar em seu sorriso e em seus lábios macios, Narra não saiu da minha cabeça nem por um instante. Quando o sinal tocou não consegui me conter, saí em direção à sala de Naara, tudo que eu queria naquele minuto era poder tê-la em meus braços. Quando cheguei Naara, Edd e Brad estavam conversando no canto da sala, cheguei por trás sem que eles pudessem me ver e então à abracei.
   - Oi, que saudade! - Naara diz retribuindo meu abraço.
   - Acho que nunca tinha te visto tão feliz Joel - diz Edd
   - Bom, eu não consigo ver minha expressão agora, mas se estou feliz com certeza o motivo de tudo isso é essa garota aqui.
   Naara e Brad sorriram e então fomos em direção ao pátio, sentamos no gramado próximo a grande arvore torta, ela fazia uma sombra enorme e nós sempre ficávamos ali juntos, o pátio estava lotado de estudantes e professores, parecia que estava acontecendo um evento importante.
   - Estão organizando a formatura de medicina do mês que vem - disse Brad
   - Nosso amigo vai formar - disse Naara abraçando Edd
   - Eu não via a hora disso acontecer, como eu lutei por isso.
   - Você merece todo esse sucesso amigo - disse
   - Obrigado! Vocês são os melhores
   Meu telefone começou a tocar, era o mesmo número com o DDD32 que havia me ligado na semana passada.
   - Olá, quem ta falando?
   - Joel?
   - Sim, sou eu.
   - Sou o novo diretor do Orfanato "Pequenas   Estrelas" em Minas Gerais
   - O que aconteceu com a Dona Selma?
   - Felizmente ela não está mais entre nós senhor    Joel, se é que me permite dizer uma coisa dessas.
   - Mas é claro que não, como você pode ter coragem de falar assim de uma senhora tão boa?
   - Eu gosto de pessoas que me dão informações senhor Joel, e quando elas não tem informações o bastante para me dar, eu mato.
   - Isso por que você não conhece o Bolsonaro - soltei uma risada sarcástica.
   - São assim que as coisas funcionam por aqui, e a não ser que você queira ter o mesmo destino de Selma, espero que me dê às informações que preciso. Quero a chave do cofre, Joel.
   - Me desculpe, mas qual o seu nome?
   - Seu pior pesadelo
   - Que nome esquisito, mas Joel King não segue ordens. Vai ter que se virar sozinho
    Então desliguei a ligação e todos ficaram me encarando com um olhar de confusão.
    - Quem era Joel? - perguntou Naara
   Antes que eu tivesse tempo de responder o telefone toca novamente e Edd e Brad saem deixando Naara e eu sozinhos. Era o mesmo cara de novo, eu não o atenderia mais, se ele quisesse saber onde estava a chave do cofre teria que me matar primeiro.
   - Um novo diretor do orfanato em que morei, ele matou a diretora e agora ele quer a chave do cofre.
   - E por que você está com ela?
    - Antes de Naara morrer, ela deixou para mim cartas de meus pais biológicos guardadas dentro do cofre.
   - E porque esse cara quer as cartas?
   - Ele não quer as cartas Naara, ele quer o dinheiro que esta no cofre e ameaçou me matar se eu não der a ele.
   - E o que você vai fazer?
   - Nada, ele não sabe onde estou nem com quem estou. E a chave esta em meu apartamento, impossível ele encontrar.
   - Por que você não deixou a chave do cofre no orfanato?
   - Por que aquele dinheiro é do meu pai Naara, Lina guardou minha herança com ela quando ele morreu para que ninguém pudesse roubá-la de mim.
   - Mas por que você não trouxe o dinheiro com você então?
   - Eu não preciso do dinheiro dele, eu nuca precisei Naara. Eu sempre me virei sozinho, não vai ser agora que eu descobri a verdade que vou querer algo vindo dele.
   - Que verdade?
   - Minha mãe que me abandonou, meu pai não sabia. Ele passou a vida inteira procurando por mim, mas ele acabou sendo internado com câncer e não sobreviveu. Um de seus amigos me encontrou no orfanato, Lina ia ao hospital conversar com meu pai várias vezes, e então ele contou tudo para ela.
   - Por que ela te deixou?
   - Meu irmão mais velho estava doente e ela teve uma crise de abstinência quando eu tinha três meses e então ela me deixou.
   - E você conhece esse irmão?
   - Mais do que imagina.
   - E por que não fala com ele?
   - Um dos motivos pelo qual eu me mudei para o Rio, era vingança contra sua vida.
   - Mas por quê? A grande culpada disso tudo foi a sua mãe
   - É o que todos pensam, quem matou a Lina foi o meu irmão. Meu pai me disse que ele havia dito que Lina sabia coisas demais sobre a nossa família e sobre mim
   - Eu não acredito, você nunca faria isso.
   - Ele matou a Lina, Naara. Ele também não merece viver.
   - Não são assim que as coisas funcionam Joel. Um dia Deus vai fazê-lo pagar por tudo isso.
   - Não quero estragar seu sonho querida, mas seu Deus não existe.
   - E como você tem certeza disso?
   - Não acredito que exista um ser de branco poderoso e bom olhando por nós lá de cima, não acredito em espíritos e nem em nada que não posso ver.
   - Você consegue ver o ar?
   - Não - Mas o que tinha a ver?
   - Mas você consegue sentir ele, e você sabe que ele existe. Assim é Deus, não o vemos, mas podemos senti-lo.
   - A única coisa que estou sentindo nesse momento é raiva de meu irmão por lembrar o que ele fez.
   - Quem é o seu irmão Joel?
   - Peterson Joel King.
   - Vocês são irmãos? Isso explica tudo! Por isso vocês se odeiam.
   - Sim, ele é um babaca idiota. Mas já dei uma lição nele
   - Aquele olho roxo que apareceu nele ontem foi você?
   - Eu quase matei ele ontem Naara, mas eu não consegui.
   - Joel olha pra mim - ela segura meu rosto com as duas mãos e se aproxima o máximo possível - Não são assim que as coisas funcionam, você não vai se sentir melhor se você matar ele, você vai estar se igualando a ele.
   - Foi exatamente por isso que eu não o matei. Mas só de pensar que ele gosta de você e que ele esta perto de você, isso me deixa maluco. Ele sabe que você é um ponto fraco meu e ele pode usar isso contra mim.
   - Joel, promete pra mim que não fazer nada.
   - Eu faria tudo para ter você comigo para sempre, mesmo que isso me custasse à vida dele.
   - Eu conheço Peterson há muitos anos, ele nunca me machucaria.
   - È o que eu espero de verdade, ele já me tirou muitas coisas, eu não sei se consigo mais se ele me tirar você também.
   - Olha, estamos juntos e é com você que eu quero estar Joel. Peterson não pode nos separar - Ela me abraça forte, sinto sua respiração em meus ombros e meus olhos se enchem d'água. Edd realmente estava certo, eu a amava. Queria poder tê-la comigo em todo momento, quando eu estava com ela eu sentia paz e nem conseguia pesar em Lina, tudo era claro e bonito quando estávamos juntos. Naara era meu chão, eu precisava dela.
   - Gosto muito de você, quero estar com você também.
   - Vamos para casa.
Assim que saímos do pátio encontramos com Peterson e Mart - o goleiro do time de futebol - eles olharam diretamente para mim e para Naara que estávamos de mãos dadas
   - Naara, você é uma pessoa tão inteligente, como você pode estar junto com um cara como ele? Você poderia ter um cara incrível como eu
   - Eu devo ser muito louca então, tão louca quanto ele. Mas a nossa loucura combina, e eu nunca ficaria com uma pessoa como você Mart.
    Passamos por eles como se nada tivesse acontecido, e todas em nossa volta nos olhavam, eu detestava toda essa atenção mas como Naara estava comigo, segurando minha mão, eu sentia como se ela estivesse segurando o meu mundo inteiro, sentia como se ela estivesse dando rumo a minha vida novamente. Quando chegamos ao carro não consegui resisti e a beijei novamente e ela fez o mesmo, seus lábios eram quentes e macios, meu corpo parecia flutuar enquanto estávamos juntos, ela me fazia muito bem, eu a amava.
   - Você é incrível
   - Só quando estou com você
   Ela me da mais um beijo e então eu ligo o carro e a levo para casa. Naara morava sozinha, além de inteligente e bonita ela também era independente.
   - Pensei que morasse com o seu pai
  - Eu morava, mas ele começou a namorar e achei que eles precisavam de privacidade
   Não consegui conter uma risada e ela me acompanhou
   - Acho incrível pessoas independentes
   - Mas você também é!
   - Sim, mas eu gosto de morar com Edd, ele é um cara maneiro e o meu único e verdadeiro amigo.
   - Vocês são demais. Os melhores amigos do mundo
   - Amigos?
   - Sim. Somos amigos, você e Edd não desistiram de mim, eu sempre te tratei mal, sempre te achei chata, insistente e curiosa, e eu detesto pessoas assim. Mas eu sinto que posso confiar em você.
   - Me achava chata?
   - Me perdoe por dizer isso, mas agora eu sei o que eu quero e sei com quem eu quero estar.
   Nos abraçamos, ela encosta a cabeça em meu peito e solta um suspiro de alivio como se um grande peso fosse retirado de suas costas
   - Pensei que nunca mais fossemos ser amigos de novo.
   - Eu nunca mais fico sem você! - a abraço mais forte e levanto sua cabeça pelo queixo em direção a minha - Você é tudo para mim, eu nunca senti isso por ninguém antes. Sempre foi muito difícil pra eu expressar os meus sentimentos, mas com você sempre é tudo mais fácil.
    Ela me beija e sem dizer uma palavra me abraça forte novamente, alguns minutos depois fomos para a sala assistir o filme que estava passando. Meu telefone começa a vibrar e quando vejo é o mesmo número desconhecido com o DDD 32
   - É do orfanato de novo?
   - Sim, mas eu não vou atender
   - Atende, vai que é importante
  Então mudei de ideia e atendi.
   - Alô?
  - Joel Stevenson King?
  - Sim, sou eu!
  - Já pensou em nosso acordo?
  - Não tenho o que pensar e nós não temos um acordo.
  - Ninguém diz não para mim Joel
  - Eu estou dizendo agora, e não me liga mais.
  - Sei onde você mora King, sei o nome das pessoas que você ama inclusive o de sua amada Naara. Me dê o que eu pedi, ou eles vão se machucar.
   - Não tenho medo de você, você não me conhece, não sabe com quem está se metendo. E não ouse se aproximar de Naara. Ou eu arranco cada veia do seu corpo, uma por uma. - Sinto o corpo de Naara se arrepiar e seus olhos se arregalam.
   - Está avisado senhor King. - ele desliga
   - Por favor! Não faça nada - Naara diz desesperada
   - Se acalme - a abraço - ninguém vai se machucar, estou protegendo o cofre de um ladrão e estou protegendo os meus amigos. Aposto que é um golpe de alguém querendo me roubar.
   - Promete que não vai fazer nenhuma loucura?
   - Eu nunca negaria um pedido como esse
   Ela estava concentrada em cada uma de minhas palavras e seus olhos estavam fixos nos meus, por fim ela abre um sorriso lindo no rosto de me da um beijo, então ela volta a se aconchegar em meus braços e voltamos a assistir o filme. Quando estávamos juntos a hora voava, era tão bom os momentos que passávamos juntos e tão confortante que acabávamos sempre caindo no sono.

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