Capítulo 15

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Frankfurt – Alemanha – 2007

Itachi Uchiha suspirou entediado pela quadragésima vez aquela manhã cansativa de segunda-feira. O doutorado que conseguira naquela Universidade era o melhor na área de Economia aplicada no mundo inteiro, e seu pai chegou a expressar algumas vezes (em meio a conversas particulares, ou jantares de família que acabavam em brigas) o quão orgulhoso estava do primogênito, afirmando que o herdeiro só conseguiria fazê-lo mais feliz se conhecesse uma garota de família e parasse com... Como era mesmo que ele falava? A sim, essa "futilidade inútil de livros de ficção".

Relembrando de tais palavras, Itachi apertou com mais força a ponta do lápis, fazendo-o quebrar e furar a folha onde escrevia mecanicamente as anotações de sala de aula. Grunhiu irritado, apoiando a cabeça com a outra mão e buscava outro lápis em seus bolsos.

Itachi odiava Economia, mas fazia cursos ligados a essa área por causa da Empresa Sharingan. Seus pais sempre deixaram bem claro para os filhos que um dos dois deveria assumir as funções da empresa, e como Sasuke apresentara vocação para medicina desde criancinha, Itachi resolveu assumir esse fardo. Seu Otouto, por outro lado, nunca soube o quanto essa função era desprezada pelo irmão mais velho, e o prodígio não tinha a menor vontade de revelar. Afinal de contas, alguém deveria seguir o empreendimento familiar, e Sasuke já possuía uma carreira que exigia bastante de seu horário diário.

Adquirira um emprego excelente apenas dois dias depois que desembarcara na cidade devido ao seu currículo invejável, e o doutorado não parecia tão diferente do mestrado como ele achara inicialmente. Na verdade, tudo indicava que os próximos meses seriam extremamente tediosos... Ao menos conseguira manter o contrato com sua editora mesmo a distância, e podia continuar publicando os "inúteis e fúteis livros de ficção".

Tch, seu pai sequer se dera ao trabalho de ler ao menos um deles.

De qualquer maneira, ninguém de sua família parecia se interessar por livros, quer seja os dele, quer seja o de outros autores. O único que lia suas obras (e, inclusive, não tomava consciência desse fato) era Naruto. Itachi usava um pseudônimo para as publicações, e o loiro gostava da leitura de "Tsukuyomi"; frequentemente indicava algum de seus próprios livros para que o moreno lesse.

_ Esse daqui tá ainda melhor que o outro! – ele falava, e Itachi controlava o ímpeto de sorrir ao receber um elogio indireto. Sempre aceitava os livros e fingia ler, e depois discutia a trama com Naruto, que aparentemente achava tudo bem empolgante. O loiro sabia que Itachi escrevia e publicava, mas nunca soube qual nome ele utilizava e certamente jamais passou pela sua cabeça que ele seria o tal "Tsukuyomi".

Afinal de contas, o Uchiha era um ótimo ator.

Não sabia como iria viver distante de Naruto e Sasuke. Sim, realmente morava fora de casa há alguns anos, mas os três sempre se encontravam nas férias. Agora que os irmãos Uchiha tiveram a discussão em sua última visita ao casal, onde seu irmão anunciara com a maior cara de pau do mundo o casamento por interesse, Itachi sabia que não entrariam em contato tão cedo.

Naruto não sabia que seu noivo e Itachi haviam brigado. Sasuke deve ter inventado alguma desculpa esfarrapada para o Uzumaki, e uma semana depois o loirinho ligou em seu celular, convidando-o para o casamento. O Uchiha fingiu surpresa, desejou felicidades, mas disse que não poderia ir, pois cairia bem na época de sua mudança para a Alemanha. Naruto ficou entristecido, mas aceitou a desculpa.

Se levasse em consideração o fuso horário local, o casamento de seu irmãozinho e futuro cunhado se daria dentro de algumas horas. E o peito de Itachi parecia congelar só de recordar-se desse fato. Qualquer sonho irreal que possuía de ter algo com o loiro seria esmagado e pisoteado por essa cerimônia. Por isso, não reclamara tanto da ideia de se mudar para a Alemanha: afinal, ao menos estaria longe de toda fonte de sua dor emocional, quem sabe conseguisse superar isso mais facilmente com a distância.

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