A Bia estava com ciúmes. E eu amava saber disso, me dava esperanças.
Toda vez que a Raquel se aproximava a menos de cinco metros de mim ela lançava faíscas pelos olhos, no entanto ela não voltou a reclamar. Mas eu conhecia a Bia, conhecia a minha namorada e sabia que isso a incomodava, então embora eu adorasse vê-la com ciúmes eu preferia me distanciar da Raquel para não deixar a minha namorada com raiva.
A Raquel era apenas uma amiga de infância, crescemos juntos com outros amigos onde brincávamos na rua, soltávamos pipa (até ela) e qualquer outra brincadeira de criança.
Era isso que éramos, crianças. A Raquel para mim sempre vai ser aquela garota maneira que gostava de soltar pipa e jogar bola eu nunca a vi de outra forma e não vai ser agora que a verei. A Bia tem cada ideia.
Após eu deixar São Paulo e vir para o Rio eu nunca mais ouvi falar de ninguém de lá.
Ganhei meu celular pouco depois que chegamos então eu não tinha o número de ninguém. Acho que meus primeiros contatos além dos meus pais, foram a Bia e as meninas e hoje em dia vejo que assim foi melhor.
Me lembro que fiquei sem falar com meus pais até começar a conhecer as pessoas da cidade e ver que aqui também tinha pessoas legais e que não era tão ruim assim ser o novato.
Afinal todo mundo queria conhecer o novato.
Saí do escritório onde trabalho com meu pai há pouco mais de trinta minutos ele pediu que eu fosse ao fórum tirar cópia de um processo antigo.
Eu acho que seria muito mais fácil ele fazer carga do processo, que assim eu faria a cópia do aconchego da minha pequena mesa em frente a sala dele. Mas é claro que para ele é bem mais fácil eu ir ao fórum tirar a cópia, assim ele não tem trabalho nenhum.
Então cá estou eu, com um sapato desconfortável que nada lembra o tênis que estou tão acostumado, com uma calça social preta e uma bluza social azul claro, dobrada até o cotovelo.
Com o sol que faz lá fora, dobrar a blusa é a forma mais eficiente e menos correta de se refrescar.
Depois de passar quase uma hora e meia debruçado sobre o balcão tirando cópias de um processo, e despachando alguns pedidos de análise de petições eu finalmente pude ir embora. Naquela altura já estava prestes a terminar meu horário de estágio e eu estava determinado a enrolar um pouco mais e poder ir direto para casa.
Assim que saí do fórum liguei para a Bia. Hoje era sexta-feira e sempre fazíamos algo as sextas.
_Oi namorado! - ela atende demonstrando uma animação um tanto quanto suspeita.
_Oi namorada. Está tudo bem? - pergunto receoso.
_Claro, por que não estaria? - ela disse sem esperar uma resposta. - Estava esperando a sua ligação, já saiu do trabalho?
_Mais ou menos. Mas por que você estava esperando minha ligação?
_Por que você sempre me liga quando sai do trabalho. - ela diz óbvia.
_Certo, é verdade.
_Claro que é. - ela suspira e eu sei que ela revirou os olhos.
_Não revira os olhos. - brinco. Faz-se silêncio do outro lado da linha.
_Como você... Urgh, deixa para lá. - sorrio, por conhecê-la melhor que qualquer um.
_Vamos sair hoje?
_Claro. Para onde você quiser.
_Huum, interessante. Gosto de te ver tão animada.
_Eu só estou feliz hoje.
_Espero que eu seja parte do motivo da sua felicidade. - digo baixinho, mais pra mim, mas ela ouve e fica em silêncio.
_Você sempre foi parte do motivo da minha felicidade. - ela diz baixinho e eu sorrio do outro lado da linha.
_Eu te amo.
_Eu sei.
_Te pego às 19h?
_Estarei pronta. - bufo do outro lado da linha.
_Então eu chego aí as 18h, só para garantir que as 19h você estará pronta mesmo. - ela sorri alto.
_Prometo fazer o possível para não te deixar esperando.
_Por você eu espero o tempo que precisar.
_É muito bom saber disso, mas é melhor eu não abusar. Vai que você cansa. - sorrio.
_Isso nunca vai acontecer.
_ Mesmo assim, estarei pronta as 19h. - sorrio.
_Tudo bem, agora vou desligar.
_Está bem, dirige com cuidado. - sorrio com seu carinho.
_Eu te amo. - digo mais uma vez antes de terminar a chamada quando finalmente chego a porta do meu carro.
Pego a chave e destravo o carro, jogando o celular e os papéis em cima do banco do carona.
_Eduardo? - olho para o lado encarando a pessoa que me impediu de entrar no carro.
_Matheus. - digo em um comprimento sério, sério demais para quem sorria como um bobo a poucos segundos.
O rapaz à minha frente se aproxima dando um daqueles sorrisos grandes que deixam as mulheres loucas e eu sinto meu sangue começar a esquentar.
_Quanto tempo não? - diz ainda sorrindo.
_Pois é. - concordo enquanto meu cérebro grita que não foi tempo o suficiente. - E o que te traz a cidade? - pergunto por educação.
_Voltei para cá, sabe como é o emprego do meu pai. Nós temos que viver nos mudando. Tive que transferir meu curso para uma faculdade daqui.
_Está cursando o quê?
_Educação física. - ele responde e meu lado mau sorri irônico. Claro que ele iria cursar Educação física. Sabe aquele tipo de garoto que só liga para aparência? E que é bom em todos os tipos de esporte? Esse definitivamente é o Matheus.
_Legal.
_E você está cursando o quê?
_Ainda estou terminando o ensino médio, mas pretendo cursar Direito.
_Ah é, me desculpa. Eu esqueço o quanto vocês são novos, afinal, quando namorei a Bia ela era bem mais nova que eu. - sinto meu sangue esquentar e dou um sorriso forçado.
_Pois é.
_Falando na Bia... - ele começa com um sorriso grande no rosto e eu já sei que não vou gostar de como isso vai terminar.- Ela está mais linda do que nunca não é? Quando a vi mais cedo quase perdi o fôlego. - ele fala calmamente mas quem quase perde o fôlego foi eu. Como é que é?
_Você viu a Bia? - sinto-me empalidecer.
_Sim, faz umas duas horas mais ou menos. Minha irmã está estudando junto com o irmão dela, nos esbarramos quando fui buscá-la na escola.
_Hum. - é o máximo que consigo pronunciar. Por que diabos a Bia não me disse que viu o Matheus?
_E pelo visto nos veremos com frequência, me mudei para aquela casa amarela no final da rua dela, sabe qual?
_Sei. - digo me recordando de que casa ele está falando. Que maravilha... Matheus há 50 metros da Bia, definitivamente eu nunca mais vou dormir em paz.
_Ela pareceu feliz em me ver, quem sabe...- ele diz com um ar sonhador.
_Quem sabe o quê? - pergunto talvez de maneira grossa demais. Mas quem liga, eu estou a ponto de estrangular esse garoto mesmo.
_Nada, deixa para lá. Preciso ir agora.
Manda um beijo meu para a Bia, foi bom te ver.
E antes que eu pudesse reagir e lhe dar um soco na cara deixando claro que a Bia agora tem dono e que só eu posso beijá-la ele já estava longe o suficiente para me deixar enfurecido e com cara de taxo no meio da rua.
Abro a porta do carro, entro e fecho a porta, talvez com um pouco forte demais.
Um filme de toda a minha conversa com o ex namorado da Bia passa pela minha cabeça. Me lembro de antes também há uns dois anos atrás quando eles namoravam e o Matheus terminou com a Bia para ir embora, ela ficou arrasada por meses e eu a consolei quando na verdade eu estava em pedaços por dentro, por saber que a Bia gostava de outra pessoa e ela estava sofrendo por ele.
"Ela pareceu feliz em me ver" , Matheus disse.
"Eu só estou feliz hoje." Bia disse mais cedo.
Merda, merda, merda! Isso não pode estar acontecendo.
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Bela Amizade - Trilogia Belas (Concluído)
RomanceLIVRO II - Trilogia Belas Alegre, animada, extrovertida e engraçada essas são as principais características de Bianca Beraldini, sempre bem humorada em todos os momentos a Bia era quem mantinha a alegria e a diversão na vida de seus amigos, Isa, Man...