Capítulo 30 - Murilo Murto

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Já eram duas da manhã, e só agora pude ter um pouco de paz então rapidamente fui em direção ao quarto onde eu tinha hospedagem garantida, graças a Manu.
Sim, eu estava um pouco constrangido com isso, mas o constrangimento passava quando eu lembrava que se não fosse isso eu teria que passar a noite em claro ou em um quartinho ínfimo de médicos residentes e enfermeiros que a essa hora teria mais pessoas espalhadas por ele do que ele era capaz de suportar.
Eu estava sonhando com o dia em que eu deixasse de ser residente e tivesse meu próprio consultório, a minha própria sala.
Hoje sempre que eu tinha que atender consultas marcadas eu usava a sala do meu superior, o Dr. Flávio.
Mas ele sempre levava a chave para casa quando não estava, por que havia itens pessoais em sua sala.
E os de mais, meros mortais tinham que se conformar em se apertar naquela salinha minúscula, por isso eu preferia e muito dormir com um cara que eu mal conhecia, afinal eu estava em um plantão de quase 48h, e o resto de consciência e de vergonha na cara que eu tinha já havia desaparecido a essas alturas.
Ao chegar lá, encontro o quarto vazio, quer dizer, o Eduardo, meu companheiro de quarto hoje, não estava lá como eu pensei que estivesse. Olho no banheiro e está tudo vazio então, sem entender deito no sofá pronto para apagar nele, mas isso não acontece.

Minutos, talvez horas, se passam e eu continuo acordado, merda de sono que não vem! Geralmente é tão fácil, mas eu sentia meu corpo tão cansado que nem dormir eu conseguia. Suspirei cansado.

Abri meus olhos frustrados e ele rapidamente encontraram a minha paciente na cama, em um sono profundo.
Parecia um pouco mórbido tudo aquilo, mas entediado e na falta da Manu, resolvo falar com ela. Levanto e vou até a beira de sua cama.
Ela é uma jovem bonita, não posso negar. Pele branca e suave, cabelos loiros. Fico imaginando qual cor teria os seus olhos, e se suas maçãs tão proeminentes ficam rubras quando ela está com vergonha? Eu estava divagando, eu sei.
Mas de repente eu tive curiosidade de saber como ela é, já que tem tantas pessoas que a amam tanto, como a Manu por exemplo.
Me lembro da jovem, linda de cabelos escuros e doçura absoluta que parecia tão desesperada para que a amiga acordasse, então voltei a olhar para a paciente.

_Oi... É... Bia né o seu nome? - disse, revirando os olhos logo em seguida, como se ela fosse me responder. - Bom Bia, eu não te conheço, não faço ideia de quem você é, mas pude perceber que você é muito amada por aqui, então, tente fazer um esforço, luta para acordar, tem tanta gente aqui que te ama e precisa de você! Então, lute pela sua vida! Acorde! Viva! - digo me sentindo um idiota falando com uma pessoa que eu nem conheço e que ainda por cima está em coma.

Me viro voltando para o sofá decidido a dormir de qualquer jeito, esse tempo todo sem dormir certamente estava tirando todo o meu juízo.
Deito no sofá, já fechando os olhos para dormir, começo a contar números em minha cabeça para que o sono venha rápido, mas de repente sinto uma sensação estranha, como se alguém estivesse ali e me olhasse.
Abri os olhos devagar pensando que talvez o Eduardo estivesse voltado sei lá de onde e eu não havia o visto entrar, mas não havia ninguém em pé, embora alguém me olhasse com afinco.
Me assusto ao ver a paciente acordada, os olhos me fitando confusa e o pescoço virado em minha direção, levanto do sofá em um pulo antes de correr em direção ao interruptor para acender a luz e comprovar, que a paciente está mesmo com os olhos abertos.

Procuro pela laterna que geralmente fica no meu bolso, mas que agora está em cima do criado mudo junto com o meu jaleco. Pego ela e rapidamente coloco em direção aos olhos da Bianca, ela fecha os olhos com força e eu respiro aliviado. Ela acordou! Um sorriso grande cresce no meu rosto e eu nem sei ao certo por quê.

_Tudo bem, eu sou o seu médico. Você consegue me entender? - ela acena levemente, e eu sorrio vitorioso. - Você consegue mexer as mãos? Ou os pés? - ela acena novamente, e os mexe para comprovar. - sinto-me mais feliz ainda, eu não acredito! - Ta bom, muito bem. Consegue falar? - ela abre a boca e diz com dificuldade.

Bela Amizade - Trilogia Belas (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora