Capítulo 29 - Edu

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Acabei perdendo a hora dessa vez.
A Manu havia dormido com a Bia na noite passada e eu deveria chegar lá cedo para ver a minha namorada e para que a Manu pudesse vir para casa, mas dessa vez dormi de mais.
Quando eu acordei passava das 11h e é claro que ninguém da minha família teve coragem de me acordar.
Bufei irritado quando vi a hora, liguei para a Manu que disse que não havia problemas e que estavam levando a Bia para fazer alguns exames de rotina agora e que provavelmente iria demorar um pouco, que eu ficasse tranquilo.
Concordei dizendo que chegaria lá o mais rápido possível.
Em seguida fui tomar um banho e me arrumar, fiz uma mochila simples com uma peça de roupa e outros itens importantes antes de descer as escadas e ir na direção da porta.
Peguei minhas chaves, fechei a porta e fui até o carro que para minha surpresa não ligou, tentei novamente e aconteceu a mesma coisa.
Saí do carro frustrado e abro o capô para ver do que se tratava, dando de cara com um nuvem de fumaça branca que me atinge.
Merda! - praguejo.
Tirando meu celular do bolso para ligar para o mecânico que costuma consertar o meu carro.
Ele atende pouco depois falando que chegaria lá em alguns minutos.
Espero dentro do carro mesmo, praguejando um monte de impropérios até o mecânico chegar.
Ronaldo já chega olhando o capô, e muito calmo vem até mim, dizendo que provavelmente era falta de água no radiador e que tinha alguns canos derretidos.
Ele reboca meu carro até a oficina dizendo ligar assim que tivesse tudo pronto e eu mais frustrado do que nunca pego meu celular para pedir um carro de aplicativo.
Falta de água no radiador! Urgh! Como eu pude esquecer de algo tão simples?
Mais de vinte minutos depois o carro chega, entro calado olhando o meu celular para ver a hora.
Já passava das uma da tarde, e saber disso fez minha barriga roncar, mas apesar disso eu não tinha vontade de comer.
Pouco depois cheguei ao hospital, agradeci ao motorista e sai.
Quando cheguei aos elevadores ouvi umas pessoas comentando sobre algo que teria acontecido no hospital, um homem que teria apanhado de uma menina. Revirei os olhos para aquela informação, notando que as pessoas faziam fofoca por tudo.
Quando me aproximei do corredor notei que não havia segurança lá o que fez um alarme disparar no meu cérebro imediatamente.
Abri a porta do quarto da Bia com pressa, paralisando ao encontrar um quarto muito mais cheio do que o normal com risadas sonoras e animadas e aquilo me fez sentir raiva.
Tinha algum motivo para sorrir por acaso?
Além da Bia na cama, e a Manu como sua acompanhante também havia, o Taylor, a Isa e um dos médicos da Bia sentado calmamente em cima da mesa!
_Finalmente alguém lúcido aqui! - Isa se levanta do sofá e vem até mim me abraçando. Sinto o sangue ferver diante da sua demonstração.
O que ela pensava? Que estava tudo bem? Que a Bia não estava em coma? Que tudo isso não era culpa dela? Que o meu mundo não estava desabando por culpa dela?
_O que houve Edu? - perguntou confusa quando a olhei sem expressar nenhuma reação.
_O que você faz aqui? Quer que voltem para acabar com a Bia de vez? - Isabela se afastou mais de mim, me olhando decepcionada como se eu tivesse três cabeças.

_Cara, o que você está falando? - Taylor diz antes de se levantar e se aproximar da Isa tocando seus braços.
Até aquela simples demonstração de carinho me irritava, por que por culpa dela eu poderia nunca mais tocar a Bia assim.
_A culpa é dela da Bia estar assim, dela e da família que nos envolveu nisso! Se a Bia morrer a culpa é sua! Tudo culpa sua! - acuso enfurecido. Isa engole em seco olhando ao redor antes de me olhar com os olhos cheios de lágrimas.
_ Talvez você tenha razão. - inicia- Talvez eu tenha alguma culpa, mas você acha mesmo que algo do que você me diga será novidade para mim? Você acha que eu já não sei de tudo isso? Mas pior de tudo, você acha que é o único que está sofrendo? Eu sei que você ama a Bia, mas eu também amo, a Manu também ama. E se você acha que você tem o direito de dizer essas coisas para mim... Você não tem! - fala com raiva, antes de prosseguir. - A Bianca era mais que uma amiga para mim, ela era uma irmã, ela era família, o meu porto seguro, se você a ama, eu a amo há muito mais tempo.- ela da um sorriso triste e debochado. -  Acha que essa provável culpa ja não me consome? Mas deixa eu te contar uma coisa, os seus problemas não são maiores que os meus, não é só o seu mundo que está desmoronando, o meu também está! Nos últimos meses eu passei por coisas muito maiores do que você pode imaginar, tentaram me sequestrar, me matar várias vezes, e eu descobri que a minha vida inteira era uma mentira, meu pai escondeu de mim a vida inteira do que ele trabalhava, o meu namorado na verdade só se aproximou de mim por que ele era o meu segurança, a minha mãe... Ela também sempre mentiu para mim, e acabei descobrindo que ela não morreu numa tentativa de assalto, ou em serviço como meu pai afirmou, mas sim assassinada pelo cara que eu considerava meu tio, o cara que me levava na escola e no parque para brincar, o cara que contratou um monte de gente para me matar! O cara que atirou na minha melhor amiga! Agora me diz, o que era real na minha vida? Em quem eu posso confiar? - a essa altura a Isa já tinha o rosto molhado por lágrimas e tentava se manter firme, mas eu a conhecia o suficiente para saber que ela estava quebrada. Ela tinha a mesma expressão de quando sua mãe morreu, como se ela não soubesse o que fazer da vida, mas tinha que fingir para todos que estava bem, que não era o fim do mundo e que ela era forte e iria superar.
Naquele momento eu me senti o pior amigo de todo o universo, por que sim, eu sabia o quanto ela tinha sofrido com tudo isso e o quanto ela ainda sofria.
Sabia que talvez ela assim como eu fosse a que mais sofria.
Sabia que ela estava completamente desolada presa na casa do Taylor sem poder ver a Bia por que ainda tentavam mata-la, e sabia também que ela estava absurdamente preocupada com a amiga e nos ligava todos os dias para saber se havia alguma novidade.
Sim, eu sabia de tudo isso e mesmo assim agi como um idiota.
Soltei um suspiro longo e seguida abaixei a cabeça antes de me sentar em uma cadeira próxima.
Apoio meus cotovelos no joelho e tapo meu rosto com as mãos, bagunçando um pouco meus cabelos, antes de voltar a olhá-la me sentindo tremendamente culpado.

Bela Amizade - Trilogia Belas (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora