Capítulo 24 - Bia

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Algum tempo havia se passado, agora estávamos perto do final do ano letivo, e eu estava dando graças a Deus por isso.
Não via a hora de terminar os estudos e estar em paz.
Eu havia acordado com uma sensação esquisita hoje, como se algo fosse acontecer.
Quando olhei pela janela o dia estava estranho, nem sol, nem chuva, mas algo naquele dia me fazia ter calafrios.
Era sábado, então assim que acordei liguei para o Edu como um costume nosso.
_Bom dia amor. - ele atendeu rapidamente e um sorriso bobo tomou meu rosto.
_Bom dia príncipe.
_Dormiu bem?
_Sim, e sonhei conosco. - sorri.
_Huum, interessante. Me fala desse sonho.
_Ah eu não sei... - disse tentando me lembrar. - O começo era meio estranho era como se estivéssemos afastados e nos reecontrávamos depois de muito tempo, mas ainda nos amávamos. E tinha um monte de gente em volta...- disse tentando me lembrar de mais algo. - Ah e eu estava grávida! - disse rapidamente.
_De quem? - perguntou confuso, e eu sorri.
_De você, é claro.
_ Mas como se...
_Sonhos não fazem sentido Edu.- ele sorriu.
_Esta certo, fico feliz então. Seremos papais.
_Claro que seremos. - disse óbvia. E ele sorriu do outro lado da linha. Suspirei. - Lembro também de uma dor muito grande, mas não lembro o por quê...- disse.
_Bom... esse sonho está ficando muito melancólico para o meu gosto. - Edu disse e eu sorri.
_Estou com saudades.
_Você podia dormir comigo hoje. - ele disse, me fazendo sorrir.
_Eu adoraria. Vou ver com minha mãe.
_Tudo bem meu amor, mas... Meus pais não estão em casa hoje. - disse e minhas pernas tremeram mesmo comigo estando deitada.
_Ah Edu!- falei quase que gemendo seu nome. Ele riu do outro lado da linha.
_Não me chama assim, se não eu não me controlo. - quem riu dessa vez foi eu.
_Vou mais tarde na Isa. - disse mudando de assunto. - Eu, ela e a Manu combinamos de ver um filme. Você vem?
_Acho que hoje não meu amor, tenho que resolver algumas coisas na rua com meu pai e também vou a academia. E é bom que seja um programa só de garotas dessa vez. Para vocês falarem mal de mim. - eu ri.
_Nunca falaríamos mal de você.
_Mas falariam de mim? - sorri.
_Isso com certeza.
Pouco depois nos despedimos na ligação e eu levantei tomando um banho, escovando os dentes e descendo para tomar café da manhã.
Já era tarde e meus pais e o Arthur provavelmente já haviam se alimentado e faziam alguma coisa em algum canto da casa. A Cida saiu da cozinha e deu um sorriso assim que me viu.
_Bom dia menina.
_Bom dia Cidinha.
_Vou aproveitar que já acordou e vou arrumar o seu quarto. - acenei positivamente enquanto mordia um pedaço de torrada com geleia de morango. A Cida não disse mais nada, apenas subiu as escadas e eu sabia que não deveria ir ao quarto até que ela terminasse.
Dei um suspiro sonolento enquanto comia, um sono enorme tomava conta de mim mas eu estava mais do que acostumada com ele.
Ouvi passos na escada e olhei para trás.
_Bom dia filha.
_Bom dia. - respondi minha mãe, ela tinha um tablet na mão, olhando algo muito interessada. Não perguntei o que era por que já imaginava que tinha a ver com o trabalho dela e nada relacionado ao trabalho dela me interessava.
Minha mãe sentou em uma das cadeiras da mesa, muito atenta ao que fazia. Mordi mais um pedaço da torrada.
_Daqui a pouco vamos levar o Arthur ao shopping, para ele brincar um pouco e vamos comer por lá, você quer ir? - minha mãe perguntou olhando por alguns segundos para mim. Ela parecia ter receio de falar comigo.
_Já marquei de ir para a casa da Isa hoje. - minha mãe acenou positivamente, como se não fosse uma novidade.
_ Eu sei que nossa relação não é das melhores, mas você ao menos podia fingir para o seu irmão. Você nunca sai com a sua família. - dei um suspiro cansada, desinteressada.
_Já disse que já tenho compromisso. - minha mãe revirou os olhos e voltou a encarar o tablet.
Tomei um gole do meu suco de laranja e voltei a comer calmamente. Minha mãe não voltou a falar, continuava encarando o tablet mas parecia perdida no seu mundo e não focada no trabalho como geralmente.
_Vou dormir no Edu hoje. - minha mãe levantou os olhos para me encarar como uma expressão séria.
_Pensei que iria para a casa da Isabela.
_Sim, mas depois eu vou para o Edu. - dei de ombros e minha mãe deu um suspiro cansado.
_Na minha época as garotas não dormiam na casa dos namorados.
_Na sua época as pessoas deveriam ser bem hipócritas. - minha mãe friccionou os olhos .
_Não é hipocrisia a virtude de uma mulher ser mais valorizada.
_Ah tá, e você vai me falar agora que você casou virgem? - minha mãe soltou um suspiro pesado.
_Eu não casei virgem, mas seu pai foi, é, e vai continuar sendo o único homem da minha vida. E a relação sexual só aconteceu depois de eu ter certeza disso. Não é essa coisa banalizada de hoje em dia.
_Mas eu também tenho certeza que o Edu é o homem da minha vida. -minha mãe me encarou descrente. - E nós só transamos depois que tivemos essa certeza. - completei.
Ok, talvez eu tenha omitido que isso foi por que o Edu não quis que acontecesse antes. Mas tecnicamente ele sempre foi o homem da minha vida certo? Mesmo que antes isso não fosse tão claro para mim, e mesmo que, assim como minha mãe pensa, eu era do grupo que banalizava o sexo, mas isso era por quê eu não conhecia ainda o verdadeiro amor. Mas eu nunca admitiria isso para ela. 
_Você e o Edu estavam juntos a o quê um mês?
_Foi mais que isso. E o Edu não é qualquer pessoa. Ele é o Edu! Eu o conheço a praticamente a minha vida toda. - minha mãe suspirou.
_Eu sei, e é só por isso que eu vou deixar você dormir na casa dele. Por que é o Edu, e nós conhecemos ele e a família dele desde sempre. - dei um sorriso grande, sem conseguir conter. - Mas saiba que se fosse qualquer outro garoto a história não seria essa, não vou deixar minha filha na boca dos outros.
Eu sorri. Por que eu sabia, que aquele era o jeito dela de demonstrar sua preocupação comigo e por mais que nossa relação não fosse das melhores era bom saber que ela se importava.
_Os outros garotos não interessam. É o Edu mãe, não tem como não ser ele.
- disse enfiando um último pedaço de torrada na boca, antes de me levantar.
Minha relação com meus pais nunca foi muito boa, mas com minha mãe era pior.
Por que o meu pai... Ele era mais reservado mas eu entendia que esse era o jeito dele ser.
Mas minha mãe... Eu não concordava ou aceitava a sua ausência, ainda mais por que em momentos importantes da minha vida ela não esteve presente, e poxa!
Ela era minha mãe.
Mães devem estar sempre presentes, mães devem segurar as mãos das filhas e passar apoio quando nós estamos com medo ou nervosas; mães devem conversar com as filhas, mães devem se orgulhar das filhas por qualquer coisa...
Era assim com a Isa, e eu queria muito que fosse assim comigo. Mas nunca foi.
Minha mãe nunca estava lá para mim, talvez por isso, eu tenha sofrido tanto com a morte da Marina, a mãe da Isa. Por que apesar dela não ser minha mãe, ela sempre estava comigo e com a Isa quando a minha mãe não estava.
E talvez por toda essa ausência hoje, minha mãe se tornou uma estranha agora mim, alguém de quem sinto muita mágoa e raiva, por isso não consigo ter uma boa relação com ela.
Hoje me pareceu mais fácil conversar. E apesar de ser estranho, hoje nós não discutimos e eu gostei disso.
A verdade é que eu nunca me achava boa o suficiente para ser filha da fantástica Regina Beraldini.

Bela Amizade - Trilogia Belas (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora