— Eu não acredito nisso! Como você pôde negar ajuda para nosso pai? — Thiago gritou transtornado e eu revirei meus olhos.
— Eu não vou discutir com um adolescente revoltado. — Rebati no mesmo tom e minha mãe sentou pensativa na minha cama.
— Eu posso ser só um adolescente, mas jamais negaria ajuda para meu pai.
— É claro que não. Vocês se merecem. Por que não vai lá fazer o teste de compatibilidade? — Cuspi as palavras com ódio e ele me olhou incrédulo.
— Pois eu vou mesmo. Diferente de você que sempre disse que seria médica para salvar vidas e agora está cogitando deixar o próprio pai morrer.
— Parem vocês dois! — Minha mãe gritou e Guilherme nos olhou assustado. O pobre estava encolhido no canto do meu quarto, tentando entender a confusão.
— O pai vai morrer? — Perguntou com os olhos arregalados.
— Vai. A Julieta vai matar ele. — Thiago esbravejou e saiu chutando tudo pela frente até sair de vista, como um tornado.
— Você vai matar o pai, Julieta? — Gui perguntou chocado e eu respirei fundo. Me joguei na cama e fixei meu olhar no teto.
— A sua irmã não vai matar ninguém. Agora vá lavar as mãos para a gente jantar, anda. — Minha mãe ordenou e ele saiu correndo do meu quarto.
Todos os convidados estavam na sala, famintos pela ceia, curiosos pelos nossos gritos.
— Julieta, você tem certeza que é grave a situação dele? — Minha mãe perguntou e eu a encarei.
— A senhora acha que se não fosse grave ele iria vir atrás de mim? Samuel nunca pensou em nós. Nunca pensou no quanto sofremos com tudo que ele fez. Sempre só pensou nele próprio. — Respondi ácida e ela suspirou.
— Filha... Antes de qualquer coisa ele é seu pai. Se ele precisa de ajuda...
— Eu não vou ajudar e ponto final. — Afirmei convicta e ela ponderou por um breve instante.
— Se ele morrer...
— Se morrer é porque tinha que acontecer. Agora chega desse assunto. Eu vou dormir.
— Mas não vai nem participar da ceia com a gente?
— Eu não estou em clima de comemoração. Fui afastada do que mais amo na minha vida por causa do homem que mais odeio. Só quero dormir.
Minha mãe não parecia nada satisfeita com a nossa conversa, porém por hora ela deixou estar. Me deu um beijo de boa noite e saiu. Eu tranquei a porta e não preguei os olhos à noite toda.
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— Você quer falar mais sobre isso? — A psicóloga perguntou me analisando e eu neguei com a cabeça. — Sabe que desabafar faz bem, não sabe?
— Eu estou bem, não há motivos para não trabalhar hoje.
— Talvez você devesse aproveitar essa chance de descansar um pouco a mente. Eu acompanhei parte da situação mais cedo, você realmente estava bastante alterada. Eu aconselho que...
— Sofia, eu não quero ser indelicada. Me dê apenas o papel que preciso levar para o César e mostrar que estou apta a trabalhar. — Pedi e ela me olhou incerta por um momento.
— Tudo bem. — Pegou uma ficha, preencheu rapidamente as lacunas e carimbou. — Aconselho você a refletir nas questões que te cercam. Julieta, a vida nunca é fácil, com bagagem extra fica pior. — Insinuou e eu respirei fundo. Saí da sala dela sem dizer mais nada.
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Um Clichê Para Julieta
RomanceQuando William Shakespeare escreveu a história de Romeu e Julieta há meio milênio atrás, ele nem sequer imaginava a tradição que estava criando em tais nomes. Tal influência perdura até os dias atuais, principalmente no movimentado hospital de Santa...