Capítulo 18 _ Ninguém escapa das consequências

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Eu estava lendo o prontuário de um paciente quando ouvi alguém se aproximar rapidamente.

— Você destruiu minha vida! Sua intrometida! Por que foi contar para todos sobre minha relação com o Paulo? — Camille questionou furiosa.

— Camile, você não poderia mentir para sempre! Acalme-se! — Pedi vendo ela agitada, andando de um lado para o outro, chamando a atenção de alguns funcionários que estavam próximos.

Era simplesmente terrível ter que admitir isso, mas em noventa e nove por cento das confusões que aconteciam no hospital, eu estava envolvida em no mínimo noventa.

— Camile, foi melhor assim. Olha, você mesma disse que estava presa à pressão de ter que se casar e...

— Cala a boca! Não venha me dizer que quis me ajudar porque eu sei que é mentira! Me poupe desse seu teatrinho idiota! Eu vou acabar com você.

— A minha intenção não era te ajudar. Era apenas de livrar o Romeu de uma roubada. Ele achava que o Paulo fosse o melhor amigo dele e achava que iria se casar com uma mulher que o amava. Entretanto estava profundamente enganado. Afinal, vocês aproveitaram enquanto ele estava em coma para ficarem juntos, não é mesmo? — Cuspi as palavras com ódio e ela paralisou com lágrimas nos olhos.

— A situação é mais complicada que isso. — Murmurou abatida.

— Afinal o que você quer dizer com isso? Já é a segunda vez que você diz e...

— Eu estou grávida! — Disse de repente me deixando perplexa.

— Grávida?

— Sim. Esse é o problema. Eu estou esperando um filho. Minha relação com o Paulo vem de muito antes do acidente com o Romeu. Nós nos amamos. Eu tinha planos de me separar do Romeu... Mas agora... — Choramingou me fazendo ter palpitações.

— Espera! O... Esse filho é do Romeu? — Questionei receosa e ela suspirou secando as lágrimas.

— Eu... Eu não sei quem é o pai. — Assumiu me deixando preocupada.

— Mas que ótimo. — Ironizei respirando fundo. — Já pensou em fazer um teste de DNA? — Perguntei e ela me olhou assustada.

— Eu não posso fazer isso. Todos irão saber que...

— Todos já sabem, Camile. Não é mais segredo para ninguém que você ficou com os dois. Está mais do que na hora de você assumir seus erros e encarar as consequências dos seus atos. Não pode se esconder a vida inteira. Você traiu, errou e já foi descoberta. Pronto, acabou a história. Não precisa ficar se martirizando com medo do que as pessoas irão pensar. Afinal elas já estão pensando mesmo. Está na hora de você pensar no seu filho. Faça o exame e tire a dúvida de uma vez por todas. Pare de atrasar a sua vida e a vida dos outros. Pare de pensar apenas em você. — Falei firmemente e ela me olhou surpresa.

Após refletir um instante nas minhas palavras saiu do hospital sem mais nem menos. No fundo, Camile não parecia ser má pessoa. Apenas havia pegado todos os caminhos errados até ali.

— Julieta! Julieta! — Aconteceu algo terrível com a Helena. Vem comigo! — Informou e eu segui ela rapidamente.

Fiquei extremamente abalada quando me dei conta do que havia acontecido. Helena foi atingida por uma bala perdida na cabeça e estava em estado grave.

Por eu ter laços com a paciente e estar visivelmente nervosa, sem a miníma condição de operar, outro neurocirurgião tomou a frente da situação.

Em anos de carreira eu sempre soube exatamente o que fazer. E ali eu me senti totalmente imponente, parada observando a bala sendo retirada da cabeça da minha amiga. Uma cabeça cheia de planos e de sonhos.

As lágrimas quentes desceram velozes pelo meu rosto. Eu rezava mentalmente para que tudo pudesse terminar bem. Segurei a mão dela durante toda a cirurgia enquanto meu coração estava apertado no peito.

Assim que a cirurgia acabou saí da sala para pegar um pouco de ar e me surpreendi ao encontrar no corredor os pais de Helena.

Meu ódio era visceral. Eles me olhavam preocupados, a mãe parecia ter chorado horrores, já o pai parecia tentar se controlar. Os olhei furiosa, com milhares de palavras entaladas na garganta. Entretanto tive que manter meu profissionalismo.

— Como ela está? — A mãe perguntou desesperada e eu a olhei friamente.

— Correu tudo bem com a cirurgia. Conseguiram tirar a bala, porém agora é o momento mais crítico. Se ela...

— Se ela o quê? — O pai perguntou nervoso.

— Se ela sobreviver às próximas quarenta e oito horas, tudo irá se estabilizar.

A mãe precisou ser amparada pelo pai que continha as lágrimas. Me segurei fortemente para não dar lição de moral pelos dois terem abandonado Helena. Porém percebi que a vida já se encarregava de mostrá-los o quanto a filha era valiosa para eles. E principalmente, o quanto estavam errados ao serem contra quem ela era.
Me afastei em silêncio e os deixei com a terrível dor das consequências.

Um Clichê Para JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora