Ao sair do plantão, exausta e preocupada com Helena, meus pensamentos estavam conturbados. Tanto que não me dei conta que Romeu me esperava.
— Ei, está tudo bem? — Ele perguntou e eu o abracei o mais forte que podia.
Quando eu era criança meu pai me dizia que abraços eram como fortalezas que nos protegiam dos monstros debaixo da cama. Não demorou muito para eu descobrir que os monstros debaixo da cama não existiam. Entretanto a ideia de que abraços apertados podiam me proteger do medo, ainda era real para mim.
— O que houve com você? Está me deixando preocupado. — Ele insistiu e eu tentei segurar as lágrimas o máximo que pude. Expliquei para ele tudo que havia acontecido e ele continuou abraçado comigo. — Vai ficar tudo bem. Fica calma! Você disse que sua amiga sempre foi uma garota forte, não é mesmo? Ela vai tirar isso de letra. Você vai ver.
— Tomara. Eu não quero nem imaginar se ela...
— Shiuu! Não pense nisso! Pense positivo. — Me incentivou e eu concordei secando as lágrimas que insistiram em cair.
— Você tem razão. Desculpa por te atropelar com esse assunto. O que veio fazer aqui?
— Primeiro que não precisa se desculpar. Pode falar sobre o que quiser comigo. Segundo que... A Camile abriu o jogo sobre a gravidez. Sei que não é o melhor momento, entretanto você poderia nos ajudar com essa questão de DNA?
— Claro. Ajudo sim.
— Ótimo. Agora pare de chorar, por favor! — Falou secando minhas lágrimas. — Você é tão linda, sabia? Parece que eu te conheço a vida toda.
— As vezes me pergunto: será que quando você lembrar de tudo, irá se esquecer de mim? — Admiti receosa e ele fez carinho na minha bochecha até chegar no meu queixo, onde puxou delicadamente me fazendo encarar seus olhos.
— Eu jamais vou me esquecer de você, Julieta. — Afirmou tirando um sorriso involuntário dos meus lábios.
Ele era como o pedaço de céu azul em meio à tempestade. Nos beijamos e por um breve período de tempo pude me ausentar de todos os problemas que me assolavam.
— Posso te sequestrar hoje? — Pediu no meu ouvido.
— Desculpa, não estou no clima.
— Não é para isso, doutora. Eu só quero cuidar de você, afinal, nada mais justo que isso, pois você cuida de todos os pacientes e acaba esquecendo que você também é importante. Então, posso cuidar de você essa noite?
— O que tem em mente? — Perguntei curiosa e ele piscou para mim.
— Vamos?
Acabei concordando e seguimos para casa dele. Chegando lá soube que os pais deles tinham viajado para o interior, para explicar pessoalmente aos familiares sobre o cancelamento do casamento dele.
Romeu preparou um lanche delicioso para nós e depois que eu tomei banho e vesti uma camisa dele, deitei ao seu lado na cama. Meu coração estava dilacerado e ele me acolheu em seus braços, fazendo carinho nos meus cabelos.
— Agora descansa! Vai ficar tudo bem. — Sussurrou e eu fechei os olhos.
Em pouco tempo adormeci aninhada e tranquila em seus braços. Nunca imaginei que nossa primeira noite juntos fosse assim. E isso só provou uma coisa que eu adorei saber: o que sentíamos um pelo outro não era meramente atração. Era bem mais que isso.
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Após acordar maravilhosamente bem e de receber café da manhã na cama, era hora de voltar ao hospital.
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Um Clichê Para Julieta
RomanceQuando William Shakespeare escreveu a história de Romeu e Julieta há meio milênio atrás, ele nem sequer imaginava a tradição que estava criando em tais nomes. Tal influência perdura até os dias atuais, principalmente no movimentado hospital de Santa...