Ele continuou sustentando meu olhar e eu me encontrava muda. Romeu havia me pegado totalmente desprevenida.
— Eu... Não sei o que dizer... — Falei e ele pegou na minha mão sobre a mesa. Senti o mesmo tremor de quando ele fez aquilo pela primeira vez. Minha vontade era de dizer que também pensava nele mais vezes do que podia contar, entretanto eu não podia interferir na vida dele assim. Era inegável a forte atração que sentíamos um pelo o outro, mas ele era comprometido. Mesmo não se lembrado da própria noiva ela existia e iria esperar por ele futuramente no altar. Afastei minha mão da dele e quando ele estava prestes a dizer algo, o garçom trouxe os cardápios. Fizemos os pedidos que logo foram servidos. Agradecemos e jantamos em silêncio sepulcral.
Eu evitava à todo custo olhar para ele, entretanto por vezes perdia meu autocontrole e me deparava com seu olhar atencioso. Ele lançava um sorriso e meu coração bobo retumbava encantado.
Após a sobremesa decidimos ir embora. Ainda não tínhamos voltado a conversar, mesmo assim era visível como estávamos aproveitando a companhia um do outro.
— Quer uma carona? — Perguntei quando chegamos próximo do meu carro e ele me olhou daquela forma que me desmontava inteira.
— Vou pedir um táxi. — Respondeu convicto e confesso que murchei um pouco. Queria prolongar mais a noite ao lado dele, mesmo sabendo que não deveria. — Foi uma ótima noite, pena que estraguei tudo.
— Você não estragou nada... Apenas me pegou de surpresa. — Admiti encostando no meu carro e ele se aproximou, ficando de frente para mim.
— Me desculpe por ter sido inconveniente. — Falou olhando descaramente para meus lábios e eu sorri.
— Romeu, não devemos fazer isso. E você sabe.
— O que fazer quando o desejo é maior que a racionalidade? — Perguntou se aproximando mais e eu podia sentir a respiração dele na minha pele.
— O certo a se fazer... É... Droga, eu não consigo dar uma resposta sensata com você tão perto de mim. — Reclamei e ele sorriu me abraçando gentilmente.
Eu tentei empurrar ele, mas sem fazer força alguma. A luta maior era comigo mesma. Eu queria ele. E como queria.
— Não dá para evitar o inevitável, Julieta. E é inevitável desejar te beijar. — Sussurou com a voz rouca me fazendo perder brevemente o pouco de juízo que me restava.
— Romeu... — Murmurei e ele se aproximou dos meus lábios com tanta determinação que acabei me rendendo de vez.
Era tão errado beijá-lo, mas era certo ao mesmo tempo. O beijo aos poucos foi ganhando intensidade enquanto eu o abraçava mais forte. O perfume amadeirado dele junto com o calor dos seus braços ao redor da minha cintura fez eu me perder nele de vez. Ele desceu os lábios pelo meu queixo e quando me propus a quebrar o nosso contato, a boca dele voltou a tomar a minha em um beijo arrebatador.
Quando finalmente nos afastamos minha respiração irregular me entregava completamente. Observei os brilhantes olhos castanhos dele e isso foi tudo que pude ver antes de ser beijada novamente com ainda mais fervor.
— Isso... Não está certo. — Murmurei quando senti ele trilhando beijos suaves pelo meu pescoço.
— Mas está delicioso. — Afirmou sem saber que estava completando a frase que minha mente pensara.
— Preciso ir. — Anunciei subitamente conseguindo me desvencilhar dele e entrei no meu carro o mais rápido que pude.
Romeu se afastou um pouco e acenou sorridente para mim. Por que ele não facilitava as coisas?
Só parei de acelerar quando finalmente cheguei em casa. O coração aos pulos. Ainda sentia meus lábios quentes, ainda sentia o toque dele na minha pele como impressões eternas. Tentei afastar tais lembranças e entrei em casa, me deparando com Helena próxima à janela com o olhar distante.
— Ei, não deveria estar dormindo? Se não me engano suas aulas voltam amanhã, não é mesmo? — Questionei chamando a atenção dela.
— Sim. Primeiro dia de aula. — Respondeu cabisbaixa.
— Qual o problema? Está com receio de reencontrar a Yasmim?
— Também, mas não é só isso... Hoje encontrei acidentalmente com meu pai no supermercado. Fui ajudar sua mãe a fazer compras e... Ele fingiu que não me viu. Doeu tanto, Julieta. Por que eles me machucam assim? Por quê? — Contou chorosa e eu me aproximei dela a abraçando.
— Calma, dê tempo ao tempo. Um dia tudo vai se resolver.
— Você acha mesmo?
— Claro. Logo eles vão perceber a grande bobagem que estão cometendo, e vão descobrir que o que verdadeiramente importa é você. — Falei e ela deixou uma lágrima solitária violar o seu rosto abatido.
— Obrigada por tudo! — Murmurou triste.
— Não tem pelo o que agradecer. Agora vá descansar que amanhã é um novo dia. — Aconselhei e ela assentiu.
Agradeceu mais uma vez e foi dormir. E então foi a minha vez de tomar o lugar na janela e ser perturbada pelos meus pensamentos conturbados, enquanto observava as estrelas. Ah, Romeu... O que ele estava fazendo comigo?
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Um Clichê Para Julieta
RomanceQuando William Shakespeare escreveu a história de Romeu e Julieta há meio milênio atrás, ele nem sequer imaginava a tradição que estava criando em tais nomes. Tal influência perdura até os dias atuais, principalmente no movimentado hospital de Santa...